Finalmente consigo aterrissar em Campinas. Agora, consigo olhar para toda a experiência que o grupo viveu de forma mais racional, ou um pouco menos emotiva. É imensurável a contribuição que esta viagem deu-me no campo pessoal, para minha formação moral, cultural etc. Não irei discorrer sobre isso agora. Vou me ater mais às questões acadêmica e profissional. Não há dúvida de que a experiência vivida em Eirunepé constitui-se em oportunidade única para qualquer universitário. É a chance de constatar como é possível atuar na sua profissão e no quanto ela pode contribuir no campo em que se deseja trabalhar, ainda mais em cidades carentes de qualquer apoio técnico, como é o caso de Eirunepé.
A Unicamp sofre um grande problema no tripé que a sustenta. Ela é primazia em pesquisa, reconhecida como uma das melhores no ensino. Entretanto, a questão da extensão é mal interpretada pela comunidade. O que vemos como extensão, no geral, são cursos abertos pagos, ou então a atividade é entendida como um braço do assistencialismo, encerrando-se no atendimento a pacientes nas unidades hospitalares.
É fabuloso o quanto acrescenta, à formação, a real aplicação da extensão. É gratificante sair da Universidade e ir construir junto, criar junto, formar junto com a comunidade. Sem academicismos excessivos, sem educação de deposição bancária. Não saímos de nosso “olimpo” para mostrar “àquelas pessoas infelizes” todo o nosso conhecimento. Saímos sim para que possamos aprender com elas, captar toda a vivência que têm, trocar experiências. Isto é extensão.
Logicamente, ninguém precisa ir até Eirunepé para fazer extensão. Existem muitos projetos por aqui e temos muitas comunidades abertas a isso. Existem projetos com os mais diversos enfoques em Campinas e região ou Estado afora (como no Vale do Ribeira). É mais fácil e mais barato ater-se àquele conceito equivocado de extensão. Logicamente que o aluno também precisa reconhecer mais esse tipo de atividade como um meio de vir a ser um profissional mais ético, humano e em contato com a realidade.
Pensando na vida profissional, afinal faltam menos de 9 meses para me graduar, é preciso começar a me preocupar com isso, o campo é farto! É grande o vácuo de profissionais de formação universitária em Eirunepé e, pelo menos para médicos, o salário é bom. O município é relativamente bem-estruturadO na questão da saúde, apesar de ter problemas gerenciais sérios.
A cidade conta com um hospital estadual bem equipado, com 80 leitos, mas muito sub-aproveitado e com nenhuma articulação com a rede básica de saúde. Esta é constituída por três centros de saúde, cada qual com uma equipe básica de saúde da família; a estrutura é insuficiente. Neles faltam salas, insumos e profissionais integrados ao serviço. O município também carece de profissionais especializados.
Apesar de todas essas dificuldades, para quem tem desprendimento e se permite adaptar a uma cultura e a um modo de vida diferentes dos habituais em São Paulo, é uma idéia cativante. Trabalhar com aquela gente humilde, solícita e contente, que o acolhe de braços abertos, deve ser gratificante. Para quem deseja trabalhar com saúde púbica então, trabalho não falta, o terreno é fértil (apesar de cheio de espinhos). Logicamente que seria um tempo de sofrimento intenso para quem sai daqui para lá exclusivamente atrás de bons salários.
Devo confessar que a região encantou-me, o povo encantou-me e as possibilidades apaixonaram-me. Assim penso seriamente em voltar para lá, a exemplo de Elaine e Laerte (personagens já conhecidos pelos leitores do blog, ambos formados na Unicamp). O futuro a Deus cabe....