Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 242 - de 1º a 07 de março de 2004
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Tese mostra potencial
energético do biogás

MANUEL ALVES FILHO

Adriano Viana Ensinas: é importante aproveitar a capacidade de produção futura do aterro

O biogás gerado pela decomposição do lixo disposto no Aterro Sanitário Delta, em Campinas, tem grande potencial energético, embora ainda não exista projeto consolidado para o seu aproveitamento. A conclusão faz parte da dissertação de mestrado elaborada por Adriano Viana Ensinas, apresentada recentemente à Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp. Conforme o estudo, o aterro deve atingir a capacidade máxima de produção um ano após o seu fechamento, previsto para ocorrer em junho de 2006. O pesquisador estima que estarão sendo produzidos no local, no período de pico, perto de 15 milhões de metros cúbicos de metano, um dos componentes do biogás, que equivalem a 4 MW de energia elétrica.

Ao se decompor, a matéria orgânica presente no lixo gera o biogás, que é constituído basicamente por metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). A proporção de cada gás na mistura depende, entre outros parâmetros, do tipo de material degradado. No caso do Aterro Delta, a proporção encontrada por Ensinas foi a seguinte: 55% de CH4, 44% de CO e 1% de “outros” gases. É justamente o metano, combustível nobre obtido após um processo de separação das demais substâncias, que pode ser empregado para movimentar motores automotivos ou geradores de energia elétrica, para citar as aplicações mais conhecidas. Até hoje, porém, o biogás produzido pelo aterro campineiro tem sido desperdiçado. É queimado em “poços de monitoramento”, como medida de segurança. O aterro recebe diariamente cerca de 800 toneladas de dejetos, a grande maioria de origem domiciliar.

Segundo Ensinas, o ideal teria sido dar uma destinação econômica ao biogás desde o primeiro ano de operação do Delta. Como isso não foi feito, resta aproveitar a capacidade de produção futura do aterro. Pelos cálculos do pesquisador, o pico de geração de biogás deverá ocorrer em 2007, um ano depois da suspensão das atividades. Depois, a tendência é que o volume de combustível vá sendo reduzido gradativamente. “Por isso, é preciso ter um projeto que leve em conta essa característica. Para cada momento, o combustível deverá ter uma indicação, de modo que o investimento seja economicamente viável”, explica.

Assim, confirmadas as projeções feitas por Ensinas, o Delta estará produzindo biogás suficiente para gerar 4 MW de energia elétrica entre os anos de 2007 e 2009. Depois, esse volume cairá para 3MW (2010 a 2016), 2MW (2017 a 2027) e 1 MW (2018 a 20045). Projetos bem-sucedidos de aproveitamento do biogás, implementados sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, levam essa energia através de redes de transmissão até indústrias localizadas nas proximidades dos aterros, que pagam por ela. “Aqui, poderíamos fazer o mesmo”, cogita o autor da dissertação, orientada pelo professor Waldir Antonio Bizzo, da FEM. Mais do que lançar de uma fonte energética alternativa e barata, o aproveitamento do biogás também traz importantes ganhos ambientais, ressalta o pesquisador.

A queima pura e simples do combustível, como vem sendo feita atualmente, contribui para o aumento da poluição atmosférica e, conseqüentemente, para a ampliação do efeito estufa, fenômeno responsável pelo aquecimento gradual do planeta. “Existem empresas estrangeiras que estão muito interessadas no biogás brasileiro. Elas sabem que, por meio do Protocolo de Kyoto, podem obter recursos para desenvolver projetos que transformam o metano, um gás que concorre para o efeito estufa, em dióxido de carbono”, adverte o autor da dissertação. Apenas para se ter uma idéia do potencial da energia vinda do lixo, basta saber que os Estados Unidos têm atualmente algo como 500 projetos de aproveitamento de biogás gerado por aterros sanitários, administrados tanto pelo poder público como pela iniciativa privada. “No Brasil, infelizmente, ainda não despertamos para essa importante alternativa”, lamenta Ensinas.

De acordo com ele, a defesa da sua dissertação foi acompanhada por representantes da Prefeitura de Campinas. Uma cópia do trabalho será encaminhada à Administração Municipal, para que os gestores públicos tenham subsídios para orientar a condução de um eventual programa de aproveitamento do biogás produzido pelo Delta. A pesquisa desenvolvida por Ensinas contou com o apoio da própria Prefeitura de Campinas e do Centro de Estudos de Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP.

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