Pesquisa
A Unicamp responde por parcela significativa da pesquisa acadêmica no Brasil. A pesquisa na Unicamp pode ser melhorada? Em que direção?
Celso Arruda - Instituindo mecanismos de apoio ao pesquisador na elaboração de projetos a serem apresentados às agências externas de financiamento. Aperfeiçoando os procedimentos de apoio ao registro de patentes, ampliando o suporte de infra-estrutura física e de recursos humanos para a Inova. Estimulando a participação dos docentes e pesquisadores da Unicamp no assessoramento aos órgãos de governo, e na elaboração dos programas sobre política científica e tecnológica, principalmente junto a CAPES, ao CNPq e a Fapesp.
Edson Moschim - A pesquisa na Unicamp é um dos componentes da tríade ensino-pesquisa-extensão, que teve um impulso significativo após a autonomia de 1989. O elo entre pesquisa e ensino de pós-graduação traduz-se no reconhecimento nacional e internacional da Unicamp como um grande pólo gerador e irradiador de ciência.
A qualificação de nossos docentes, muitos deles com doutorado nos melhores centros científicos mundiais, certifica a pesquisa na Unicamp como sendo de excelência. É importante destacar que essa pesquisa é desenvolvida com liberdade intelectual, sem vinculações ideológicas. Cada vez mais é nítido o envolvimento da graduação com a pesquisa, por meio da iniciação científica. Precisamos sim transformar ainda mais essas pesquisas em benefícios sociais. Este será o grande desafio da próxima reitoria.
José Tadeu Jorge - O perfil dos financiamentos à pesquisa tem se alterado ao longo do tempo e de modo profundo. De um lado ocorrem constantes descontinuidades nos programas já formatados, de outro as formas de apoio aos grupos são passíveis de alteração freqüente. Por exemplo, a focalização dos projetos através dos fundos setoriais vem sendo uma das marcas dos financiamentos federais nos últimos anos, enquanto que os editais de apoio universais têm apresentado recursos insuficientes frente às demandas dos grupos já instalados. Da mesma forma, o número de bolsas nas suas diversas modalidades tampouco supre a demanda qualificada. Os projetos Finep de apoio institucional e de infra-estrutura têm sido freqüentemente descontinuados e são insuficientes para atender minimamente a demanda das universidades públicas.
A conjugação de todos esses fatores exige novas estratégias de competitividade dos grupos de pesquisa e, por decorrência, da atuação institucional da universidade. Sobretudo nesse sentido, a pesquisa na Unicamp pode e deve ser melhorada. Algumas ações farão parte do horizonte de discussões institucionais, destacando-se entre elas a identificação de oportunidades de pesquisas que possam ser desenvolvidas na Universidade ou em parceria com os mais variados setores da comunidade; a incorporação, respeitada a institucionalidade do processo, de grupos de pesquisa em temas estratégicos nos quais a Unicamp ainda não atingiu níveis de excelência; a participação institucional na discussão de temas prioritários das políticas públicas e de pesquisa; a consolidação dos setores administrativos de apoio aos pesquisadores, tanto no que se refere à gestão dos projetos já contratados quanto no que concerne à elaboração de novos projetos e à identificação de oportunidades; e a organização de eventos multidisciplinares para a discussão do papel da universidade dentro do cenário de mudanças sociais, políticas e econômicas complexas, entre outras ações.
Trata-se de definir uma política interna de pesquisa ou de conferir completa liberdade aos pesquisadores?
Celso Arruda - Cumpridas as cargas didáticas de graduação e de pós-graduação, a liberdade acadêmica deve ser preservada e o resultado global da atuação do docente, avaliado por meio de seu relatório trienal. Espera-se que este relatório contemple por meio das teses orientadas e da sua produção artística, cultural, científica ou tecnológica, como foi efetivamente exercida essa liberdade acadêmica.
Edson Moschim - Acho que a política interna de pesquisa é balizada pela avaliação institucional com parâmetros definidos principalmente pela Capes. Mais importante que isso é a liberdade intelectual conferida aos nossos pesquisadores. Isto sim define nossa excelência, nosso fair-play acadêmico.
José Tadeu Jorge - Não há boa pesquisa sem liberdade de criação. Mesmo quando uma pesquisa está condicionada a um programa de financiamento, em geral esse programa nasceu como resultado de demandas apresentadas por pesquisadores. A universidade pode e deve propor novas linhas de investigação e tem mesmo o dever de influir na definição de grandes linhas e programas de pesquisa, mas ela sempre o fará a partir de necessidades e cenários detectados pelos próprios pesquisadores. O papel da administração, nesse caso, é sobretudo o de apoiar e melhorar as condições para o desenvolvimento da pesquisa.
Novas temáticas de pesquisa tenderão no Brasil a surgir determinadas pelas tendências do cenário internacional e também pela demanda nacional. A pesquisa interdisciplinar parece estar cada vez mais no horizonte dessas mudanças. O sr. tem uma política para fazer frente a essa nova realidade?
Celso Arruda - Essa política de se integrar em projetos de pesquisa interdisciplinares já está bem consolidada em nossa universidade. E é praticada dentro do âmbito da liberdade acadêmica. Poderá ser ainda mais estimulada, mas sem imposições.
Edson Moschim - A pesquisa temática é sadia, pois desenvolve uma sinergia entre os grupos envolvidos. A complexidade dos processos envolvidos numa pesquisa temática não limita esse trabalho a um único grupo de pesquisa. Casos notórios como o Projeto Genoma, e mais recentemente o Projeto Tidia, são conduzidos com sucesso por grupos multidisciplinares. O sucesso das redes de pesquisa, como no caso do Projeto do Milênio, do CNPq, é resultado também desta interdisciplinaridade. Novos temas de pesquisa estão acontecendo sempre, pois pesquisa é um processo dinâmico. E é isso que a faz interessante. É fundamental que nossa experiência interdisciplinar se coloque sempre a serviço destes novos temas de pesquisa.