Nesta e nas próximas seis páginas, reitoráveis
expõem os principais pontos de seus programas
Apartir de 15 questões enviadas separadamente aos três candidatos a reitor o engenheiro mecânico Antonio Celso Arruda, o engenheiro de eletrônica Edson Moschim e o engenheiro de alimentos José Tadeu Jorge , o Jornal da Unicamp construiu um debate sobre os temas básicos da política acadêmica da Universidade: o ensino, a pesquisa e as relações com a sociedade. A próxima edição do jornal vai contemplar o programa administrativo de cada candidato. O primeiro turno da consulta à comunidade será realizado nos dias 16 e 17 deste mês.
Em debate o ensino,
a pesquisa e as relações da Unicamp com a sociedade
Desafio
Em sua opinião, quais os principais desafios a serem enfrentados pela Unicamp, enquanto universidade pública, nos próximos anos? Como será possível superá-los?
Celso Arruda São três os principais desafios: 1) manter o alto padrão em todas as pesquisas e nas atividades de ensino, com resultados exponenciais e merecedores do reconhecimento público; 2) estimular ainda mais o conjunto humano atuante na comunidade universitária, na busca da superação do que já está consagrado e do que está sendo consolidado; e 3) motivar a realização de projetos desenvolvidos nas unidades, muitos dos quais representarão soluções de importantes demandas da nação.
Essas três metas difíceis e ambiciosas são exeqüíveis, mesmo dentro do grave quadro de obstáculos que a realidade de hoje impõe, com margens estreitas de recursos que asfixiam as iniciativas das áreas de ensino e pesquisa.
A tarefa mais difícil é vencer o conformismo que busca sempre a acomodação pelos meios de menor esforço, sem debates ou questionamentos, reduzindo ao mínimo as possibilidades de antagonismos, o que aborta soluções bem pensadas dos problemas. A posição contrária, pelo desenvolvimento, tem outra característica de ação. Na busca de solução, abre espaços tanto para divergências como para convergências, em que se manifestam possíveis contradições, mas se agregam consistências e se estabelecem soluções.
Dentro desse quadro, propõe-se a revitalização da força de condução, com o resgate do ânimo interno, que leva, junto com o princípio da responsabilidade, a energia para criar e ousar a concretização de sonhos e ideais de toda a comunidade universitária. Propõe-se agregar oportunidades, participações e méritos, ou seja, o caminho da meritocracia, tradição desta Universidade.
É necessário dar continuidade ao que ora está em execução e também contemplar soluções consensuais não conflitantes, oriundas de outros programas recentes e amplamente discutidos. Fazer valer a força de seus atributos, restaurando a participação de pessoas, de suas propostas, de seus estudos, envolvidos no mapeamento de questões pertinentes à Unicamp.
Edson Moschim A Universidade Estadual de Campinas conquistou sua autonomia financeira e ampliou sua autonomia de gestão a partir de 1989. Com erros e acertos (mais acertos do que erros), a Universidade vem consolidando essa conquista. Desafios futuros são inúmeros e imprevisíveis, pois estamos inseridos numa dinâmica permeada por processos sociais, políticos e governamentais. Entretanto, a experiência tem mostrado que fomos capazes de responder de imediato e com eficácia a tais desafios.
Com relação aos próximos anos, os pontos que poderão provocar “gargalos” na nossa universidade estão localizados na esfera do ensino de graduação e no quadro de professores. No ensino de graduação é preciso ampliar o número de vagas, com inteligência e qualidade. Também precisamos criar novos cursos que sejam compatíveis com as necessidades da sociedade. Esses quesitos demandam custo, e custo é uma palavra que ainda causa temor. Isso poderá ser resolvido se conseguirmos sensibilizar as esferas políticas.
Com relação ao quadro de professores, temos o problema dos aposentados, que são custeados com a nossa cota-parte. Cada projeto da previdência anunciado pelos nossos governantes faz triplicar o número de aposentados num único golpe. Do número total de docentes, estamos hoje com um quadro de aproximadamente 8% de professores aposentados. E o número está em progressão. O equilíbrio, de acordo com estudos, dar-se-á em 25%. Isso gera uma preocupação constante. Precisamos desenvolver mecanismos que nos possibilitem manter o equilíbrio entre a folha de pagamento e uma universidade gratuita e de qualidade.
José Tadeu Jorge Os desafios que se apresentam para a Unicamp neste início de século são os desafios da universidade pública como um todo. As mudanças de cenário e a própria realidade brasileira continuam a exigir expansão de vagas na graduação e na pós-graduação e a consolidação do conjunto de atividades de extensão, em particular as de assistência através das unidades da área de saúde. Ao reafirmar nosso compromisso com a qualidade do ensino, nós nos comprometemos também a buscar a flexibilização dos currículos e das carreiras e ampliar o investimento na pesquisa, ao lado da consolidação de uma cultura administrativa que seja a contrapartida responsável do princípio da autonomia de gestão financeira, prerrogativa que, por enquanto, só assiste as universidades estaduais paulistas.
A essa pauta de responsabilidades se contrapõem alguns obstáculos conjunturais, como o decrescente investimento federal na manutenção da pesquisa, a participação crescente do setor privado nos fundos públicos, a campanha sistemática contra a universidade pública e, por fim, uma política de inclusão que peca por não levar em conta as causas da exclusão, especialmente o baixo desempenho do ensino fundamental e médio.