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CADERNO
TEMÁTICO O Jornal da Unicamp passa a trazer encartado o Caderno Temático, que vai permitir uma abordagem mais aprofundada de grandes temas da atualidade. Começamos com o desemprego, um dos problemas mais agudos vividos pela humanidade, apresentando análises do sociólogo Ricardo Antunes e do cientista político Armando Boito, e um artigo do economista Marcio Pochmann. Os textos do Caderno são de RONALDO FARIA ronaldofaria@uol.com.br DESEMPREGO Hoje o desemprego é a maior preocupação do brasileiro. Torna-se cada vez mais comum vermos em casa um parente desempregado ou um vizinho que sobrevive no subemprego. A atividade informal, temporária, sem vínculo empregatício, ganhou dimensões assustadoras, a ponto de vários estudiosos preverem o fim da carteira de trabalho. Mas quando começou este pesadelo para os brasileiros? Quando o sonho do emprego se transformou na guerra da informalidade? "As metamorfoses do mundo do trabalho" foi o tema da palestra de Ricardo Antunes, professor do Departamento de Sociologia do Instituto de FiIosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, no Seminário de Atualização realizado em 7 de setembro. Antunes deixou claro que, apesar de todo o drama que o desemprego agrega hoje, a situação não deve melhorar nos próximos anos. A tendência é que ela se torne cada vez mais aguda, não escolhendo mais o extrato social que será afetado pelo processo que une neoliberalismo e globalização. "Hoje, quanto mais racional é uma empresa no seu espaço microcósmico, mais irracional é a lógica societal. Porque o que se vê são as empresas oferecendo cada vez mais desempregados para o mundo", afirma. "O emprego talvez seja o tema mais candente da humanidade. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, há no mundo cerca de 1,2 bilhão de homens e mulheres sem emprego ou exercendo trabalhos parciais, precários e temporários. Com um sério agravante: este dado pode estar desatualizado. A realidade pode ser pior", observa. Segundo Ricardo Antunes, em 1994 o índice era de 750 milhões de pessoas nessas condições, mas no período de cinco a seis anos o número de desempregados e precarizados quase dobrou. "A cidade de São Paulo tem um desemprego real próximo de 20%. Não vou discutir taxas oficiais, porque variam muito os critérios que definem qual o tempo para se considerar um trabalhador desempregado. Campinas, como grande pólo industrial que é, não está distante dessa realidade trágica". A população economicamente ativa no Brasil gira em torno de 72 milhões de pessoas. Mas somente 22 milhões têm emprego formal. Assim, aproximadamente 50 milhões de homens e mulheres desta população ativa estão sem carteira de trabalho, vivendo de atividades informais. "Trabalho informal é o empregado desempregado ou o desempregado empregado. Hoje ele tem salário, amanhã não tem. E nunca conta com direitos sociais, porque não possui carteira de trabalho", acusa o professor do IFCH. Como animais Ricardo Antunes ressalta que esta situação explosiva não é infortúnio apenas do Brasil, pois atinge um terço da força humana mundial em idade produtiva, dentre um total de 4 bilhões de pessoas. "A lógica que preside a sociedade é cruel: um terço da humanidade é descartável. Como uma seringa. O mesmo não se deveria fazer com homens e mulheres que dependem do trabalho, única via para sua reprodução e da família, para a própria reprodução social". De acordo com o sociólogo, nos últimos 25 anos, especialmente de 1973 para cá, aconteceram mudanças profundas no mundo contemporâneo. Ao contrário do período entre as décadas de 40 e 60, que foi de expansão econômica, houve a crise do petróleo paralisando o crescimento mundial. Ele explica que as mudanças vieram com a derrocada dos modelos fordista e taylorista, que serviram de guia para a indústria mundial. "A base da indústria que se consolidou no século 20 foram esses modelos. Da produção de automóveis (Ford, GM, Volks, Fiat), passando pelos McDonalds (os famosos fazedores de hambúrgueres), até os bancos, todos tinham o sistema taylorista e fordista de funcionamento. E o que é isso? É uma divisão muito rígida de trabalho, cronometragem de tempos e movimentos, produção o mais homogênea possível, seriada, trabalho parcelado, vertical e com uma clara diferença entre a gerência científica e os trabalhadores". O forismo tornou-se, como ensinou o italiano Antonio Gramsci, uma forma de "civilização" do capital. "Henry Ford dizia que a gerência científica pensa, e os trabalhadores, a exemplo dos animais, executam. A concepção que Ford tinha do trabalhador era a de um ser dotado de intenso ritmo produtivo. A ele só caberia, sob controle rígido dos tempos e dos movimentos, produzir intensamente", lembra Antunes. Mas tal sistema não resistiu às transformações econômicas em nível mundial, como enfatiza o professor: "Uma das manifestações da crise desses modelos se deu em 1973, com a superprodução. Produzia-se muito, mas o mercado consumidor, retraído por causa da crise, não consumia". Ricardo Antunes afirma que a partir da década de 70 os capitais mudaram seu raciocínio. "A fábrica moderna dos tempos modernos, da era da reestruturação produtiva, é uma fábrica enxuta, flexível e que produza não mais um Ford Modelo T, na cor preta, mas o carro que o consumidor quiser". Assim, a partir da crise do petróleo, o sistema produtivo descobriu a necessidade de saltar para um novo estágio. Um estágio pelo qual nenhuma nação ou cidadão passará incólume. |
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