Técnica
recupera alcalóides de grãos
MANUEL
ALVES FILHO
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Uiram Kopcak, autor da dissertação:
aumentando em oito vezes o volume da cafeína
extraída |
Estudo conduzido para a dissertação
de mestrado de Uiram Kopcak, apresentado à
Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp,
trouxe novas contribuições à
técnica que utiliza fluido supercrítico
para recuperar alcalóides de produtos naturais,
como grãos de café e sementes de guaraná.
Kopcak adicionou ao dióxido de carbono supercrítico
(CO2-SC), um solvente não-tóxico empregado
convencionalmente no processo, o etanol e o isopropanol
em baixas concentrações. Os co-solventes
melhoraram a solubilidade do alcalóide [no
caso, a cafeína], aumentando em oito vezes
o volume de extração. O objetivo do
trabalho, que integra uma linha de pesquisa da FEQ,
é contribuir para a geração de
tecnologias que permitam agregar valor a matérias-primas
nacionais.
Orientada pelo professor Rahoma Sadeg Mohamed e financiada
pela Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp), a dissertação
de Kopcak consumiu dois anos de investigações.
O autor do trabalho explica que os alcalóides
são compostos orgânicos encontrados em
produtos naturais. São substâncias que
podem provocar efeitos tóxicos nos homens e
animais, mas também apresentam propriedades
terapêuticas quando usadas em doses controladas.
Justamente por isso
os processos que recuperam os alcalóides geram
grande interesse por parte dos pesquisadores e da
iniciativa privada, notadamente as indústrias
farmacêuticas, de alimentos e de cosméticos.
Anteriormente, de acordo com Kopcak, as técnicas
empregadas para extrair alcalóides de matrizes
naturais utilizam solventes orgânicos, potencialmente
danosos ao meio ambiente, além de serem tóxicos
ao homem e aos animais. Em substituição
ao processo original surgiu o método de recuperação
dessas substâncias por meio do CO2-SC, um solvente
não-tóxico, não-inflamável,
não-agressivo ao meio ambiente e vendido comercialmente
com grande pureza. Um grande problema associado ao
uso do CO2-SC, conforme o autor do trabalho, é
que a polaridade desse solvente é pequena,
o que reduz a sua capacidade de solubilizar o alcalóide,
diminuindo conseqüentemente a taxa de extração.
Uma alternativa para melhorar a capacidade de recuperação
do fluido supercrítico é a adição
de co-solventes polares em baixas concentrações.
Assim, Kopcak valeu-se do etanol e do isopropanol,
em proporções que variaram de 5% a 10%.
“Eu resolvi utilizar as sementes de guaraná
na pesquisa por dois motivos. Primeiro, porque é
o produto natural que contém a maior concentração
de cafeína. Enquanto na semente de café
a cafeína responde por 1% do peso total, na
semente de guaraná esse índice sobe
para 6%. Segundo, por tratar-se de uma planta brasileira,
que tem grande importância econômica para
a Amazônia”, esclarece.
Por intermédio da adição dos
co-solventes, afirma o pesquisador, foi possível
aumentar, em média, oito vezes o volume de
cafeína extraída da semente do guaraná
em comparação com o processo que emprega
apenas o CO2-SC. “Isso equivale dizer que esse
método alternativo permite reduzir a quantidade
de solvente na mesma proporção, ou seja,
oito vezes, sem que o resultado seja comprometido”,
diz. A expectativa de Kopcak, que já trabalha
na elaboração da sua tese de doutorado,
é que a pesquisa contribua para o desenvolvimento
econômico da extração de alcalóides
de matrizes naturais, o que abriria a possibilidade
da formulação tanto de produtos atraentes
aos consumidores preocupados com a saúde (bebidas
descafeinadas, por exemplo), quanto de subprodutos
utilizados como princípios ativos em medicamentos.