Cientistas buscam medida certa
para adição de etanol ao diesel
MANUEL
ALVES FILHO
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O
doutorando Evandro José da Silva (à
esq.), a aluna Juliana Bernardes e o professor
Rahoma Sadeg Mohamed: pela inclusão do
etanol na matriz energética nacional |
Embora esteja próximo
da auto-suficiência em termos de produção
de petróleo, o Brasil ainda importa entre 10%
e 15% do óleo diesel utilizado para movimentar
parte da sua frota de veículos, sobretudo os
destinados ao transporte de carga. Além de
onerar a balança comercial, esse combustível
traz um outro inconveniente para o País, este
de ordem ambiental. Por eliminar material particulado
durante a queima, entre outras substâncias,
o diesel é apontado como um dos grandes responsáveis
pela poluição atmosférica dos
centros urbanos. Pesquisa desenvolvida conjuntamente
pelo Instituto de Química (IQ) e Faculdade
de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp investiga
uma alternativa para minimizar os dois problemas.
A saída, conforme os especialistas, está
no etanol, produto encontrado em abundância
por aqui. A adição de álcool
ao diesel, estimam os cientistas, ajudará a
reduzir tanto a dependência brasileira do mercado
externo quanto a quantidade de poluentes lançada
ao ar pelos escapamentos de ônibus e caminhões.
Mas a solução
não é tão simples como pode parecer
à primeira vista. Não basta acrescentar
um determinado volume de etanol ao diesel e pronto,
é só abastecer o veículo e sair
dirigindo. De acordo com Evandro José da Silva,
que desenvolve uma tese de doutorado sobre o tema
no IQ, para se tornar homogênea e não
prejudicar o desempenho do motor, essa mistura tem
que partir de uma fórmula extremamente precisa.
0corre que o álcool
não se mistura bem com diesel, ao contrário
do que ocorre com a gasolina. Se a mistura fosse injetada
no motor, aconteceria o que os especialistas denominam
de separação de fases, ou
seja, os combustíveis se apartariam.
Outra dificuldade é que, ao ser incorporado
ao diesel, o álcool reduz o índice de
cetanagem da mistura, unidade de medida correspondente
à octanagem da gasolina, um indicativo do poder
de ignição do combustível. Para
tentar superar essas adversidades, nós estamos
estudando a utilização de aditivos,
cuja função é impedir a separação
de fases e aumentar o índice de cetanagem,
explica o professor Rahoma Sadeg Mohamed, co-orientador
da tese que está sendo elaborada por Evandro.
O docente da FEQ afirma que está sendo analisada
uma ampla faixa de compostos, para que se chegue a
um aditivo que apresente as características
desejadas. A princípio, diz, qualquer planta
oleaginosa, como a soja ou a mamona, pode servir de
matriz para a obtenção do aditivo.
Segundo o professor Mohamed,
não há um índice padrão
para a adição do etanol ao diesel. Os
especialistas do IQ/FEQ projetam, porém, que
é possível produzir, num primeiro momento,
uma mistura com cerca de 10% de álcool. Nosso
objetivo é chegar à mistura perfeita
e ao aditivo perfeito, de modo a obtermos ganhos econômicos
e ambientais para o Brasil, adianta o docente,
acrescentando que acredita que o trabalho gere uma
nova patente para a Universidade. Ainda de acordo
com ele, os estudos indicam que é possível
atingir essa meta, embora isso demande tempo, esforço
e investimento. Evandro esclarece que a importância
ambiental do etanol, nesse caso, é dupla. Primeiro,
por tratar-se de uma fonte energética renovável.
Segundo, porque o álcool
ajuda a eliminar o material particulado emitido pela
queima do óleo diesel. O material particulado
vai para a atmosfera por causa da combustão
incompleta, em virtude da falta de oxigênio.
Como o etanol tem oxigênio, essa substância
passa a ser queimada, ensina. Além da
tese de doutorado de Evandro, orientada pelo professor
Watson Loh do IQ, essa linha de pesquisa já
gerou uma dissertação de mestrado na
FEQ. Uma outra dissertação, de Juliana
da Silva Bernardes, deverá ser iniciada em
breve. A expectativa dos pesquisadores é que
os estudos, financiados pelo CNPq e pelo CT-Petro,
colaborem para ampliar a participação
do etanol na matriz energética nacional, alternativa
que nenhum outro país no mundo tem. (M.A.F.)