Nos anos 90, queda salarial no setor público foi 36% menor
que no privado
RAQUEL DO CARMO SANTOS
Ao longo dos anos 1990, permeados por crises econômicas no Brasil, o setor público sofreu menos defasagem salarial do que o setor privado. “Na verdade, os dois setores tiveram queda no rendimento, mas o setor privado, mais especificamente o de serviços, esteve mais vulnerável com as desvalorizações do câmbio e a perda da estabilidade”, informa a economista Daniela Verzola Vaz. Em dissertação de mestrado intitulada Rendimento em serviços nos anos 90: o contraste entre funcionários públicos e privados, orientada pelo professor Rodolfo Hoffmann, a pesquisadora buscou comprovar as afirmações de que existem critérios diferentes de remuneração entre funcionários públicos e empregados em serviços do setor privado com carteira assinada.
A partir de comparações estatísticas, tomando como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad), Daniela Vaz apurou que o rendimento médio no setor privado foi 36,4% inferior ao de funcionários públicos estatuários no período de 1992 a 2003. “Existem muitas discussões políticas sobre essa questão. Por isso, minha motivação foi constatar através de números o diferencial entre as duas categorias”, explica. Segundo ela, os principais trabalhos nesta área fazem comparações de gênero e raça e dificilmente abordam categorias semelhantes.
Por outro lado, a economista observou questões interessantes que poderiam justificar, em parte, a lacuna registrada entre os salários. O estudo demonstrou que os profissionais que atuam no serviço público têm maior nível de escolaridade e possuem idade média maior. No ano de 2003, a idade média dos servidores públicos era de 41 anos, enquanto que os empregados com carteira assinada tinham, em média, 33 anos. “Suponho que as pessoas maduras são mais experientes e, por isso, têm condições de assumir tarefas de maior complexidade”, explica. Outra questão a ressaltar se refere aos critérios utilizados pelo poder público para sanar as crises. “A opção neste setor foi por diminuir os cargos de suporte e promover servidores para formulação de políticas públicas ou atuação em áreas chamadas finalísticas, o que também explicaria os salários mais altos”, acrescenta.
No quesito escolaridade, os dados também se justificam. Empregados do setor privado possuem 9,41 anos de estudo contra 11,76 anos dos funcionários públicos. “O nível de escolaridade também ajuda a entender as taxas de retorno financeiro. Embora sejam ocupações semelhantes e com as mesmas características, o valor que se atribui para qualificação até nove anos no setor público é muito maior do que em ocupações do setor privado. Em contrapartida, profissionais com escolaridade superior a nove anos são melhor remunerados no setor privado”, conclui Daniela Vaz.