O Lattes que não está
na Plataforma Lattes
ANA MARIA RIBEIRO DE ANDRADE
Quando Luiz Carlos Bresser Pereira ocupava a presidência do CNPq, em 1999, decidiu homenagear Cesar Lattes emprestando o seu nome à grande base de dados de currículos do país. Hoje, a Plataforma Lattes reúne mais de 400 mil currículos de pesquisadores e estudantes brasileiros, ganhou prêmio e agora é internacional.
Cesar Lattes não cadastrou o seu curriculum vitae na base de dados que o homenageia. Avesso à burocracia, aposentado mas dado a brincadeiras, tramávamos inserir seus dados pessoais e a produção científica na Plataforma Lattes. Obviamente, isto nunca aconteceu porque as conversas com Cesar e Martha Lattes, no saguão do Hotel Paysandu (RJ), eram sempre mais interessantes e divertidas.
Se o cadastro tivesse sido feito, a busca do currículo de Cesar Lattes possibilitaria algumas informações interessantes e contrastantes com a carreira das gerações posteriores de físicos. Em resumo, publicou poucos trabalhos e a maioria não tem co-autores, mas sua contribuição para a física de partículas e raios cósmicos não foi superada por outro brasileiro. O primeiro artigo foi publicado na Revista do Departamento de Física da USP em 1945 e o último artigo em periódico científico saiu na Nuclear Physics, em 1992. Apresentou trabalhos em mais de uma centena de eventos científicos, porém só anotou as participações após 1961. No seu curriculum não há referências a livros, embora tenha publicado capítulos em obras comemorativas de datas singulares: 50 anos da descoberta do píon e aniversários de colegas.
Proferiu centenas de conferências no Brasil e no exterior, especialmente sobre raios cósmicos e acerca da história das instituições que ajudou a fundar, até 2003. Teve muitos alunos mas não orientou tantas teses, por falta de condições de saúde. Sua produção científica é caracterizada por duas etapas de importantes contribuições. Na primeira etapa, incluem-se os artigos referentes a resultados de pesquisas desenvolvidas em laboratórios estrangeiros (1946-1957). Na segunda etapa, os artigos se referem aos resultados da pesquisa em Chacaltaya (1963-1992) do programa de Colaboração Brasil-Japão, realizados principalmente no período que trabalha na Unicamp. Há registros de trabalhos em co-autoria apenas na primeira etapa e nunca assinados por mais de cinco pesquisadores.
Cesar Lattes ganhou todos os prêmios importantes do Brasil, recebeu títulos especiais de países da América Latina, foi indicado para o Nobel e a última homenagem, a Medalha Paulo Carneiro, foi prestada pela Academia Brasileira de Ciências, Academia Brasileira de Letras e Unesco. Esta homenagem de 2005 é incompleta, por falta de informações e porque, entre os títulos que recebeu, não há lugar para incluir o que ele muito valorizava: a designação para nome de ruas, praças, escolas, bibliotecas, centros de ciências em longínquos municípios do Brasil.