Primeiro clube de esperanto do Brasil comemora 100
anos da língua artificial mais difundida no mundo
O idioma sem pátria
Em 1887, preocupado em aproximar e facilitar o entendimento entre cidadãos pertencentes às diferentes nações e culturas que compunham o Império Russo, o oftalmologista polonês Ludwik Lejzer Zamenhof criou o esperanto, língua que, conforme sua pretensão, deveria ter alcance internacional. Dezenove anos depois, em 17 de março de 1906, alguns moradores de Campinas, sob a coordenação de João Keating, professor do então Colégio Culto à Ciência, fundou na cidade o primeiro clube de esperanto do Brasil, o Suda Stelaro (Cruzeiro do Sul, em português).
Os 100 anos da chegada da língua ao país estão sendo comemorados pelos esperantistas desde 16 de março, com a abertura da “Semana Suda Stelaro”. “Além de festejar a data, nós queremos aproveitar essas atividades para divulgar o esperanto. Ao contrário do que muita gente pensa, não se trata de uma língua morta. Mesmo sendo desconhecida por boa parte das pessoas, podemos dizer que ela está mais viva do que nunca e tem cumprido a missão para a qual foi criada”, afirma Jimes Vasco Milanez, estudante da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp e membro do Kultura Centro de Esperanto (KCE), com sede em Campinas.
As atividades que compõem a “Semana Suda Stelaro” se estenderão até o dia 25 de março, com destaque para uma exposição filatélica que está sendo realizada na Biblioteca Central Cesar Lattes da Unicamp. No dia 16 foi lançando um carimbo postal em homenagem ao centenário da língua no Brasil, que traz a efígie de Zamenhof. Nos últimos dias também foram realizados um Festival de Línguas e um ciclo de palestras. “Ainda como parte das comemorações, o KCE e o Grupo Unicamp Esperanto promoverão dois cursos gratuitos de esperanto, um introdutório e um básico”, informa Jimes Milanez. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail: curso.de.esperanto@gmail.com.
‘Eu sabo’ Uma evidência de que o esperanto é uma língua viva e continua promovendo a aproximação entre pessoas de nacionalidades e culturas diferentes é o interesse crescente dos jovens pela língua. Das cinco pessoas que concederam entrevista ao Jornal da Unicamp, quatro têm entre 20 e 25 anos. “Antigamente, a maioria dos esperantistas pertencia a uma faixa etária mais elevada. De alguns anos para cá, porém, é possível notar uma participação maior dos jovens no movimento”, confirma Jimes Milanez. De acordo com ele, alguns fatores ajudam a explicar essa renovação. Primeiro, diz, o esperanto é relativamente fácil de se aprender. Isso ocorre, entre outros motivos, porque a língua, cuja base é o latim e as línguas germânicas, não apresenta exceções, como ocorre no português, por exemplo. A pronúncia é fonética, o que significa que cada letra tem um som. “No português, a criança erraria ao dizer ‘eu sabo’. No esperanto, ela acertaria”.
Outro motivo é o fato de que, ao aprender o esperanto, a pessoa tende a dominar outros idiomas com mais facilidade. Jimes Milanez cita um teste feito com um grupo de estudantes, que foi dividido em duas turmas. A primeira teve dois anos de aulas de francês. A segunda teve um semestre de esperanto e um ano e meio de francês. “Ao final do curso, os que estudaram também o esperanto apresentaram uma maior proficiência na outra língua”, afirma. Por fim, mas não menos importante, o esperanto de fato aproxima as pessoas. “A língua ajuda a criar laços de amizade”, assegura José Joaquín Lunazzi, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW).
Nascido na Argentina, Lunazzi decidiu aprender esperanto ao perceber que outros idiomas, incluído o inglês, não eram eficientes para promover a aproximação e nem facilitar o entendimento entre pessoas de nacionalidades diferentes. “Depois que aprendi o esperanto, essa integração foi muito facilitada. Numa das minhas viagens, fui recebido por uma família de japoneses esperantistas, que abriu sua casa para mim. Graças ao esperanto, eu tive a oportunidade de conhecer a cultura japonesa por meio da intimidade de sua gente. De outro modo, eu teria sido um turista comum, com uma compreensão superficial do país e das pessoas”, conta.
Cem países Lucas Vignoli Reis (estudante do IFGW), Herlen Batagelo e Ricardo Dias Almeida (ambos alunos da FEEC) também destacam a capacidade que o esperanto tem de estreitar as relações humanas. “Com a internet, essa característica ficou ainda mais evidente, pois a comunicação com pessoas de outros países foi facilitada. Atualmente, eu mantenho contato com esperantistas do Congo, Cuba e Japão, apenas para citar alguns exemplos”, afirma Lucas Reis. Segundo Jimes Milanez, o esperanto é falado hoje em cerca de 100 países, por um número não inferior a 1 milhão de pessoas. Esses números, diz, contestam a idéia de que a língua estaria morta ou que, por ter sido construída, não teria cultura própria.
Ao contrário, prossegue Jimes Milanez, o esperanto serve hoje à literatura e à música. “Só para se ter uma idéia, nós temos atualmente no mundo mais de 100 periódicos cujos textos são em esperanto. Há dez anos, a produção não era tão intensa. Até mesmo um dos livros da trilogia O Senhor dos Anéis já foi traduzido para a língua”, informa. Ainda como parte do esforço para divulgar o movimento no Brasil, a Liga Brasileira de Esperanto (www.esperanto.org.br) promoverá entre os dias 15 e 19 de julho, em Campinas, o 41º Congresso Brasileiro de Esperanto. O tema do evento ainda não foi definido. A expectativa dos organizadores é que cerca de 700 pessoas participem do encontro. Em tempo: a palavra esperanto significa “aquele que tem esperança”.
EM ESPERANTO
Unicamp 40 jaroj da historio
por Jimes Milanez
Kiel pri la 100 jaroj post la fondo de la unua Esperanto-grupo de Brazilo, Suda Stelaro, 2006 estas festa jaro ankau por Unicamp. Antau 40 jaroj, je la 5a de Oktobro 1966, estis lanchita la fundamenta shtono de ties centra kampuso, lau la projekto de ghia fondinto, Zeferino Vaz.
Se 40 jaroj estas relative mallonga tempo kompare al la agho de multaj aliaj prestighaj universitatoj, la juna Unicamp jam estas inter la plej gravaj kaj renomaj brazilaj universitatoj kaj respondas pri chirkau 15% de la tuta brazila universitata esplorado. Ghia instruado same havas fortan tradicion kaj ghia porenira ekzameno estas unu el la plej konkuraj de la lando; nuntempe 32.000 studentoj frekventas la kvar kampusojn, en Campinas, Piracicaba, Limeira kaj Paulínia.
Gratulon, Unicamp, pro via datreveno!
(OBS: Por questão técnica, no artigo acima foram utilizados dígrafos no lugar de símbolos usualmente empregados no esperanto.
EM PORTUGUÊS
Unicamp 40 anos de história
Como nos 100 anos da fundação do primeiro grupo de Esperanto do Brasil, Suda Stelaro, 2006 é um ano de festa também para a Unicamp. Há 40 anos, em 5 de outubro de 1966, foi lançada a pedra fundamental de seu campus central, conforme o projeto de seu fundador, Zeferino Vaz.
Se 40 anos é um tempo relativamente curto em comparação à idade de muitas outras universidades de prestígio, a jovem Unicamp já está entre as mais importantes e renomadas universidades brasileiras e responde por cerca de 15% de toda a pesquisa universitária brasileira. Seu ensino tem igualmente uma forte tradição e seu exame vestibular é um dos mais concorridos do país; atualmente 32.000 estudantes freqüentam os quatro campi, em Campinas, Piracicaba, Limeira e Paulínia.
Parabéns, Unicamp, por seu aniversário!