| |
Programa integra estudantes latino-americanos
Vinte alunos da Unicamp vivenciarão
este ano experiência acadêmica em quatro
países da América do Sul.
MANUEL
ALVES FILHO
|
O professor Luiz Cortez, da Coordenadoria de Relações
Institucionais e Internacionais (Cori) da Unicamp:
As escolas são de reconhecida qualidade |
A oportunidade de realizar parte
dos estudos no exterior e de entrar em contato com
uma cultura distinta da brasileira, outrora uma exclusividade
de docentes e estudantes de pós-graduação,
também está sendo propiciada aos alunos
de graduação, em amplitude cada vez
maior, por algumas das melhores universidades brasileiras.
A Unicamp, por exemplo, tem conferido especial atenção
à participação de seus estudantes
em atividades deste tipo, dentro da sua política
de relações internacionais. O objetivo
da iniciativa é promover tanto a internacionalização
da instituição quanto a integração
entre os diferentes povos, notadamente os da América
do Sul. Um programa de intercâmbio que vem gerando
resultados altamente positivos nesse sentido é
o denominado Escala Estudantil, concebido
pela Associação das Universidades do
Grupo Montevidéu (AUGM), da qual a Unicamp
faz parte. Este ano, 20 jovens (dez por semestre)
serão enviados à Argentina, Uruguai,
Paraguai e Chile, onde ficarão por um período
de quatro meses. Trata-se de uma experiência
acadêmica importante, ainda mais valiosa do
ponto de vista humanístico, analisa o
dirigente da Coordenadoria de Relações
Institucionais e Internacionais (Cori) da Unicamp,
professor Luís Cortez.
A AUGM reúne 17 universidades,
sendo sete delas brasileiras. O programa Escala
Estudantil, que constitui um marco na relação
entre a Unicamp e a Associação, foi
criado com a missão de possibilitar aos estudantes
de graduação o cumprimento de disciplinas
como alunos especiais de intercâmbio em qualquer
uma das instituições que compõem
o grupo. Conforme Luís Cortez, o foco do trabalho
está na realização de ações
conjuntas entre os países do Cone Sul, de modo
a ampliar a integração entre essas nações
em questões sociais e de desenvolvimento regional.
O dirigente da Cori afirma que esse modelo de cooperação
tem um excelente custo/benefício. As
escolas são de reconhecida qualidade e, além
disso, fica muito mais barato enviar os jovens para
os países vizinhos do que para a Europa ou
Estados Unidos, explica.
Luís Cortez lembra que, atualmente,
a obtenção de um diploma já não
basta para dar formação a uma pessoa.
Dominar um segundo idioma e ter alguma vivência
internacional também são diferenciais
importantes no currículo de um jovem profissional.
Atenta a esta realidade, diz, a Unicamp tem incrementado
os esforços para dar aos seus alunos de graduação
a chance de cumprir parte dos estudos no exterior.
Graças ao apoio do Serviço de Apoio
ao Estudante (SAE), a Universidade conseguiu aumentar
significativamente o número de participantes
no Escala Estudantil.
Assim, já a partir de 2004,
a Unicamp enviará a cada semestre dez universitários
para o exterior e receberá outros dez das demais
instituições que integram a AUGM. Em
2001, quando passou a participar do programa de intercâmbio
estudantil, a Universidade enviou e recebeu apenas
um aluno de graduação. Nossa expectativa
é tornar, ao longo dos próximos anos,
o programa acessível a um número ainda
maior de estudantes, revela Luís Cortez.
De acordo com ele, o Escala Estudantil
funciona da seguinte forma. A universidade de destino
financia a estadia e a alimentação dos
estudantes que recebe. O alojamento normalmente é
feito em pensões e/ou moradias para estudantes
e as refeições, em restaurantes universitários.
Pode ocorrer também um financiamento
pela Organização dos Estados Ibero-Americanos
(OEI), em função de um projeto apresentado
pelo Grupo Montevidéu. Trata-se de uma ajuda
econômica de US$ 300 para o semestre, que serve
para auxiliar no custeio da passagem, gastos para
obtenção de visto, seguro de saúde
internacional e repatriação. A duração
do intercâmbio é de um semestre letivo,
em torno de quatro meses. Normalmente o semestre letivo
das universidades argentinas e uruguaias é
similar ao da Unicamp, podendo ocorrer uma diferença
de poucos dias.
-------------------------------------------------------
Como fazer
Os estudantes que pretendem participar
do programa precisam estar regularmente matriculados
e ter cursado pelo menos 50% dos créditos.
Devem apresentar um plano de estudos (este pode eventualmente
ser alterado quando o estudante chegar à universidade
de destino, dependendo de acertos com seus coordenadores)
composto por disciplinas obrigatórias e/ou
optativas. A Cori divulga o calendário e as
exigências para as inscrições
nas Unidades de Ensino. A inscrição
é feita no SAE. Já a seleção
dos candidatos é realizada pela Pró-Reitoria
de Pesquisa, que avalia o mérito do aluno por
intermédio de seu currículo e coeficiente
de rendimento (CR), num processo semelhante ao da
seleção ao Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica
(Pibic).
Além do programa de intercâmbio
para os estudantes de graduação, outras
iniciativas de integração são
promovidas de forma a beneficiar toda a comunidade
da Unicamp. Entre elas está o acordo de Cátedra
firmado com a Universidade de Buenos Aires, com o
patrocínio do Grupo Santander-Banespa, cujas
atividades acontecem por meio do intercâmbio
de docentes/pesquisadores que ministram cursos, palestras
magistrais e realizam atividades de pesquisa conjunta;
e também o programa Capes/Centros Associados
que possibilita a realização de programas
de pós-graduação com universidades
da Argentina. Outras informações sobre
acordos de cooperação internacional
podem ser obtidos na home page da Cori, no endereço
http://www.cori.unicamp.br/.
-------------------------------------------------------
Depoimentos
Pude conhecer outra cultura
A participação
em programas de intercâmbio como o Escala
Estudantil é uma experiência
enriquecedora nos aspectos acadêmico,
cultural e humano. Quem afirma é Fernanda
Andrade do Nascimento, aluna da Faculdade de
Educação (FE) da Unicamp. No primeiro
semestre de 2003, ela foi selecionada pelo programa
concebido pela AUGM e permaneceu por quatro
meses na Facultad de Lenguas da Universidade
de Córdoba, na Argentina. Fui matriculada
como aluna vocacional em três disciplinas:
Estética, Lengua Castellana I e Literatura
Argentina I. Eram disciplinas que me ofereciam
a possibilidade de estudar assuntos pouco abordados
no IEL [Instituto de Estudos da Linguagem],
por isso as aulas e o conteúdo foram
muito interessantes, afirma.
Durante
a permanência na Argentina, Fernanda teve
a oportunidade de conviver diretamente com outras
três estudantes, duas brasileiras e uma
uruguaia. Fomos alojadas em um apart hotel
perto da Cidade Universitária. Era um
ótimo local, seguro, os quartos eram
confortáveis e tínhamos cozinha
em um deles. Também podíamos usar
uma cozinha compartida com os outros
quartos, mas nos fez falta nestes quatro meses
uma lavanderia. Para quem estudava no centro,
como eu, era necessário tomar um ônibus
ou ir caminhado 25 quadras até a faculdade.
De dia não havia problemas em ir caminhado,
mas pela noite era perigoso voltar sozinha a
pé. Assim, voltávamos de ônibus,
o que aumentava um pouco os gastos, conta.
De
acordo com a aluna da FE, o intercâmbio
foi ótimo em todos os sentidos. Pude
conhecer outra cultura, o modo como é
oferecido meu curso no exterior, pude ter contato
com a literatura argentina e com professores
muito respeitados e especialistas nos assuntos
que eu buscava. Além disso, foi uma ótima
experiência de vida por morar fora do
país e conhecer pessoas de muitos lugares
do mundo, diz.
Luiz
Yassuhiro Kanzaki, aluno da Faculdade de Engenharia
Agrícola (Feagri) da Unicamp, também
participou do Escala Estudantil.
No primeiro semestre do ano passado, ele esteve
na Facultad de Ciências Agrárias
e Veterinária da Universidad Nacional
del Litoral, na Argentina. O estudante classificou
a experiência como espetacular.
Espero que os estrangeiros que vêm
de fora tenham um tratamento tão excepcional
quanto eu tive, diz. Luiz relata que permaneceu
por um mês na província de Santa
Fé e depois se mudou para Esperanza,
onde concluiu os estudos. Enquanto estive
em Santa Fé, o tratamento foi excepcional.
No
dia que cheguei havia um responsável
à minha espera. Por sorte, viajei com
uma outra estudante de Biologia de São
Carlos. Ficamos na residência para estrangeiro
da UNL, onde havia mais estudantes de outros
lugares do Brasil. Éramos 11 brasileiros,
3 espanhóis e uma uruguaia, conta.
Luiz
afirma que nas duas cidades em que esteve os
alojamentos ofereciam bom nível de conforto.
A hospitalidade dos argentinos, de acordo com
ele, não mereceu reparos. Foi mais
do que eu esperava. A cozinha era equipada com
fogão, pratos, talhes etc. Tinha tudo
para se viver bem. Além disso, havia
TV a cabo, telefone e um computador com acesso
a internet. Recebíamos almoço
e o jantar. Um episódio que marcou
especialmente o período de intercâmbio
de Luiz foi a inundação de Santa
Fé pelas chuvas. Inúmeras famílias
ficaram desabrigadas. A maior parte do
país se mobilizou para ajudar. Foram
todos solidários uns com outros,
recorda. Exceto por esse acontecimento,
valeu muito ter participado do intercâmbio.
Os professores me ajudaram com as matérias
que cursei. Por sorte consegui aprovação
em todas as disciplinas, acrescenta.
|
|
|
|