Reforma
Se eleito reitor, que postura institucional a Unicamp deverá assumir em relação ao projeto de reforma universitária proposto pelo governo federal?
Celso Arruda A palavra reforma, em atos concretos, traz consigo o significado do demolir e reconstruir. Nesse caso, da reforma universitária, aparentemente, a demolição foi realizada sob o mando de pessoal sem qualificação acadêmica. Espera-se agora que seja chamado o efetivo qualificado para o ato da reconstrução. A Unicamp deverá agir com a devida cautela, esclarecendo os pontos negativos e positivos da sua experiência acumulada ao longo desses últimos 16 anos. Basicamente, deve-se estar alerta para o espírito da lei, ou seja, se é simplesmente para se livrar do poder reivindicatório das universidades ou conferir a almejada autonomia universitária no seu significado mais amplo.
Edson Moschim O anteprojeto da reforma universitária ainda está em fase de coletar sugestões e críticas. Acho positivo que o governo se sensibilize com a questão do ensino superior. Do jeito que anda a educação pública nacional, torna-se inviável projetar um futuro melhor para o Brasil. Educação é a força motriz de uma nação. No seu projeto de reforma, o governo prevê uma universidade pública com autonomia, inclusão social, salários compatíveis, aumento de vagas e de campi. Enfim, propõe uma universidade institucionalizada. Faz também um mea culpa ao tocar na questão das cotas de vagas. Nesse sentido, o governo sinaliza que está no caminho certo.
Dúvidas surgem, e aí os críticos da reforma têm razão. Sou um deles, sobretudo com relação ao texto em forma de lei que engessa, por meio de definições pontuais, questões como por exemplo a autonomia universitária. Críticas são sempre bem-vindas quando acompanhadas de sugestões e propostas. Nesse contexto, devemos lembrar sempre o prefácio do livro “O retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, que diz: “O repúdio ao romantismo por Calibã é por não ver seu rosto no espelho, e o repúdio ao realismo por Calibã é por ver seu rosto no espelho”.
Caso seja eleito reitor, vou apontar ao governo o que é bom e o que é ruim nesta reforma. Iremos lembrar nossa experiência de universidade pública, gratuita, de qualidade e autônoma institucionalmente. Neste caso, posso dizer que mais vale a prática que a gramática.
José Tadeu Jorge O projeto é limitado e se preocupa sobretudo com a moldura política da organização universitária, em vez de estabelecer um plano estratégico para o ensino superior brasileiro. Fixa um sistema de cotas e nada diz sobre cursos noturnos, que são um instrumento de inclusão dos mais eficientes. Estabelece eleições paritárias mas passa ao largo de qualquer consideração sobre a qualidade do ensino de graduação. Não há nada ali, por exemplo, sobre o desenvolvimento da pós-graduação brasileira.
Além disso, o projeto da reforma traz de volta o receio de que o governo pretenda retirar-se progressivamente do financiamento do ensino superior público, servindo-se para isso do dispositivo da autonomia financeira para as universidades federais, que ainda não a têm. Esse temor cria efetivamente uma ameaça para as universidades estaduais paulistas que contam com a autonomia desde 1989 na medida em que uma legislação federal exclua ou gradue para baixo a prerrogativa da autonomia financeira no âmbito das universidades federais.
Um forte envolvimento nas discussões sobre a reforma universitária será uma das prioridades da Unicamp nos próximos meses, em articulação com as demais universidades públicas, com as organizações docentes e num diálogo construtivo com o governo e com o Legislativo.