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Jornal da Unicamp - Março/Abril de 2000


Página 8

ENTREVISTA
Um grande time

Envolvido com pesquisas sobre regulação gênica em organismos superiores, o professor Gonçalo Guimarães Pereira, do Departamento de Genética do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, teve dúvidas quando o professor Antonio Carlos Boschero, então diretor do IB, o procurou para convencê-lo de que era extremamente importante a participação do Instituto no projeto Genoma-Xylella.
O pesquisador confessa que, a princípio, relutou. Afinal, por que se integrar a um projeto que pretendia seqüenciar um patógeno de plantas quando, na verdade, essa área de atuação tinha pouca - ou praticamente nenhuma - correlação com as pesquisas que vinham sendo desenvolvidas em seu Departamento?, questionava-se o professor. A resposta a essa pergunta surgiu rapidamente, como ele mesmo afirma na entrevista a seguir. Hoje, o professor tem absoluta convicção de que a participação na rede Onsa funcionou como um passaporte para a integração do Departamento de Genética do IB no projeto Genoma-Câncer, este sim intrinsecamente ligado ao trabalho desenvolvido no Departamento. "Os resultados só foram possíveis graças a um grande time", exulta.

Jornal da Unicamp – Como é que um pesquisador dedicado à área de regulação gênica de organismos superiores se envolve em um projeto ligado ao seqüenciamento genético de um fitopatógeno?

Gonçalo Pereira – O interesse, na verdade, foi mais do professor Antonio Boschero, na época diretor do IB, do que meu. Foi ele quem nos convenceu de que o Instituto não poderia ficar de fora de um projeto como o Genoma-Xylella. Confesso que, a princípio tive dúvidas sobre a importância desse projeto para o nosso laboratório, uma vez que um fitopatógeno, decididamente, não era nossa área de trabalho. Ao final, essa participação acabou se revelando extremamente estratégica para o IB e nós aprendemos demais com a rede Onsa. Aliás, tão - ou mais - importante que o trabalho em si, foi a capacitação dos pesquisadores brasileiros nessa área.

Jornal da Unicamp – Quantos departamentos do Instituto de Biologia se envolveram no projeto?

Gonçalo Pereira – Participaram efetivamente do projeto os departamentos de Biofísica, Parasitologia, Bioquímica e Genética.

Jornal da Unicamp – Vocês já haviam trabalhado em conjunto anteriormente?

Gonçalo Pereira – Não. Foi a primeira vez que se desenvolveu um projeto tão interdepartamental no IB. E, com a intenção de formar e treinar pessoal, nós trabalhamos com muitos alunos de iniciação científica, alguns alunos de doutorado e mestrado e contamos até com a participação de um aluno de segundo grau. A experiência foi extremamente positiva porque conseguimos transmitir a eles a noção de que nada é um "bicho de sete cabeças". Sempre enfatizávamos que tudo é tecnologia e, como tal, pode ser dominada.

Jornal da Unicamp – O senhor tinha alguma experiência anterior em seqüenciamento?

Gonçalo Pereira – Eu tinha uma noção clara do trabalho porque, enquanto fiz doutorado na Alemanha, havia lá um projeto Genoma sendo desenvolvido. Aliás, tratava-se do seqüenciamento da levedura de cerveja, o primeiro eucarioto – um organismo composto por células que possuem um núcleo – seqüenciado. Para mim, a novidade básica no projeto Genoma-Xylella era a utilização de um seqüenciador automático.

Jornal da Unicamp – O domínio dessa nova tecnologia e a experiência obtida foram decisivos para a participação do IB no projeto Genoma-Câncer?

Gonçalo Pereira – Sem dúvida. Acho que o seqüenciamento da Xylella realmente funcionou como um grande bate-bola, onde você tem uma oportunidade para começar a "contratar os jogadores" e consegue montar um grande time, apto a disputar uma Copa do Mundo. Graças ao projeto Xylella, hoje temos esse grande time: já sabemos quem é quem, já aprendemos a "dominar a bola", temos competência e capacidade para batalhar e competir com qualquer outro grupo do mundo em genoma. Tanto isso é verdade que nosso projeto Genoma-Câncer está se provando um dos mais produtivos do mundo. Por ter acompanhado de perto a experiência na Europa, posso afirmar que realmente estamos nos saindo muito melhor do que eles.

Jornal da Unicamp – Houve alguma grande preocupação em relação ao sucesso do projeto?

Gonçalo Pereira – No início, alguns grupos não tinham o costume de trabalhar em equipe e, por isso, sentiram dificuldades em dividir, em cooperar e em entender que, nesse tipo de projeto, ninguém ganharia nada sozinho. Ou seja, só haveria vitória se todos ganhassem. Como a experiência era completamente nova, ninguém sabia o que iria acontecer e todos temiam pelo sucesso do trabalho integrado. Então, houve uma mudança de mentalidade. Talvez esse tenha sido o grande ganho do projeto.

Jornal da Unicamp – Vocês passaram por algum momento extremamente crítico?

Gonçalo Pereira – Acho que não porque o papel do coordenador era justamente evitar esses momentos difíceis. Ainda hoje eu costumo dizer aqui no laboratório o seguinte: "Eu não acredito em Deus. Mas também não acredito no diabo". Ou seja, não existe mágica. Isso que fazemos é ciência, é um protocolo e esse protocolo tem que dar certo porque é feito para dar certo! Então, eu digo: "Se não está dando certo, o erro é seu. Acredite nisso! Porque, a partir do momento em que você acredita que o erro é seu, você deixa de acreditar em coisas do "além". Eu acho que aí entra a experiência do pesquisador. Seguir o protocolo é relativamente fácil, qualquer um pode aprender. Mas aqueles que não tiverem experiência vão apanhar muito mais. Uma das grandes vantagens da rede Onsa foi que as pessoas que tinham experiência conseguiram ajudar aquelas que não tinham. E, hoje, estou certo de que todos nós somos capazes de gerar sozinhos um projeto genoma.

Jornal da Unicamp – E como está caminhando o projeto Genoma-Câncer aqui no laboratório?

Gonçalo Pereira – Estamos envolvidos nesse projeto porque o laboratório tem interesse em regulação gênica, e o câncer é justamente um problema de regulação gênica. Nós agora obtivemos, junto à Fapesp, o equipamento mais moderno que existe no mundo para fazer chip de DNA, e toda a Unicamp deve se beneficiar com isso.

Jornal da Unicamp – Como funciona esse equipamento?

Gonçalo Pereira – É um equipamento que consegue avaliar a programação celular de um determinado organismo que tenha genes seqüenciados. Então, você vai, por exemplo, conseguir comparar a célula de um pulmão sadio com a célula de um pulmão tomado pelo câncer. E aí você vai poder perceber, por exemplo, que no pulmão canceroso há uma série de genes que não aparecem no pulmão normal. Isso nos levará à conclusão de que esses genes devem ser os responsáveis pelo processo, e portanto deverão ser os alvos para terapias anticâncer." (M.T.S.)


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