Edson Moschim O mérito acadêmico tem forte impacto na comunidade educacional. Respeito e sempre respeitarei essa premissa. A adoção, por parte da Unicamp, de uma fórmula de inclusão social, sem desrespeitar o princípio da isonomia, foi um desejo do Consu (Conselho Universitário). Caso eleito, na minha gestão (item 19 do meu programa) procurarei referendar o processo de inclusão social, convidando toda a Unicamp professores, funcionários e estudantes a opinar sobre o que é melhor para nós.
Sou mais inclinado a pensar no princípio da igualdade, que é mais humano que o princípio da isonomia que, na minha opinião, é estritamente técnico. Neste caso, tomo a liberdade de, por meio de um jogo ficcional e de palavras, subverter o título de um famoso e envolvente livro de Nietzsche, transformando-o em “E assim falou Tustrazara”. O personagem em questão seria a ovelha negra da família Zaratustra. A obra prega que todos os homens nascem iguais; o que distingue um de outro é o grau qualitativo e quantitativo de conhecimento obtido de sua relação com o meio. O Estado tem por obrigação minimizar e até zerar esta diferença.
José Tadeu Jorge A Unicamp sempre se empenhou em criar mecanismos de inclusão, mas sem jamais abrir mão dos valores da qualificação e do mérito acadêmico. Exemplos são o seu modelo diferenciado de vestibular, a expansão dos cursos noturnos e a duplicação de vagas na graduação desde 1989. O exemplo mais recente foi a criação e aprovação no Conselho Universitário, com validade a partir de 2005, de um programa inédito que, aliando inclusão social e mérito acadêmico, busca ampliar o número de alunos procedentes de escolas públicas em seus cursos de graduação aqui inseridos os autodeclarados negros e indígenas sem confundir-se com qualquer sistema de cotas.
Já em seu primeiro ano de vigência o programa levou a um aumento considerável não só da participação como também dos matriculados provenientes da escola pública. O objetivo foi portanto alcançado e o programa se coloca como uma alternativa diferenciada ao sistema de cotas. Essa política de ação afirmativa terá sua continuidade assegurada.
Freqüentemente se ouve que as atividades de ensino deveriam ter um peso maior na avaliação docente. Qual é sua opinião sobre isso e o que pretende fazer a respeito?
Celso Arruda Os docentes são contratados para exercerem atividades de ensino, pesquisa e extensão. Obviamente, cada uma dessas três atividades tem seus próprios atributos e exigências para serem exercidas, como também cada professor tem seu potencial com maior ou menor foco em cada um desses desafios. Cabe a cada unidade buscar o equilíbrio entre seus docentes e suas metas, sem necessariamente impor que cada professor deva ter igualdade de desempenho em ensino, pesquisa e extensão.
Edson Moschim A avaliação institucional é um elemento importante para a aplicação do Planes (Planejamento Estratégico). A avaliação docente é fundamental dentro deste modelo. Particularmente, sou favorável em dar ênfase nas atividades de ensino, que para mim são as atividades-fim especiais da universidade. Entretanto, nossos organismos de fomento traduzem qualidade em termos de publicações, principalmente as internacionais. Isso é um equívoco. As universidades brasileiras devem servir aos interesses nacionais em primeira e, talvez, única chamada.
Vejam a injustiça cometida com o professor César Lattes. Seria nosso primeiro prêmio Nobel. Publicou brilhantemente em revistas internacionais e o que ganhamos? Uma desculpa pelo equívoco? Na minha gestão, procurarei convencer meus pares a priorizar fortemente as atividades de ensino como os parâmetros da avaliação docente.
José Tadeu Jorge A Unicamp já implantou um sistema de avaliação das atividades de ensino docentes e vem, na maioria das unidades, realizando esse processo. Vamos trabalhar no sentido de aperfeiçoar seus indicadores, refinando a atenção para com as peculiaridades das diferentes áreas e as distintas formas de atividades de ensino. O uso sistemático das informações geradas, facilmente acessível aos avaliadores e gestores, poderá servir de elementos para tomadas de decisão na gestão dessa atividade, sempre no sentido da valorização docente.
A pós-graduação da Unicamp é reconhecidamente uma das melhores do país, segundo a avaliação da Capes. Qual será sua política para a pós?
Celso Arruda Envidar esforços junto às agências financiadoras para ampliar o número de bolsas e o valor da remuneração aos estudantes de pós-graduação. Aumentar o apoio às áreas cujos cursos não têm obtido boa avaliação, a fim de que possam alcançar os níveis de excelência desejados.
Edson Moschim A pós-graduação da Unicamp, da qual fui aluno, tem mostrado um grau de maturidade e competência em níveis nacional e internacional. Formamos hoje quase 50% de doutores e quase 20% de mestres do Brasil. Publicamos em todos os veículos de alta qualidade técnica, respeitados mundialmente. Isso é fruto de uma política acertada do velho “mandarim” Zeferino Vaz, fundador e ex-reitor da Unicamp, que, no início dos anos 70, trouxe para a Unicamp pesquisadores de grande reputação internacional. Tive a satisfação de ter aula com o professor Lathi, um exímio professor de teoria das comunicações, hoje lecionando numa universidade americana.
Quando o velho “mandarim”, com seu fiel escudeiro, o amigo, empresário e fazendeiro Almeida Prado, apeou dos seus 15 cavalos mecânicos (o velho e querido Jeep), na fazenda Santa Genebra, não se decepcionou por não pisar na prometida terra roxa. Aliás, lembrou-se do diálogo do pequeno príncipe com a flor no deserto. “Onde estão os homens?”, perguntou o pequeno príncipe. “Os homens não estão aqui, eles não têm raízes. O vento os carrega”, exclamou a flor . E o velho “mandarim” disse: “Aqui eles terão raízes!” E assim foi construída, de um sonho ou de uma visão, uma poderosa máquina de formação acadêmica. Minha política para a pós-graduação será a de dar continuidade a este processo e procurar buscar excelência (nota 7/Capes) em todos os cursos.
José Tadeu Jorge A qualidade da pós-graduação da Unicamp decorre da forte integração entre o ensino e a pesquisa. Isso fica claro quando se constata o nível de participação dos pós-graduandos nos diversos tipos de produção acadêmica. Este é um capital que tem de ser preservado. Deve-se admitir, contudo, que ele vem sendo mantido não sem dificuldades, muitas delas decorrentes da instabilidade do cenário econômico nacional, que se reflete nas restrições orçamentárias das agências de fomento, bem como da falta de políticas públicas para o setor. Por exemplo, ao lado da constatação de que o Brasil deverá aumentar significativamente o seu número de doutores nos próximos para vencer os desafios econômicos presentes e futuros, não são explicitadas as fontes de recursos necessários para a implantação do processo.
Portanto, os desafios que se apresentam para a manutenção da pós-graduação da Unicamp nos patamares de qualidade que marcam nossa história não são poucos e não podem ser minimizados. Reconhecer sua existência e buscar mecanismos de superação desses problemas é uma das propostas do nosso programa.
O que falta para que o ensino a distância avance na Unicamp? Em sua opinião, em que áreas de ensino o EAD será mais adequado (graduação, pós, ensino médio, extensão)? O sr. tem um projeto para essa modalidade de ensino?
Celso Arruda As atividades de ensino vinculadas à extensão, incluindo o suporte ao vestibulando, deverão ser as priorizadas. O EAD que, além da interatividade da WEB, em breve estará vinculado às novas técnicas de TV digital, reúne dados e informações de tecnologia avançada para transmissão e recepção de áudio e vídeo de qualidade e de alta velocidade. Mas a equação mais importante nesse processo supera esses meios técnicos. A resposta que se busca, e devemos fazer pesquisas nesse sentido, é a efetivação do conhecimento na outra ponta, a do aluno. Ainda estamos distantes desse modelo de eficiência.
Edson Moschim Precisa simplesmente “pegar no breu”. Desenvolvemos, através do Núcleo Interdisciplinar de Informática Aplicada à Educação (NIED) e do Instituto de Computação (IC), uma tecnologia que ficou muito conhecida, o TelEduc, que hoje recebe realimentação de várias unidades, entre as quais a Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC). Eu mesmo, através dos meus projetos de pesquisa, venho desenvolvendo minha própria ferramenta, o Netduc. Entretanto, eu e nossos pares olhamos com a devida cautela essa ferramenta de formação.
É importante deixar claro que se trata de uma ferramenta poderosa que vem ocupando um espaço cada vez maior na educação. Essa modalidade de ensino deve ser avaliada continuamente, provando sua eficiência. Do contrário, estaremos indo contra nossa premissa de educação de qualidade.
José Tadeu Jorge Desde 1998 a Unicamp tem realizado investimentos consideráveis em infra-estrutura para suportar as suas aplicações em EAD. Entretanto, é preciso reconhecer que ainda faltam mecanismos de apoio institucional que permitam aos professores superar as dificuldades encontradas para a conversão de cursos presenciais em cursos a distância. Começaremos por fazer um inventário institucional que demonstre os recursos humanos e tecnológicos que podem ser agregados.
É indispensável também fazer uma prospecção sobre as novas tecnologias existentes, incentivar a realização de programas de capacitação na área, fixar mecanismos de valorização do trabalho do professor nas atividades de EAD, avaliar quais projetos-piloto contemplar na graduação, na pós-graduação e na extensão.
Outra medida indispensável é adaptar a legislação interna às legislações federal e estadual, considerando questões como a de direitos autorais e de licenças de uso relativos aos conteúdos produzidos no âmbito da Universidade. São ações que requerem um esforço decisivo que leve ao aproveitamento de todos os recursos disponíveis e consolide um projeto institucional na área.