Fórum Permanente
discute agronegócio
Serão debatidos assuntos como assentamentos, rurais, reforma agrária, desenvolvimento local e resultados de pesquisas recentes
|
A professora Elisabete Salay, coordenadora do Nepa: "É preciso investir em pesquisa".
|
PAULO CÉSAR NASCIMENTO
O agronegócio e as políticas de segurança alimentar no âmbito do desenvolvimento local serão debatidos no dia 25 (quinta-feira) no seminário “Agronegócio e Desenvolvimento Local”, das 9 às 17 horas, no Auditório da Biblioteca Central da Unicamp. Organizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa), que vem atuando há vários anos na área de segurança alimentar, o evento se insere nas atividades do Fórum Permanente de Agronegócios. Iniciado em 2003, o projeto “Fóruns Permanentes” é uma iniciativa conjunta da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) e da Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori).
Temas como política nacional de alimentação, nutrição, assentamentos rurais, reforma agrária, intervenções públicas recentes, estratégias empresariais e resultados atuais de pesquisas serão apresentados com abordagens diversificadas por importantes especialistas da área, conforme adianta a professora Elisabete Salay, coordenadora do Nepa e docente do Departamento de Alimentos e Nutrição (Depan) da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp.
Nesta entrevista ao Jornal da Unicamp ela fala sobre o atual estágio do agronegócio no Brasil e pondera que, embora a atividade seja um importante fator de crescimento econômico, é necessário, para a ocorrência simultânea do desenvolvimento social, considerar as características específicas de uma sociedade tão diversificada como é a brasileira na implantação de programas de estímulo à agroindústria.
“Existem grupos que estão ainda muito à margem dos processos socioeconômicos, que precisam ser contemplados pelas estratégias privadas e políticas públicas de desenvolvimento”, observa a pesquisadora. “Isso implica na complexidade de concepção e implementação de políticas na área e, portanto, demanda um debate rico entre a universidade, os setores público e privado, e a sociedade civil, que certamente vai contribuir na formulação de novos estudos, novas políticas e cooperações entre esses setores, com inegáveis benefícios para o segmento como um todo”, afirma.
JU - Como está o setor de agronegócio no Brasil?
Elisabete Salay - Temos segmentos bem desenvolvidos, extremamente eficientes e modernos, como o de frango, de soja e de suco de laranja, e outros ainda com grande potencial de desenvolvimento, como o das frutas típicas. É preciso investir em pesquisa e estudo de qualidades nutricionais desses produtos, aplicar tecnologias, e, a partir daí, criar mercado para viabilizá-los comercialmente. O plantio de frutas irrigadas no Vale do São Francisco (que abrange os estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Pernambuco, Sergipe e Alagoas) é um ótimo exemplo dos resultados que podem ser alcançados com a soma desses esforços. Os produtos obtidos com a agricultura irrigada naquela região árida são da mais alta qualidade, são exportados e geram divisas para o País.
JU - De que forma o agronegócio pode contribuir para o desenvolvimento local?
Elisabete Salay - O agronegócio pode ser um instrumento de promoção do desenvolvimento de comunidades específicas, por meio da criação de tecnologias de produção e da abertura de mercados para produtos típicos de uma determinada localidade, passando pelos processos de caracterização, identificação de valor mercadológico, processamento e comercialização da cultura local. Poderíamos formar, no Brasil, “clusters” (agrupamentos) de agroindústrias de um segmento específico para a exploração de uma atividade agrícola local ou regional, como ocorre com a produção de vinho, nos EUA, que promoveriam o crescimento econômico da localidade ou região onde estivessem instaladas. Mas não se trata apenas de promover o desenvolvimento econômico. A implantação de estratégias industriais para melhorar a eficiência do complexo agroindustrial precisa ser acompanhada de políticas de educação e saúde, por exemplo. É necessário que haja melhoria das condições sociais da população, e aí é preciso ocorrer uma certa intervenção do Estado em relação a tudo isso, de maneiras distintas para diferentes comunidades.
JU - O que seria essa intervenção diferenciada?
Elisabete Salay - É preciso levar em conta a existência de alguns grupos específicos da sociedade, como mulheres, indígenas e quilombolas (remanescentes dos quilombos), que não podem ficar à margem dos processos que pretendem estimular a agroindústria local. Portanto, as características de comunidades ou grupos específicos implicam na concepção e implementação de políticas de desenvolvimento social que estejam voltadas também para a igualdade de oportunidades, para a valorização de experiências sem reforçar as discriminações de gênero.
JU - O programa Fome Zero pode estimular o crescimento do agronegócio no Brasil e o desenvolvimento local?
Elisabete Salay - Um dos objetivos do Fome Zero é o desenvolvimento regional por meio do agronegócio. Com isso, o que se pretende é fortalecer a pequena agricultura, deixando-a mais produtiva, e beneficiar a economia local, já que o governo, por exemplo, poderia comprar parte da produção dos agricultores e repassar os alimentos para a merenda escolar. Então, teríamos uma série de benefícios para a própria comunidade: geração de empregos, renda e promoção de programas sociais, como a merenda escolar, a partir do agronegócio. Portanto, o Fome Zero tem o mérito de estimular iniciativas nessa direção e os resultados poderão ser colhidos mais à frente.