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1 2 3 45 6/7 8/9 10/11 12/13/14/15 16 17 18 19 20 Jornal da Unicamp - Novembrode 2000 Tapando o sol com a peneira Pesquisa revela abismo existente entre a universidade e a comunidade Os pequenos portos de areia de Araçariguama, no Estado de São Paulo, guardam mais que as técnicas de extração dos areeiros, legadas de pai para filho. Eles guardam também uma sabedoria popular cada vez mais ignorada pela comunidade acadêmica. A constatação é de Sandro Tonso, professor de Educação Ambiental do Centro Superior de Educação Tecnológica (Ceset) da Unicamp, instalado em Limeira. A investigação meticulosa feita por Tonso comprova que a distância entre os dois universos faz com que ambos os lados saiam prejudicados: a universidade passa a desempenhar um papel secundário para a sociedade, na mesma proporção em que a comunidade dificilmente tem contato com os conhecimentos científicos no seu cotidiano. Para acabar com o ruído na comunicação e quebrar a distância que separa os dois mundos, o professor sugere o desenvolvimento de uma ação realmente participativa, que integre os campi universitários à comunidade. "Todos perdem quando não há um canal eficiente para a troca de informações", explica Tonso. As conclusões integram sua tese de doutorado "A Universidade e o Setor Areeiro: As Dificuldades de um Diálogo Possível", defendida em agosto último no Instituto de Geociências. A extração de areia - um mineral agregado, no jargão técnico - foi o pano de fundo para estudar a complexa relação entre a universidade e uma determinada comunidade. Tonso percebeu que o conhecimento das técnicas da produção de areia em Araçariguama é passado de geração em geração. Ao mesmo tempo, a maior parte dos acadêmicos de três universidades públicas (da USP, Unicamp e Unesp) produz teses sem considerar a complementaridade entre estes dois tipos de conhecimento. "A pergunta que nós devemos fazer é qual o nosso papel social?", diz ele, que analisou 801 trabalhos acadêmicos para fundamentar seu estudo. A escolha do tema extração ocorreu porque este tipo de mineração, como escreve o autor em sua tese, "está fortemente relacionada com toda a dinâmica urbana, seja do ponto de vista das construções de casas, setores comerciais, indústrias e demais equipamentos sociais - como escolas, creches, hospitais, bibliotecas etc. - seja pelo setor das infra-estruturas de saneamento básico, como esgoto, tubulações de água tratada, passando por toda a pavimentação, arruamento etc." Em síntese, a dinâmica do setor de mineração dos bens agregados está diretamente relacionada ao crescimento e desenvolvimento urbano de uma determinada região. Também por isso o autor optou pelos pequenos portos de areia, que possuem uma grande importância social e local sem ter, contudo, grandes impactos na economia da região onde estão localizados. "Mas eles causam um grande impacto ambiental, gerando a necessidade de uma abordagem múltipla", observa Tonso. Abismo - Em sua tese de doutorado, que teve orientação da professora Rachel Negrão Cavalcanti, Tonso levantou quatro hipóteses para caracterizar o abismo que existe entre a Universidade e Sociedade. Em primeiro lugar, destaca o professor, a Universidade "parece não se interessar em trabalhar com as coisas do cotidiano". Ao falar sobre uma das possíveis causas, ele é enfático: "Esses temas de demanda predominantemente social tratam de questões locais que dificilmente geram artigos em revistas internacionais". Seguindo sua linha de raciocínio, surge o segundo ponto. O saber acadêmico tende a ser compartimentado, ou seja, analisa a partir de perspectivas muito específicas, desconsiderando a complexidade da realidade. "Boa parte das metodologias científicas tende para a especialização de determinado tema, que é importante, mas perde o contexto social", observa. O terceiro ponto que provoca esse isolamento entre os dois mundos é o que ele chama de hierarquização dos saberes. "Quem tem nível superior olha com arrogância para o cidadão comum. O mesmo acontece no sentido contrário. Cada um, a seu modo (conhecimento teórico e a prática cotidiana), fica em um pedestal. Isto é um obstáculo para o diálogo". Por fim, entra no campo da linguagem, a forma básica do relacionamento humano. "Cada um fala a sua língua e parece não se esforçar para entender e ser entendido". Apesar da constatação dessa distância, Tonso acredita que há meios para recuperar o tempo perdido e traçar políticas de comunicação eficientes entre Universidade e Sociedade daqui para frente. "Basta vontade para que todos sentem à mesma mesa para uma conversa, para somar". Ele mesmo pretende discutir a linha central de sua tese com outras pessoas interessadas no assunto. Tanto que fez questão de deixar seu e-mail para contato. É sandro@unicamp.br. |
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