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Éticos

Quando o grande antropólogo Levi-Strauss escreveu sobre os mitos gregos, suas análises manifestaram alguns erros e muitos equívocos. Na época, o helenista Jean-Pierre Vernant criticou as afirmativas de Levi-Strauss, demonstrando os enganos cometidos. Qual a atitude do criticado? Agradeceu as notas opostas aos seus enunciados, e admitiu, em livros posteriores, os seus defeitos analíticos. Isto não diminui em nada o maior antropólogo francês do século 20, nem acrescentou um só milímetro à estatura científica de Vernant. O mundo intelectual sério, aquele que se pauta pelos valores éticos, procede assim. Os erros não significam, nele, escândalo, pois representam a outra face da verdade. Quem jamais erra, normalmente, ou se apega a acertos alheios, não raro ultrapassados pelo avanço da pesquisa, ou é um dogmático, que por não integrar uma seita exterior aos campi, cria no seu interior um tipo de seita, com verdades únicas e monocromáticas. Seitas não erram, porque jamais pesquisam.

A universidade não tem poderes porque não possui o monopólio da força física, do ordenamento jurídico, da taxação de excedente econômico. Ela integra o poder de Estado, mas no seu interior, nenhuma daquelas faces do poder está presente enquanto instrumentos à sua disposição. Por outro lado, a universidade não tem autoridade religiosa. Ela fala e age em nome do pensamento racional, passível de ser verificado e desmentido, sempre que novos elementos, lógicos ou empíricos, surjam no processo de pesquisa. Os maiores bens da universidade, pois, não se encontram nos governos civis ou nas práticas de uma hierarquia mística. Seus elementos essenciais residem na autoridade científica e na retidão ética.

Sem estes dois traços, ela perde a sua essência mais importante.

Apesar de todos os problemas vividos ao longo de todo o exame das ossadas de Perus, a Unicamp, hoje, mantém sua forma ética e sua competência científica, enquanto comunidade acadêmica. As críticas estão sendo observadas, para que os procedimentos internos da Universidade sejam corrigidos e melhorados.

A transparência tem sido uma constante por parte

da Unicamp. A publicação deste número do Jornal da Unicamp vem repetir e ampliar o que foi feito em várias situações, como a reunião ocorrida em maio de 2000, quando todos, das famílias aos professores, puderam falar ao público nacional. Este novo documento

servirá para que os estudiosos da vida brasileira tenham um poderoso meio de reflexão, e para que a luta democrática avance um pouco mais, rumo à democracia e ao respeito pelos direitos humanos no Brasil.

ROBERTO ROMANO
Comissão de Perícias da Unicamp


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