Relações Sociais
A Unicamp deve ter uma política cultural ou a produção cultural na Universidade deve ser o resultado da livre manifestação nas unidades, núcleos, centros e de outras instâncias da Universidade? Que linhas de ação o seu programa de trabalho contempla nessa área?
Celso Arruda - É óbvio que a política cultural da Universidade deverá continuar sendo o resultado da livre manifestação, das diferentes unidades de estudos e de todas as instâncias da Unicamp. Sendo esta uma atividade intrinsecamente ligada ao ensino, pesquisa e extensão, está explicitamente contemplada em quase todos os tópicos do programa ANIMUS UNICAMP. Acrescente-se, a essa atividade, uma característica comum na produção artística e cultural: o exercício da criatividade.
Edson Moschim - Política cultural é interessante como um vetor de irradiação das atividades de extensão, materializado por meio de seus produtos culturais. Por meio de uma política cultural, podemos estabelecer parâmetros de medida, de organização e de avaliação da produção cultural. A livre manifestação cultural será sempre o vetor fundamental para se criar e difundir com arte e beleza. Vamos ampliar as nossas ações na sociedade desenvolvendo uma política cultural afinada com as necessidades da sociedade brasileira. E isso inclui toda a gama de atividades nos mais diversos órgãos da Universidade.
José Tadeu Jorge - Sendo as ações culturais da Unicamp múltiplas e transdisciplinares por definição, a existência de uma política cultural deve estar centrada em um programa que facilite e apóie os projetos que emanam das unidades de ensino e pesquisa, dos núcleos e centros interdisciplinares e de outras instâncias da instituição.
A Unicamp já conta com uma boa infra-estrutura de organização e suporte a eventos institucionais. Pode avançar, entretanto, na direção de uma ação coordenada que centralize o esforço de informação e difusão dos eventos culturais evitando assim a duplicação de esforços e obtendo o máximo aproveitamento do potencial instalado mas que também possa estabelecer parcerias, captar e gerenciar recursos. Isto será facilitado com o desenvolvimento, na área cultural, de um esforço homólogo ao que é realizado na área tecnológica pela Agência de Inovação, que em um curto espaço de tempo conseguiu concretizar diversas parcerias com a comunidade em geral, difundindo nossa tecnologia a partir da gestão da propriedade intelectual produzida na Universidade.
A área de Saúde da Unicamp, que é seu ponto mais forte de conexão com a sociedade, vem enfrentando nos últimos anos um problema de capacidade de atendimento e também de financiamento. Como o sr. espera resolver essas questões?
Celso Arruda - Dentro de um cenário em que a folha de pagamento compromete mais de 90% do Orçamento da Universidade, e considerando as necessidades de custeio da Unicamp como um todo, somente o empenho na busca de recursos externos poderá suprir as demandas da área de saúde, assim como de todas as outras. Nesse aspecto deverá estar presente a motivação aos integrantes da área de saúde para mobilizar o processo de captação desses recursos. Aportes de recursos para eventuais situações emergenciais deverão ser atendidos.
Edson Moschim - O orçamento na área de saúde é deficitário, assim como o é em outras unidades. É óbvio que devemos injetar recursos para operar a máquina. Entretanto, na área de saúde temos retorno financeiro por meio do SUS. Temos que convencer nossos governantes, nas esferas estadual e federal, a implementar um mecanismo mais eficiente de compensação de nossa participação na área da saúde.
O Hospital das Clínicas é visto hoje como a maior ação social da Unicamp. A idéia inicial de um hospital-modelo ficou pequena diante da demanda social. Hoje é impossível querer rediscutir essa questão. Ao contrário, estamos ampliando mais ainda essa extensão na saúde, como é o caso do Hospital de Sumaré. Programas e políticas na área de saúde que ajudem a equacionar o problema de capacidade de atendimento e financiamento são e serão sempre bem-vindos.
Programas de inclusão de deficientes são nobres e serão, caso eu seja escolhido reitor, apoiados pela Unicamp. A capacitação dos funcionários da saúde é fundamental para aprimorar o atendimento público. Acho que na área da saúde teremos um grande desafio futuro, na busca de um modelo mais eficiente de gestão.
José Tadeu Jorge - A área de Saúde é o principal ponto de contato da Unicamp com a população. Seu papel no plano assistencial é insubstituível e seria hoje impensável o bom funcionamento do SUS na região de Campinas sem a presença referencial da Unicamp. Contudo é verdade que, associado a estes aspectos positivos, a área de Saúde tem convivido com um leque de problemas decorrentes, em boa parte, da saturação crônica de sua capacidade de atendimento, da incorporação de custos devido à aquisição de novas tecnologias e das dificuldades de financiamento da área.
Uma questão relevante é a urgente necessidade de implementação de um novo modelo de gestão administrativa, orçamentária e financeira para suas unidades, que proporcione maior flexibilidade de procedimentos administrativos e assegure a qualidade do ensino e dos serviços oferecidos. É preciso também incluir na pauta de discussões com os governos federal e estadual, em ação conjunta com os demais hospitais universitários, a reivindicação de um modelo diferenciado de financiamento para os procedimentos médicos realizados por essas instituições, de modo a fixar sobre bases reais um planejamento orçamentário capaz também de financiar a avaliação e a incorporação de novas tecnologias.
Além de produzir ciência e tecnologia, a Unicamp precisa difundi-la e, sempre que possível, repassá-la à sociedade. Várias iniciativas foram feitas nesse sentido nos últimos anos, como por exemplo a Agência de Inovação. Qual será sua política no campo da difusão tecnológica e das parcerias estratégicas com empresas e com o setor público nesse contexto?
Celso Arruda -A Agência de Inovação (Inova) representa um marco importante na história da Unicamp. E deve receber suportes de infra-estrutura física e recursos humanos, compatíveis com a sua crescente demanda de serviços. Igualmente importante é a destinação de recursos para fazer cumprir o planejamento estratégico iniciado durante a gestão de 1998, honrando assim as prioridades de construção, reforma e ampliação de prédios, a conclusão da construção da nova sede do Instituto de Computação, do de Geociências, do Arquivo Edgard Leuenroth, da Estação de Tratamento de Esgoto e do teatro-laboratório do Instituto de Artes, bem como os demais itens lá previstos e os acrescidos pelo Planes.
Edson Moschim - A produção de ciência e tecnologia é uma coisa que a Unicamp sabe fazer magistralmente. Precisamos sim transformar ainda mais essas pesquisas em uso social. A Agência de Inovação foi um primeiro passo e precisamos aperfeiçoar ainda mais esse mecanismo. A Inova é, acima de tudo, a nossa interface com as empresas de serviços e de transformação de bens sociais. A difusão e o aproveitamento pela sociedade de nossos resultados tecnológicos e científicos serão, também, um grande desafio para a próxima reitoria.
José Tadeu Jorge - A Agência de Inovação (Inova) nasceu com o objetivo de fortalecer as parcerias da Unicamp com a sociedade. Em menos de dois anos, a Inova não só multiplicou o número de parcerias com empresas e com o setor público como também valorizou o estoque de patentes da Unicamp. Junto com o esforço de licenciamento de tecnologias, a Inova vem estruturando, com o apoio do Sebrae, o treinamento de alunos de graduação e de pós-graduação para fazerem a avaliação das tecnologias desenvolvidas na Unicamp e interessar pequenos empreendedores no seu licenciamento. Mais recentemente a Inova criou uma linha de apoio às áreas de humanidades e artes, com destaque para a formatação de projetos culturais apoiados pela lei Rouanet.
Todos esses projetos terão continuidade e serão fortalecidos, sobretudo agora que se prevê, pela Lei de Inovação aprovada em dezembro de 2004, que as universidades e os centros de pesquisa tenham um órgão responsável pela gestão de sua propriedade intelectual. Especial ênfase será dada à busca de parcerias com áreas governamentais, como o recém-criado programa "Inova nos Municípios", e internamente articula-se uma aproximação colaborativa com diversas empresas juniores da Unicamp, que abriga a maior concentração dessa atividade no País.
O leque de atividades de extensão da Unicamp, a começar pela Escola de Extensão, já é bastante amplo. O que falta fazer nesse sentido?
Celso Arruda - As atividades de ensino vinculadas à Extensão, incluindo o suporte ao vestibulando, deverão continuar sendo estimuladas. O zelo pelo uso da logomarca Unicamp neste tipo de atividade deverá ser aumentado, principalmente nos cursos pagos.
Edson Moschim - Vamos lembrar novamente que a Unicamp é uma instituição social. Suas regras e atividades-fim foram concedidas a ela pela sociedade, e essa sociedade exige retorno. Um retorno digno de excelência e qualidade. A Unicamp tem o dever de se comprometer com isso, solidificando seu programa de extensão em todos os sentidos: tecnológicos, científicos, culturais, de saúde. Enfim, servir a sociedade deve ser o principal objetivo de uma universidade.
Extensão é também, na minha visão, um grande laboratório de pesquisa. Ela ajuda ainda mais a aprimorar e a refinar a integração ensino-pesquisa. Vamos ampliar nossas ações na sociedade com uma política cultural afinada com as necessidades da comunidade brasileira. E isso inclui toda a gama de atividades nos mais diversos órgãos da universidade.
José Tadeu Jorge - As atividades de extensão refletem o grau de aproximação da Unicamp com a sociedade. Essa aproximação se dá em geral através da transferência de produtos culturais, científicos e tecnológicos ou mediante a prestação de serviços no plano assistencial da saúde ou da formação especializada. O fato de que esse conjunto de atividades seja vasto não é incompatível com a evidência de que ele é necessário. Em muitos casos é possível e até desejável intensificar e ampliar essa presença da Unicamp no meio social, sobretudo no campo da cultura e dos programas comunitários, através de uma política coordenada que crie condições e forneça apoio institucional para o melhor aproveitamento da infra-estrutura física e dos recursos humanos da Universidade.
Quanto à Escola de Extensão, nos últimos três anos ela teve sua estrutura institucional aperfeiçoada através de uma série de medidas que serão aprofundadas nos próximos anos. Avançou bastante em sua aproximação com as unidades, na reorganização de sua base de dados e na melhoria do atendimento e orientação aos usuários. Hoje a Extecamp tem 2.216 cursos em catálogo e gerencia um volume de atividades formativas que impressiona. A evolução do número de matrículas entre 2001 e 2004 é de 42%, e de 44% o crescimento de horas-aulas ministradas no mesmo período. Um passo importante a ser dado é criar condições para que se potencialize a oferta de cursos de extensão a distância, possibilitando o acesso de alunos de outras regiões e até de outros países aos cursos de extensão da Unicamp.