Unicamp recebe acervo do
renovador da comédia nacional
Ciclo
de filmes da Vera Cruz, inauguração
de exposição e solenidade celebram incorporação
|
Da esq. para a dir, Abílio
Pereira de Almeida, Mazzaropi, Marisa Prado, Adolfo
Celi, Ruth de Souza e, agachado, Adoniram Barbosa,
nas filmagens de Candinho (1954), paródia
de Cândido (Voltaire) |
O Centro de Documentação
Cultural “Alexandre Eulálio” (Cedae)
do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) realiza,
de 8 a 12 de março, das 16 às 19 horas,
na Sala do Telão do IEL, em celebração
ao recebimento do acervo do teatrólogo, ator,
cineasta e produtor Abílio Pereira de Almeida,
o ciclo de Cinema “Abílio Pereira de
Almeida e a Vera Cruz”. No dia 10, às
10 horas, na sala de defesa de teses do IEL, acontece
a solenidade de incorporação do acervo.
No mesmo dia, às 11 horas, está prevista
uma mostra das peças de teatro, roteiros de
filmes, artigos críticos, documentos pessoais
e fotografias de Abílio, que poderá
ser visitada, até o dia 10 de maio, das 9 às
17 horas, na sala de exposições do Cedae.
Trajetória – Abílio
Pereira de Almeida (1906-1977) teve participação
destacada na história do teatro brasileiro
moderno. Desde os tempos do GTE, o Grupo de Teatro
Experimental, dirigido por Alfredo Mesquita em 1942,
de onde saíram tantos projetos e talentos cena
teatral paulistana, a força de sua presença
já fazia prever a importância do futuro
ator, autor, diretor e homem de teatro.
Ali, ao lado de Maurício
Barroso, Nydia Licia, Ruy Afonso, Marina Freire, Valdemar
Wey e tantos outros, já se antecipavam em Abílio
os traços singulares que fariam de suas primeiras
comédias um contraponto expressivo do movimento
de atualização da comédia nacional
iniciado no Rio de Janeiro por Silveira Sampaio e
Guilherme Figueiredo e que, segundo Décio de
Almeida Prado, se revestem da mesma importância
das experiências de Nelson Rodrigues em face
da criação de um drama brasileiro moderno.
A força dessa ruptura se revela sobretudo em
Pif-Paf (1942), sua peça de estréia,
e A mulher do próximo (1948), onde a intenção
de fazer comédia ligeira se completa com o
peso da observação e a autonomia das
personagens, para assim retratar a trepidação
da vida paulistana, já devassada pelo romance
e a poesia dos modernistas. É essa a realidade
em que Abílio mergulha, num contexto nem sempre
lisonjeiro a São Paulo, cuja imagem no palco,
nas palavras do crítico, vem sempre “carregada
do materialismo de uma metrópole dominada pela
indústria e pelo comércio, e que, em
plena crise de crescimento, não tem mais os
fortes laços morais das cidades pequenas, sem
ter ainda atingido esse arejamento de idéias
que distingue as grandes capitais”.
A mulher do próximo foi espetáculo
de estréia do TBC, de Franco Zampari, que Abílio
ajudou a fundar, transformando-se mesmo num dos maiores
sucessos de bilheteria do teatro, do qual foi também
um dos autores mais encenados. Paiol velho (1951),
dirigido por Ziembinski, com Cacilda Becker e Carlos
Vergueiro nos papéis principais, e depois levado
ao cinema pela Vera Cruz, firma no teatro de Abílio
a tendência inovadora de recusar os preconceitos
de toda ordem e abrir-se às experiências
cênicas mais variadas. É o que se dá,
e em grande parte se amplia, com os textos que o TBC
encenará a seguir, entre eles Rua São
Luís, 27 (1957) e A Dama de copas (1958), com
Odete Lara, Walmor Chagas e Valdemar Wey dando brilho
a um argumento em que a crítica da época
apontou o fato animador de que os próprios
elementos da aristocracia não hesitavam em
revelar ao público “as mazelas de uma
classe decadente, fazendo-lhe um auto de fé
espetacular”.
Mesmo fora do TBC essa tendência
se impõe. Primeiro com Moral em concordata
(1956), montada pela Companhia Maria Della Costa,
e depois com o drama Em moeda corrente no país
(1961), peças cuja maior contribuição
foi a de terem transformado o teatro paulista num
acontecimento atual, em que o público comparecia
e compreendia tudo. Nelas Abílio como que reafirma
o seu grande alvo de usar o teatro para fins específicos,
particularmente para “zurzir gentes e casos”
para com isso retratar a realidade, através
de diálogos surpreendentes “de quem tem
bom ouvido e sabe usá-lo, atento ao que se
passa em torno”, como assinalou Miroel Silveira.
Daí sua grande influência na revitalização
dos elencos, na atração de grandes bilheterias,
canalizando um novo público para o teatro de
São Paulo ao longo das peças que continuou
produzindo.
A importância do autor remete
à forte presença do ator e do diretor,
que tiveram igualmente uma participação
expressiva no cinema da Vera Cruz em fitas como Caiçara
(1950) e Terra é sempre terra (1951), por exemplo,
e mais tarde, já nos anos de 1970, com Independência
ou morte (1972).
Segundo o professor Antônio
Arnoni Prado, do IEL, “recebendo o conjunto
de seus arquivos, a Unicamp – e em particular
o Centro de Documentação Cultural “Alexandre
Eulálio”, Cedae – se habilitam
a enriquecer o âmbito da pesquisa do teatro
e do cinema modernos no Brasil, não apenas
da perspectiva do intelectual e do homem de teatro
que foi Abílio Pereira de Almeida, mas sobretudo
do ponto de vista do testemunho de um homem insatisfeito
e sempre decidido a experimentar, a discutir e testar
os modelos que se impuseram à sua geração”.
SERVIÇO
Mais informações pelo telefone 19-3788-1523
ou pelo e-mail fleao@iel.unicamp.br
PROGRAMAÇÃO
Solenidade de Abertura
Data: 10/03/2004.
Horário: às 10h.
Local: Sala de defesa de teses do IEL.
Presenças: Maria Luíza Pereira de Almeida
e Antônio de Pádua Pereira de Almeida,
filhos de Abílio Pereira de Almeida. Prof.
Dr. Antônio Arnoni Prado (Depto. de Teoria Literária
do IEL/Unicamp) e Prof. Dr. Antônio Alcir Bernardez
Pécora (Depto. de Teoria Literária do
IEL/Unicamp).
Abertura da Exposição
Abertura: 11h.
Período: 10/03/ a 10/05/2004, de seg. a sexta-feira.
Horário: das 9 às 17h30min.
Local: Sala de exposições do CEDAE.
A mostra pretende divulgar para a comunidade acadêmica
o recebimento do arquivo pessoal de Abílio
Pereira de Almeida. Estarão expostos originais
de peças de teatro, roteiros de seus filmes,
artigos críticos, documentos pessoais, fotografias
etc. que testemunham um importante período
da história do teatro e do cinema brasileiros.
Dentre os núcleos temáticos que compõem
o acervo, e que estarão representados nesta
mostra, está um conjunto significativo de documentos
do Grupo de Teatro Experimental, GTE, do Teatro Brasileiro
de Comédia, TBC e da Companhia de Cinema Vera
Cruz, que tiveram Abílio Pereira de Almeida
como um de seus fundadores.
Ciclo de Cinema
Data: de 08 a 12/03/2004.
Horário: das 16h às 19h.
Local: Sala do telão do IEL.
Programação
Abílio Pereira de Almeida – (Brasil,
2002). Dir. Kiko Mollica. Prod.: Canal Brasil.
Sinopse: Documentário sobre a vida e a obra
do dramaturgo Abílio Pereira de Almeida, com
imagens de época, entrevistas e depoimentos
de familiares, amigos e profissionais do cinema e
do teatro brasileiros que conviveram com Abílio
Pereira de Almeida. O documentário foi apresentado
na mostra competitiva do Festival Internacional de
Documentários “É Tudo Verdade”.
(52min).
Data: de 08 a 12/03/2004.
Horário: 16h
Local: Sala do telão do IEL.
Caiçara – (Brasil, 1950). Dir.: Adolfo
Celi. Prod.: Vera Cruz. Rot.: Adolfo Celli. Elenco:
Abílio Pereira de Almeida, Eliane Lage, Carlos
Vergueiro, Mário Sérgio. (95 min)
Sinopse: Marina se casa com um viúvo quarentão,
proprietário de um sítio no litoral
de São Paulo. Sua nova vida só lhe traz
decepções: o marido vive de bebedeiras,
e ela é cobiçada pelos homens do lugar.
Seu único conforto é o menino Chico,
cuja avó é adepta da “macumba”.
Um marinheiro se enamora de Marina; a paixão
é recíproca. Através da macumba,
Marina consegue livrar-se do marido e, assim, poder
viver seu amor.
O filme participou do Festival de Cannes de 1951.
Data: de 08/03/2004.
Horário: 17h
Local: Sala do telão do IEL.
Terra é Sempre Terra – (Brasil, 1951).
Dir.: Tom Payne. Prod.: Vera Cruz. Rot.: Guilherme
de Almeida. Elenco: Abílio Pereira de Almeida,
Eliane Lage, Marisa Prado, Mário Sérgio.
(90 min)
Sinopse: Numa plantação de café
abandonada, o capataz Tonico dirige tudo com mão
de ferro.Casado com uma mulher muito mais jovem, admira-a
apenas como um objeto.Seu único interesse é
conseguir dinheiro, roubando nas colheitas. Na cidade,
a dona da plantação decide mandar seu
filho, jogador e mulherengo, cuidar da fazenda. No
vilarejo vizinho, conhece várias pessoas.Jogando,
perde muito dinheiro, inclusive o dinheiro guardado
para o pagamento de seus peões. Tonico se oferece
para comprar-lhe a plantação e, assim,
pagar-lhe as dívidas de jogo. Tonico celebra
a compra e, durante a festa, fica sabendo que sua
mulher terá um filho do jovem, sofrendo com
isso, um ataque. Chegam então a viúva
e seu irmão para recusar a venda, mas Tonico
mostra sua esposa e ameaça provocar um escândalo
se não concordarem com sua demanda. O jovem
tenciona pegá-lo e, desta vez, o ataque é
mortal. Depois do enterro, a viúva de Tonico
muda-se para a “Casa Grande” da plantação,
para ali ter seu filho; assim a terra seguirá
sempre pertencendo à família.
Data: de 09/03/2004
Horário: 17h
Local: Sala do telão do IEL.
Ângela - (Brasil, 1951). Dir.: Abílio
Pereira de Almeida e Tom Payne. Prod.: Vera Cruz.
Elenco: Eliane Lage, Alberto Ruschell, Mário
Sérgio, Abílio Pereira de Almeida, Milton
Ribeiro, Ruth de Souza, Luciano Salce, Inesita Barroso.
(95 min)
Sinopse: Gervásio, jogador inveterado e de
pouca sorte, perde sua última propriedade,
a mansão onde vive com a mãe, a enteada
e a esposa doente. O vencedor do jogo, Dinarte, um
homem de decisões súbitas e de grande
sorte no jogo, insiste em ver a propriedade naquela
mesma noite. Durante a visita, Ângela, a enteada,
comunica o falecimento da esposa. Dinarte acaba se
envolvendo com Ângela, com quem se casa, depois
de deixar sua amante Vanju, uma cantora popular. Os
dois vivem momentos de felicidade numa viagem pitoresca
às Missões e ao Rio de Janeiro. Com
o nascimento da filha, Dinarte promete não
jogar mais, contudo, entre bilhares, cavalos e brigas
de galos termina perdendo tudo, assim como Gervásio,
que continua decaindo cada vez mais. Enquanto isso
a família se dissolve, restando a Ângela
somente o seu bebê e algumas recordações.
Data: de 10/03/2004
Horário: 17h
Local: Sala do telão do IEL.
Apassionata - (Brasil, 1952). Dir.: Fernando de Barros.
Prod.: Vera Cruz. Elenco: Anselmo Duarte, Tonia Carreiro,
Paulo Autran, Alberto Rushell, Ziembinski, Abílio
Pereira de Almeida. (95 min)
Sinopse: Appassionata conta a história de uma
grande pianista, Silvia Nogalis, que faz todos os
sacrifícios pela sua arte, até que se
vê acusada, pela governanta, da morte de seu
marido, o famoso Maestro Hauser. O corpo é
encontrado no mesmo dia em que ela obtém um
grande triunfo artístico interpretanto a ‘Appassionata’
de Beethoven. Silvia, uma vez comprovada sua inocência,
retira-se para um lugar junto ao mar, onde conhece
Pedro, o diretor de um reformatório de jovens
delinqüentes, que por ela se apaixona, reconhecendo
sua verdadeira identidade. Pedro tenta dissuadi-la
de fazer uma turnê, mas ela prefere a carreira
ao amor e volta a dar concertos. Em Estocolmo conhece
um pintor brasileiro que faz o seu retrato e se apaixona
por ela. Voltam ao Brasil e ela é assaltada
por obsessões ligadas à memória
do falecido marido. A governanta faz esforços,
juntamente com o antigo motorista do casal, para reavivar
o processo contra Silvia. O pintor, assediado pela
dúvida, vai perdendo a confiança em
sua esposa. Tudo se precipita numa noite em que Luís
pensa que surpreenderá Silvia em flagrante
adultério, mas recebem uma carta na qual Hauser
declara que pretendia se suicidar. É muito
tarde. Luís atira, mata Silva e o filme termina
com um crescendo do motivo musical da Appassionata
de Beethoven
Data: de 11/03/2004
Horário: 17h
Local: Sala do telão do IEL.
Candinho - (Brasil, 1954). Dir.: Abílio Pereira
de Almeida. Prod.: Vera Cruz. Rot.: Abílio
Pereira de Almeida. Elenco: Mazzaropi, Marisa Prado,
Ruth de Souza, Adoniran Barbosa, Benedito Corn. (95
min)
Sinopse: Como o Moisés bíblico, Candinho
foi encontrado nas águas, só que nas
águas sujas de um riacho. Ao seu lado estava
um jumentinho, chamado Policarpo. Candinho e o jumento
crescem juntos, mas um dia, Candinho, um pouco mais
inteligente que Policarpo, convenceu-se de que a vida
era muito dura: por qualquer coisa errada, era espancado
pelo seu benfeitor, o proprietário da fazenda,
e decide fugir para São Paulo. A grande Babel
assusta os dois caipiras. Candinho conhece Filoca,
uma taxi-girl por quem se apaixona. Depois de várias
peripécias no inferno urbano, Candinho regenera
Filoca e retorna ao paraíso perdido da sua
terra natal. Qualquer semelhança, mesmo que
vaga, com o Cândido de Voltaire é claramente
intencional.
Pela primeira vez Mazzaropi assume o papel de “caipira”;
é seu terceiro e último filme na Vera
Cruz.
Data: de 12/03/2004
Horário: 17h
Local: Sala do telão do IEL.