Tese mostra potencial
energético do biogás
MANUEL
ALVES FILHO
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Adriano Viana Ensinas: é importante aproveitar
a capacidade de produção futura
do aterro |
O biogás
gerado pela decomposição do lixo disposto
no Aterro Sanitário Delta, em Campinas, tem
grande potencial energético, embora ainda não
exista projeto consolidado para o seu aproveitamento.
A conclusão faz parte da dissertação
de mestrado elaborada por Adriano Viana Ensinas, apresentada
recentemente à Faculdade de Engenharia Mecânica
(FEM) da Unicamp. Conforme o estudo, o aterro deve
atingir a capacidade máxima de produção
um ano após o seu fechamento, previsto para
ocorrer em junho de 2006. O pesquisador estima que
estarão sendo produzidos no local, no período
de pico, perto de 15 milhões de metros cúbicos
de metano, um dos componentes do biogás, que
equivalem a 4 MW de energia elétrica.
Ao se decompor,
a matéria orgânica presente no lixo gera
o biogás, que é constituído basicamente
por metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2).
A proporção de cada gás na mistura
depende, entre outros parâmetros, do tipo de
material degradado. No caso do Aterro Delta, a proporção
encontrada por Ensinas foi a seguinte: 55% de CH4,
44% de CO e 1% de outros gases. É
justamente o metano, combustível nobre obtido
após um processo de separação
das demais substâncias, que pode ser empregado
para movimentar motores automotivos ou geradores de
energia elétrica, para citar as aplicações
mais conhecidas. Até hoje, porém, o
biogás produzido pelo aterro campineiro tem
sido desperdiçado. É queimado em poços
de monitoramento, como medida de segurança.
O aterro recebe diariamente cerca de 800 toneladas
de dejetos, a grande maioria de origem domiciliar.
Segundo Ensinas,
o ideal teria sido dar uma destinação
econômica ao biogás desde o primeiro
ano de operação do Delta. Como isso
não foi feito, resta aproveitar a capacidade
de produção futura do aterro. Pelos
cálculos do pesquisador, o pico de geração
de biogás deverá ocorrer em 2007, um
ano depois da suspensão das atividades. Depois,
a tendência é que o volume de combustível
vá sendo reduzido gradativamente. Por
isso, é preciso ter um projeto que leve em
conta essa característica. Para cada momento,
o combustível deverá ter uma indicação,
de modo que o investimento seja economicamente viável,
explica.
Assim, confirmadas
as projeções feitas por Ensinas, o Delta
estará produzindo biogás suficiente
para gerar 4 MW de energia elétrica entre os
anos de 2007 e 2009. Depois, esse volume cairá
para 3MW (2010 a 2016), 2MW (2017 a 2027) e 1 MW (2018
a 20045). Projetos bem-sucedidos de aproveitamento
do biogás, implementados sobretudo na Europa
e nos Estados Unidos, levam essa energia através
de redes de transmissão até indústrias
localizadas nas proximidades dos aterros, que pagam
por ela. Aqui, poderíamos fazer o mesmo,
cogita o autor da dissertação, orientada
pelo professor Waldir Antonio Bizzo, da FEM. Mais
do que lançar de uma fonte energética
alternativa e barata, o aproveitamento do biogás
também traz importantes ganhos ambientais,
ressalta o pesquisador.
A queima
pura e simples do combustível, como vem sendo
feita atualmente, contribui para o aumento da poluição
atmosférica e, conseqüentemente, para
a ampliação do efeito estufa, fenômeno
responsável pelo aquecimento gradual do planeta.
Existem empresas estrangeiras que estão
muito interessadas no biogás brasileiro. Elas
sabem que, por meio do Protocolo de Kyoto, podem obter
recursos para desenvolver projetos que transformam
o metano, um gás que concorre para o efeito
estufa, em dióxido de carbono, adverte
o autor da dissertação. Apenas para
se ter uma idéia do potencial da energia vinda
do lixo, basta saber que os Estados Unidos têm
atualmente algo como 500 projetos de aproveitamento
de biogás gerado por aterros sanitários,
administrados tanto pelo poder público como
pela iniciativa privada. No Brasil, infelizmente,
ainda não despertamos para essa importante
alternativa, lamenta Ensinas.
De acordo
com ele, a defesa da sua dissertação
foi acompanhada por representantes da Prefeitura de
Campinas. Uma cópia do trabalho será
encaminhada à Administração Municipal,
para que os gestores públicos tenham subsídios
para orientar a condução de um eventual
programa de aproveitamento do biogás produzido
pelo Delta. A pesquisa desenvolvida por Ensinas contou
com o apoio da própria Prefeitura de Campinas
e do Centro de Estudos de Economia Aplicada da Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da
USP.