Jornal da Unicamp
Semana da Unicamp
Assine o
"Semana"
Divulgue seu
assunto
Divulgue seu
evento
Divulgue sua
Tese
Cadastro de
Jornalistas
Mídias
Sinopses dos
jornais diários
Envie
dúvidas e sugestões
|
1 2-3 4-5 6-7 8-9 10-11-12 13-14 15 16 17 18 19 20 21 22-23 24
Páginas 4 e 5
Dossiê
A
História corrigida
Nestas duas páginas, algumas informações
sobre desaparecidos políticos identificados e não
identificados pela perícia realizada na Unicamp. Os
dados sobre a vida e as circunstâncias da morte dos
militantes foram reproduzidos do livro Dossiê dos Mortos
e Desaparecidos Políticos a partir de 1964, editado pela
Companhia Editora de Pernambuco, 1995. Os esclarecimentos
relacionados à perícia são do médico-legista José
Eduardo Bueno Zappa, assessor técnico da Comissão de
Perícias da Unicamp.
IDENTIFICADOS
CEMITÉRIO DOM BOSCO
(da vala comum)
Frederico Eduardo Mayr
Militante do Movimento de Libertação Popular
(Molipo). Nasceu em Timbó, Santa Catarina, em 29 de
outubro de 1948. Baleado e preso pelos agentes do
DOI/Codi-SP em 23 de fevereiro de 1972, na Avenida
Paulista, em São Paulo. Levado às câmaras de tortura
do DOI/Codi, apesar de ferido com um tiro no abdômen.
Visto por outros presos recolhidos àquele órgão de
repressão, Mayr acabou torturado na chamada
"cadeira de dragão". Segundo depoimento destes
presos, foi torturado até a morte pelos integrantes da
Equipe C. Enterrado com nome falso no Cemitério Dom
Bosco, em Perus, seus restos mortais estavam na vala
comum. Identificados pela Unicamp, os restos mortais
foram enterrados no jazido da família, no Rio de
Janeiro, em 13 de julho de 1992.
Dênis Casemiro
Militante da Vanguarda Popular Revolucionária
(VPR), nascido em 9 de dezembro de 1942, na cidade de
Votuporanga (SP), esteve na lista dos desaparecidos
políticos até 13 de agosto de 1991. Trabalhador rural,
desenvolvia trabalho político próximo a Imperatriz,
Maranhão, onde cuidava de um sítio. Localizado e preso
pelo delegado Sérgio Fleury, em fins de abril de 1971,
foi trazido para o Dops/SP, sendo torturado por quase um
mês. Fuzilado pelo próprio Fleury em 18 de maio de
1971. Enterrado secretamente com os dados pessoais
alterados como meio de dificultar sua identificação. No
livro de registro de sepultamento do Cemitério Dom
Bosco, Casemiro teria 40 anos e demais dados ignorados.
Na realidade estava com 28 anos e todos os seus dados
constavam do atestado de óbito. Os restos mortais
encontravam-se na vala comum de Perus. Depois de
identificados pela Unicamp, em 13 de agosto de 1991,
foram enterrados em Votuporanga.
CEMITÉRIO DE CAMPO GRANDE
(SP)
Emanuel Bezerra dos Santos
Militante do Partido Comunista Revolucionário
(PCR), nasceu em 17 de junho de 1943 na praia de
Caiçara, município de São Bento do Norte (RN). Foi a
principal liderança do Comitê Universitário do PCR
naquele Estado. Preso com Manoel Lisboa de Moura em
Recife, no dia 16 de agosto. Ambos foram torturados no
Dops local durante alguns dias. O policial que os
torturou, Luís Miranda, enviou-os para o delegado
Sérgio Fleury, onde acabaram trucidados no terceiro
andar do Dops/SP. Segundo denúncia de presos políticos,
Santos teve arrancados os dedos, umbigo, testículos e
pênis. Foi enterrado como indigente no Cemitério de
Campo Grande, em São Paulo. No dia 13 de março de 1992,
seus restos mortais, depois de exumados, periciados e
identificados pela Unicamp, foram transladados para sua
terra natal.
CEMITÉRIO EM XAMBIOÁ
(TO)
Maria Lúcia Petit da Silva
Militante do Partido Comunista do Brasil (PC do
B), nasceu em Agudos (SP), em 20 de março de 1950.
Depoimentos publicados no livro Dossiê dos Mortos e
Desaparecidos Políticos a Partir de 1964, de
sobreviventes da guerrilha do Araguaia, onde Maria Lúcia
foi dada como desaparecida em 1972, acusam um cerco do
Exército aos guerrilheiros neste mesmo ano. As
testemunhas afirmam que a militante foi fuzilada por
tropa comandada pelo general Antônio Bandeira, da 3ª
Brigada de Infantaria. O Ministério da Marinha anunciou
que a guerrilheira "foi morta durante enfrentamento
na tarde do dia 16 de junho de 1972, próximo a Pau
Preto". Em 1991, familiares de mortos e
desaparecidos do Araguaia, juntamente com membros da
Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo
e a equipe de legistas da Unicamp, estiveram no
cemitério da cidade de Xambioá, onde exumaram duas
ossadas. Uma delas, de mulher, estava enrolada num
pedaço de pára-quedas. A ossada foi trazida para a
Unicamp e, cinco anos depois, identificada como sendo de
Maria Lúcia.
CEMITÉRIO DOM BOSCO
(fora da vala comum)
Antonio Carlos Bicalho Lana
Dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN),
nasceu em Ouro Preto, no dia 2 de março de 1948. Preso
em novembro de 1973, no posto rodoviário do Canal 1, em
Santos, junto com sua companheira Sônia Maria de Moraes
Angel Jones. Agredido no momento da prisão por vários
policiais, recebeu uma coronhada de fuzil na boca. O
corpo mutilado foi autopsiado pelos legistas Harry
Shibata e Paulo Augusto de Queiroz Rocha, que descreveram
as trajetórias das balas sem nada indicar sobre sinais
evidentes de torturas, como comprovam fotos encontradas
no Dops. Seus restos mortais foram exumados em 1990, com
o apoio do governo municipal de Luiza Erundina e
transladados para Ouro Petro, em 16 de agosto de 1991.
Helber José Gomes
Goulart
Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN),
nasceu em Mariana, Minas Gerais, em 19 de setembro de
1944. Partiu para São Paulo em 1971, já como
clandestino. Foi preso e torturado até a morte por
agentes do DOI/Codi-SP. A versão oficial é de morte em
tiroteio, às 16 horas do dia 16 de julho de 1973, nas
imediações do Museu do Ipiranga. Entretanto, Goulart
foi visto no DOI/Codi por diversos presos políticos
antes de 16 de julho, com a barba por fazer há vários
dias. Enterrado como indigente no Cemitério de Perus.
Seus restos mortais foram exumados pelos familiares,
identificados pela Unicamp e, em 13 de julho de 1992,
transladados para Mariana, sendo sepultados no Cemitério
de Santana, após missa celebrada por dom Luciano Mendes
de Almeida. O relatório da Marinha mantém a falsa
versão de morte em tiroteio.
Sônia Moraes
Angel Jones
Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN),
nasceu em 9 de novembro de 1946, em Santiago do
Boqueirão, Rio Grande do Sul. Morta aos 27 anos, em São
Paulo. Em 15 de novembro de 1973, alugou um imóvel em
São Vicente, junto com Antonio Carlos Bicalho Lana, com
quem se uniu. Seu apartamento passou a ser vigiado, sendo
presa com o companheiro, no mesmo mês, por agentes do
DOI-Codi-SP, tendo o Exército divulgado a notícia de
que morrera em combate. Foi assassinada em 30 de novembro
de 1973. Para sepultar os restos mortais de Sônia, sua
família teve de fazer seis exumações. Como a última
apresentava um crânio sem o corte característico de
autópsia, a família não aceitou as ossadas, por
desconfiar que seria mais um engano do IML de São Paulo.
Em depoimentos realizados na CPI da Câmara de São
Paulo, Harty Shibata declarou que a descrição no laudo
não corresponde à verdade. Identificados pela Unicamp,
os restos mortais foram transladados para o Rio de
Janeiro em 11 de agosto de 1991.
NÃO
IDENTIFICADOS
CEMITÉRIO DOM BOSCO
(da vala comum)
Hiroaki Torigoi
Dirigente do Movimento de Libertação Popular
(Molipo), nascido em Lins. Foi morto aos 28 anos de
idade, em São Paulo. Baleado e preso em 5 de janeiro de
1972, na Rua Albuquerque Lins, bairro de Santa Cecília,
por uma equipe do DOI/Codi chefiada pelo delegado Otávio
Gonçalves Moreira Júnior. Levado imediatamente para as
câmaras de tortura daquele departamento, seus ferimentos
impossibilitaram que fosse pendurado no pau-de-arara.
Assim mesmo, Hiroaki Torigoi acabou torturado em uma cama
de campanha, depois de ser amarrado para receber
espancamentos, choques elétricos e outras violências.
Foi enterrado como indigente, com o nome falso de
Massahiro Nakamura, em 7 de janeiro de 1972, na rua 15,
sepultura 65 do cemitério em Perus. Seu irmão, ao fazer
o reconhecimento fotográfico no DOPS, em 20 de janeiro
de 1972, contou oito tiros, sendo três na face e cinco
no tórax. As três supostas ossadas que poderiam ser de
Torigoi se encontram no IML de São Paulo, sob os
cuidados do médico-legista Daniel Muñoz. Em relatório
final sobre o encerramento dos trabalhos de perícia, a
Unicamp afirma que as três ossadas não são
compatíveis com as do desaparecido.
Luiz José da
Cunha
Dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN),
nasceu em 2 de setembro de 1943, em Recife. Foi fuzilado
aos 27 anos, pela equipe especial do DOI/Codi-SP, altura
do número 2.200 da Av. Santo Amaro, em São Paulo, no
dia 13 de julho de 1973. Versão oficial: ao ser abordado
sob atitude suspeita, reagiu a tiros, tentando tomar à
força um carro ocupado por duas jovens. Enterrado em
Perus como indigente. Três ossadas encontradas em 1991
foram periciadas na Unicamp, sem confirmação de
identidade por falta de subsídios, e estão atualmente
no IML de São Paulo, sob os cuidados do médico legista
Daniel Muñoz. Uma das ossadas exumadas não possui
crânio.
CEMITÉRIO DE XAMBIOÁ
Francisco Manoel Chaves
Militante do Partido Comunista do Brasil (PC do
B), negro, de origem camponesa, desaparecido na guerrilha
do Araguaia. Sua suposta ossada foi encontrada junto com
a de Maria Lúcia Petit da Silva no Cemitério de
Xambioá. Expulso da Marinha em 1937. Após o golpe
militar de 1964, perseguido, foi residir na região de
Caianos e se incorporou às Forças Guerrilheiras do
Araguaia, já com mais de 60 anos de idade. Morto durante
combate em 21 de setembro de 1972. A ossada não foi
identificada pela Unicamp como sendo de Chaves e se
encontra atualmente com o médico-legista Daniel Muñoz,
no IML de São Paulo.
OUTROS NOMES FORNECIDOS PELOS FAMILIARES
QUE ESTARIAM NA VALA COMUM DE PERUS
Flávio de
Carvalho Molina
Militante do Movimento de Libertação Popular
(Molipo), nasceu em 8 de novembro de 1947. Preso no dia 6
de novembro de 1971, em São Paulo, por agentes do
DOI/Codi, em cujas dependências foi torturado até a
morte. Tinha 24 anos. Outros presos políticos
testemunharam que Molina morreu no dia seguinte à
prisão. Somente em julho de 1979, a família, por
investigação própria e com o apoio dos Comitês
Brasileiros de Anistia, tomou conhecimento do assassinato
por meio de documentos oficiais anexados em processo da
2ª Auditoria da Marinha. Jamais houve um comunicado,
mesmo que informal, aos familiares. Sepultado na cova 14,
rua 11, quadra 2, gleba 1 de Perus, como indigente, nome
falso e o registro 3.054. Transferido para a vala comum
em 1976. Ossada não confirmada como compatível
encontra-se no IML de São Paulo, sendo periciada pelo
médico-legista Daniel Muñoz.
Dimas Antonio
Casemiro
Dirigente do Movimento Revolucionário
Tiradentes (MRT). Nasceu em 6 de março de 1946, na
cidade de Votuporanga (SP). Era impressor gráfico.
Fuzilado sumariamente aos 25 anos de idade, quando
chegava em sua casa, no Ipiranga, São Paulo, em 17 de
abril de 1971. Enterrado como indigente no Cemitério de
Perus. Seus restos mortais provavelmente foram para a
vala comum do mesmo cemitério. Casado, tinha um filho.
Francisco José de
Oliveira
Militante do Movimento de Libertação Popular
(Molipo). Nascido em Cabrália Paulista, em 22 de
fevereiro de 1943. Morto no dia 5 de novembro de 1971, na
Rua Turiassú, bairro da Pompéia, em São Paulo. Ele e
sua companheira foram surpreendidos em uma lanchonete.
Houve um violento tiroteio, no qual Oliveira acabou
ferido gravemente. A mulher conseguiu fugir. Sepultado
como indigente no Cemitério Dom Bosco, foi colocado na
vala comum. O documento 30-Z-165-118 arquivado no
Dops/SP, localizado ao lado de uma cópia identidade com
o nome Dario Marcondes, registra à máquina nome,
filiação e data de nascimento de Francisco José de
Oliveira. No entanto, a certidão de óbito está em nome
de Dario, comprovando a intenção dos órgãos de
repressão em manter escondida a verdadeira identidade do
morto.
Grenaldo de Jesus
da Silva
Nasceu em 11 de abril de 1941 no Maranhão e foi
morto aos 31 anos de idade. Tinha sido expulso da marinha
em 1964. Ao tentar seqüestrar um avião que realizava o
vôo São Paulo-Porto Alegre, acabou dominado por agentes
do DOI/Codi-SP. Mesmo já estando imobilizado pelos
policiais, Silva acabou executado com um tiro na cabeça.
O assassinato ocorreu em 30 de maio de 1972, no Aeroporto
de Congonhas, e foi contado em detalhes pelos agentes aos
prisioneiros políticos que estavam recolhidos à época
no DOI/Codi. A versão oficial, que consta da
requisição de exame necroscópico feita pelo delegado
Alcides Cintra Bueno Filho, é de suicídio.
Nunca
mais
Dom Paulo
Evaristo Arns*
Tocar nos corpos para machucá-los e matar.
Tal foi a infeliz, pecaminosa e brutal função de
funcionários do Estado em nossa pátria brasileira após
o golpe militar de 1964.
Tocar os corpos para
destruí-los psicologicamente e humanamente. Tal foi a
tarefa ignominio-sa de alguns profissionais da Medicina e
de grupos militares e paramilitares durante 16 anos em
nosso país. Tarefa que acabamos exportando ao Chile,
Uruguai e Argentina. Ensinamos outros a destruir e a
matar. Lentamente e sem piedade. Sem ética nem
humanismo.
Macular pessoas e
identidades. Perseguir líderes políticos e estudantis.
Homens e mulheres, em sua maioria jovens. É destas dores
que trata este livro. É desta triste história que nos
falam estas páginas marcadas de sangue e dor.
Vejo o próprio Cristo
crucificado nestas páginas e suas sete chagas de novo
abertas diante de nossos olhos. Nossa missão humana e
cristã ainda não terminou, pois ainda existem corpos na
cruz. Existem pessoas injustamente torturadas em novos
antros de tortura. Os impérios do poder
especializaram-se nas armas e nos métodos. Dos pregos,
correias e espinhos que mataram Jesus em Jerusalém,
passou-se às fitas de aço, fios elétricos forjando
cruzes maiores e mais pesadas. Com a inteligência do
demônio e a vontade deliberada de fazer o mal.
Em documento publicado
pelo Comitê Brasileiro pela Anistia, secção do Rio
Grande do Sul, sob os auspícios da Assembléia
Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, em 1984,
tínhamos já uma lista incompleta de 339 mortos ou
desaparecidos sob o domínio da macabra Ideologia da
Segurança Nacional, fiel suporte das ditaduras militares
latino-americanas.
Hoje temos em mãos
documento mais longo, fruto de séria pesquisa dos
próprios familiares nestes últimos dez anos. Fatos
novos surgiram. Documentos e valas foram abertas e
revelados com muita luta e muito empenho. Também com
muita dor e muito sofrimento.
Vejo, com o olhar da fé,
nestes que morreram assassinados, também surgir a
esperança na ressurreição. Deles e de toda a nossa
gente brasileira. Pois, como dizia santamente nosso amigo
e mártir, Monsenhor Oscar Arnulfo Romero y Gadamez,
Arcebispo assassinado pelas mesmas forças de repressão
em El Salvador:
"Se me matarem
ressuscitarei no povo Salvadorenho".
Sim, para os que crêem e
têm fé, a certeza da morte nos entristece, mas a
promessa da imortalidade nos consola e reanima. A certeza
de que Deus Pai não suporta ver seus filhos amados na
cruz, nos confirma a ressurreição como o grande gesto
vitorioso diante de todos os poderes da morte, do mal e
da mentira. Pois, como diz o Apóstolo Paulo:
"Realmente está
escrito: Por tua causa somos entregues à morte todo o
dia, fomos tidos em conta de ovelhas destinadas ao
matadouro. Mas, em tudo isso vencemos por Aquele que nos
amou"" (Rm 8,36-37).
Ainda há muito o que
fazer para que toda a verdade venha à tona.
Ainda há muito que fazer
para que nossa juventude jamais se esqueça destes tempos
duros e injustos.
Ainda há muito por
esclarecer para que a verdade nos liberte e para que não
tenhamos "aquele" Brasil nunca mais.
Há ainda muito amor e
compaixão em nossos corações capazes de vencer toda
dor e todo sofrimento que nos infligiram.
Existem ainda muitos
ombros amigos junto aos familiares dos mortos e
desaparecidos que tornaram palpável e possível a
esperança. E que afastaram o desânimo e o medo nas
horas difíceis.
Ombros largos como os do
grande Senador Teotônio Vilela até ombros femininos e
corajosos da impecável prefeita Luiza Erundina de Sousa.
Ombro de apoio
incondicional da nossa Comissão de Justiça e Paz de
São Paulo, até o próprio ombro chagado e vitorioso do
Cristo, visível em sua Igreja, seus discípulos e seus
mártires. Carregando em sua cruz a cruz destes que
morreram pela justiça em nossa terra. Carregando nestas
cruzes a cruz do próprio Cristo.
Este é um livro de dor.
É um memorial de melancolias. Um livro que fere, e
machuca, mentes e corações. Um livro para fazer pensar
e fazer mudar o que deve ainda ser mudado e pensado em
favor da vida e da verdade.
Um livro dos trinta anos
que já se passaram.
Mas também um livro que
faça a verdade falar, gritar e surgir como o sol em
nossa terra. Um livro que traga muita luz e
esclarecimento nos anos que virão.
Um livro, vários brados,
uma certeza verdadeira. Nunca mais a escuridão e as
trevas. Nunca mais ao medo e à ditadura. Nunca mais à
exclusão e à tortura. Nunca mais à morte. Um sim à
vida!
São Paulo, 21 de novembro
de 1994
*Dom Paulo Evaristo
Arns, à época Arcebispo Metropolitano de São Paulo e
hoje Arcebispo Emérito, assina este prefácio do livro
Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a partir de
1964, Companhia Editora de Pernambuco, 1995.
|