A Unicamp, pelo segundo ano consecutivo, foi selecionada para participar do Projeto Rondon, no município de Eirunepé, no Amazonas. A equipe foi formada por seis alunos e dois professores, além de dois jornalistas da Unicamp que acompanharam nossas atividades e que além do registro documental e fotográfico foram responsáveis pela manutenção de um blog (acesse a partir da página www.unicamp.br).
Um dos grandes desafios do nosso trabalho em Eirunepé foi o de realizar uma ação que respondesse às demandas locais de curto prazo e que ao mesmo tempo deixasse sementes servindo de dispositivo para a ação das pessoas que vivem e trabalham no município.
Não foi uma tarefa fácil. Embora tenhamos sido beneficiados pela leitura do relatório-diagnóstico elaborado pela equipe da Unicamp que esteve em Eirunepé em 2005, não conseguimos, efetivamente, nos comunicar com Eirunepé antes de nossa chegada ao município.
Nesta situação optamos por carregar em nossa caixa de ferramentas um conjunto de ofertas que incluía oficinas de trabalho, aulas sobre distintas temáticas e questionários de avaliação da insegurança alimentar no município.
Este último constitui um eixo estratégico de nossa ação e nos possibilitou conhecer a realidade vivenciada pela população mais carente, uma vez que esta foi escolhida, a partir do cadastro da bolsa família, como o alvo prioritário de nossa ação. Ao visitarmos 296 domicílios na zona rural e urbana, junto com agentes sociais e de saúde, interagirmos com parte significativa da população local e, de passagem, desenvolvemos um processo de capacitação “em ato” de trabalhadores do município. Este trabalho viabilizou, a posteriori, a realização de oficinas voltadas para trabalhadores e gestores de saúde local, no qual discutimos problemáticas vinculadas ao desenvolvimento do Sistema Único de Saúde local, tendo como eixo os avanços e desafios para a efetivação de um Controle Social e um modelo de atenção à saúde acolhedor, participativo, democrático e resolutivo.
Além da referida investigação, outras demandas apareceram ao longo da permanência em Eirunepé. O Ibama e prefeitura municipal nos solicitaram a seleção de uma área nova para a disposição do lixo municipal, já que o local do lixão atual está prestes a ser invadido pelas águas do rio Juruá, e está posicionado à montante da cidade e da área de captação de água. Outra demanda foi a realização de levantamento básico do município para embasar a confecção do Plano Diretor e um mapeamento para delimitar as áreas com as condições mais problemáticas no que se refere a saneamento básico, já que parte significativa da população mora em casas de palafita sobre locais alagáveis, o que impede a construção de fossas sépticas.
No encerramento do projeto realizamos, em parceria com a equipe rondonista da Unioeste/Paraná, uma exposição em praça pública de documentário audiovisual sobre as atividades realizadas tendo como intuito a prestação pública de nossas ações.
Do ponto de vista metodológico, consideramos terem sido fundamentais a vivência e o contato da equipe com distintos setores da sociedade local. Sem diminuir a importância dos contatos com os órgãos oficiais e a realização de tarefas junto às instituições locais (escolas, centros de saúde, hospital, etc) julgamos importantíssimo o relacionamento direto com a população – e nela com pessoas concretas e singulares – e com os distintos setores da sociedade civil organizada/em organização.
Em relação às contribuições deixadas para a população local, julgamos que ainda é cedo para termos uma avaliação uma vez que estamos buscando dar continuidade às mesmas através de duas frentes. A primeira, sob a responsabilidade da equipe, pretende dar seguimento e contribuir para a constituição de uma rede de parceria com o setor de saúde de Eurinepé – oficial e não-oficial – através de intercâmbio de idéias e realização de atividades sob a coordenação de dois graduandos da medicina. Nas próximas semanas estaremos consolidando e discutindo com os parceiros da Rede Alimenta (vide www.unicamp.br/redealimenta) os resultados da investigação buscando devolvê-los aos setores interessados de Eirunepé (Prefeitura, Pastoral da Criança, Conselhos de Saúde, etc) apoiando, de passagem, projetos voltados para a temática da “Insegurança Alimentar”. Processo semelhante estará sendo executado pelos graduandos de geografia tendo, como foco, as condições geo-topológicas locais e sua relação com o meio ambiente e a saúde.
Estaremos no mês de março, a partir de iniciativa da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) da Unicamp, realizando seminários de discussão abordando o tema da extensão e o papel social da universidade. Em pauta, entre outras: a) proposta de continuidade do trabalho em Eirunepé, tendo como referência proposta encaminhada por lideranças e autoridades locais; b) divulgação e debate sobre o conjunto de projetos de extensão em curso em nossa instituição; e c) com especial interesse, os desafios acadêmicos (pesquisa, docência e extensão) postos por uma realidade rica e complexa como a aqui relatada.
Valeu a pena? Para professores, graduandos e funcionários da Unicamp a resposta é, com certeza, afirmativa. Todos voltamos mais brasileiros, cidadãos emocionados e, esperamos, comprometidos com os mais carentes. Para as populações amazônicas – aí incluído as pessoas de Eirunepé – a resposta está a demandar a observação e análise dos encaminhamentos anteriormente mencionados. É necessário ir além.