Esquistossomose coloca
Saúde em alerta
ANTONIO
ROBERTO FAVA
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O
médico e professor Luiz Augusto Magalhães,
do Instituto de Biologia (IB) da
Unicamp: muitas casos não chegam às
autoridades sanitárias
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Estudos feitos
pela Unicamp, em conjunto com a Secretaria de Saúde
de Campinas, revelam que 7% dos moradores do bairro
São Domingos (Campinas) estão com esquistossomose.
Somente em 2002 foram registrados 135 novos casos.
É um problema que se arrasta há anos,
desde que autoridades sanitárias descobriram
um foco na lagoa da Fazenda Boa União, naquele
bairro.
Para o médico
e professor Luiz Augusto Magalhães, do Instituto
de Biologia (IB) da Unicamp, o número de pessoas
infectadas não tem diminuído nos últimos
anos e é extremamente preocupante a existência,
ainda, de focos de esquistossomose na região.
Mais de 500 pessoas foram atendidas no Centro de Saúde
do bairro nos últimos anos, o que reflete a
gravidade do problema. De acordo com Magalhães,
o número pode ser maior, uma vez que muitos
casos não chegam às autoridades sanitárias.
Embora raros,
nos últimos tempos foram registrados oito casos
de paraplegia paralisia dos dois membros inferiores,
freqüentemente associada à perda de controle
do esfíncter devido a uma lesão da medula
espinhal. Dois desses pacientes não apresentaram
seqüelas, mas três têm dificuldades
para andar e outros três estão utilizando
cadeiras de roda. Esta paralisia decorre de infecção
pelo Schistosoma mansoni.
Muitas vezes,
os infectados pela esquistossomose não apresentam
os sintomas característicos da doença,
podendo conviver com ela por vários anos. Ela
pode provocar fibrose hepática e hipertensão
portal, como a formação de barriga
ddágua. Hipertensão que
por vezes resulta em hemorragia digestiva e o paciente
começa a vomitar sangue, explica André
Ribas de Freitas, coordenador do Centro de Saúde
do bairro São Domingos, que desenvolve trabalho
conjunto com o Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.
É ainda desta forma que há alterações
no fígado, com aumento de seu tamanho (hepatomegalia)
e posteriores lesões graves, semelhantes à
cirrose.
Segundo Freitas,
não se esperava casos com tal gravidade em
Campinas, pois o hospedeiro encontrado na cidade é
o Biomphalaria tenagophila, pouco eficiente em relação
ao Biomphalaria globrata, mais freqüente em Minas
Gerais e áreas do Nordeste. Atualmente, o médico
desenvolve pesquisa em nível de mestrado sobre
as causas da doença, visando a avaliar a dimensão
real da esquistossomose em Campinas. Ele afirma que
a Secretaria de Saúde é o órgão
responsável pelo tratamento dos doentes e pelo
combate aos focos detectados, explicando que, no entanto,
inexiste um trabalho de controle dos hospedeiros
intermediários, como normalmente se faz com
a dengue.
Quanto às
medidas profiláticas como meio de exterminar
os focos, diz que o mais importante é tratar
os portadores da moléstia, diminuindo a incidência
de vermes e reduzindo a possibilidade de multiplicação.
É muito difícil matar o hospedeiro
intermediário, que é o caramujo.
As medidas de profilaxia consistem basicamente em
ações preventivas pelos centros de saúde,
como a educação da população
sobre o modo de transmissão da doença.
Contaminação
- Geralmente, o indivíduo adquire a esquistossomose
banhando-se em pequenos lagos e riachos, onde existem
caramujos de espécies que estão parasitados
com o Schistosoma mansoni. A contaminação
se dá por meio das larvas liberdas pelos moluscos
infectados, que penetram ativamente na pele do indivíduo
e, ali alojadas, iniciam um ciclo que se completa
em veias do abdômen, que levam o sangue das
paredes do intestino para o fígado. Seguem-se
a fase em que o baço aumenta de volume, e a
mais grave, de formação de varizes no
tubo digestivo, do esôfago até o ânus.
No Instituto de Biologia, o professor
Magalhães estuda o comportamento do verme no
molusco (seu hospedeiro intermediário e vetor),
por meio da infecção de camundongos
que apresentam um quadro patológico semelhante
ao ser humano. Avalia-se no camundongo as lesões
no fígado, intestino e em outros órgãos.
Esses estudos contribuem para conhecer melhor
a doença, o próprio tratamento e o combate
à parasitose no campo, diz Magalhães.
Os dados da linhagem isolada no foco da Lagoa Boa
União são comparados com os de outras
linhagens já estudadas, armazenadas no Laboratório
de Parasitologia do IB, originárias de São
José dos Campos e de Belo Horizonte. Magalhães
revela, no entanto, que não existem estatísticas
atualizadas sobre a situação da esquistossomose
hoje no Brasil, embora seja uma doença sob
controle, graças à terapêutica
e facilidade de tratamento.
Doença crônica
- A esquistossomose é uma doença crônica
de evolução lenta. A fase aguda implica
febre, falta de apetite, tosse, dor de cabeça,
suor intenso, enjôo e diarréia com pequenas
quantidades de sangue, os sintomas mais comuns. Nos
casos crônicos graves, leva à hipertensão,
insuficiência hepática e tumores.
O parasita foi descoberto em 1851 pelo médico
alemão Theodor Bilharz (1825-1862). No entanto,
o descobridor do Schistosoma mansoni foi o cientista
brasileiro Manuel Augusto Pirajá da Silva (1873-1961),
que morreu antes mesmo que fosse descoberto um medicamento
para a doença. O verme causador da esquistossomose
intestinal não é nativo do Brasil: chegou
por aqui durante o período da escravidão,
com os africanos provenientes de regiões endêmicas.
(A.R.F.)