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1 2 3 45 6/7 8/9 10/11 12/13/14/15 16 17 18 19 20 Jornal da Unicamp - Novembro de 2000 O som na cabeça Pesquisa
sobre o compositor Lô Borges é a mais votada pelos
visitantes do Você
emprestou seu violão ao Lô? O diálogo acima foi extraído do livro Os sonhos não envelhecem (Histórias do Clube da Esquina). É uma conversa mineira, onde Milton Nascimento questiona o letrista Márcio Borges sobre os progressos do irmão, Lô , que na época tinha apenas 10 anos de idade mas já entusiasmava os freqüentadores dos encontros promovidos na casa. Se eles tinham que cuidar, o fizeram muito bem. Aquele dedilhar de cordas remetia ao que é hoje um dos mais consagrados representantes da música de Minas Gerais. Aos 14 anos, o "irmãozinho" já fazia parte do prestigiado Clube da Esquina, em Belo Horizonte. Hoje, aos 47 anos, Lô Borges toca como ninguém violão, piano e guitarra, e assina seis LPs e um CD, além de ter composições interpretadas por grandes nomes da música brasileira, inclusive o maestro Antonio Carlos Jobim. A paisagem da janela lateral de um quarto de dormir, aberta para as montanhas de Viçosa cidade da Zona da Mata inspirou a pesquisa de Thaís Alvim Nunes, aluna do terceiro ano de música da Unicamp. O projeto "Buscando a essência da música de Lô Borges" ficou em primeiro lugar na votação feita pelos visitantes do 8o Congresso de Iniciação Científica da Universidade, em meio a 500 trabalhos. "Acho que escolheram minha pesquisa pela limpeza visual e sobriedade das cores", afirmou Thaís, surpresa como o resultado, já que o Instituto de Artes é representado por menor número de trabalhos. Ela omitiu, contudo, que o público talvez tenha se cativado por seu talento ao cantar Para Lennon e Mcartney, um dos maiores sucessos do compositor, durante a exposição do painel. Nascida em Tupaciguara e, portanto, tão mineira quanto seu entrevistado, Thaís tem 23 anos e desde muito pequena vem sendo incentivada ao piano, por mãe e tia, ambas pianistas. Quando o disco Clube da Esquina foi lançado, ela nem estava no mundo. Descobriu Lô Borges somente aos 18 anos, tornando-se fã da música mineira autêntica. Justamente visando compreender a concepção e o vocabulário desta música, Thais utilizou a bolsa oferecida pelo Serviço de Apoio ao Estudante para vasculhar a vida do artista. E teve a ajuda do próprio Lô Borges, que se preocupou em apresentar pessoalmente o lugar onde nasceu e cresceu e as pessoas com as quais conviveu. A história contada pelo compositor teve influência decisiva em suas criações. "Lô Borges representa uma época. Viveu um mundo de transformações, guitarras elétricas, cabelos compridos, Beatles... Mas por que a arte dele é tão diferente se comparada à dos outros?". Esta particularidade é o que orienta a pesquisa de Thaís. Para o mundo Um jovem de composições nada comerciais, levado por pura inspiração e fiel nas relações com a família e amigos como Milton Nascimento, seu maior incentivador, e Beto Guedes, companheiro que fez questão de carregar consigo para o Rio de Janeiro, a fim de divulgar a nova música mineira, que depois acabou ganhando o mundo. Mas Thais observa que é bem diferente ouvir a obra do Clube da Esquina em qualquer outro Estado, sem uma janela para as montanhas mineiras. "Aprendi a ouvir Lô em Viçosa, onde comecei um curso de arquitetura. Se tivesse ficado em Tupaciguara, talvez não tivesse conhecido a música mineira." Apesar de ter nascido no mesmo Estado que os rapazes da Esquina, ela tinha tendência para o banquinho e o violão de Joyce, entre outros nomes da música carioca. Rendeu-se ao talento de Lô Borges, como Jobim, que gravou Trem Azul. A análise da harmonia, melodia, forma, instrumentação, timbres e interpretação levou Thais até um artista nada convencional em termos de utilização dos elementos musicais. O próprio compositor confessou a ela, durante suas conversas, que suas músicas têm pouco a ver com regras de composição musical. Quanto ao estilo, um Lô é inspirado por fontes bem distintas. Ora a influência dos Beatles, ora do jazz, ora regionalíssimo e, de repente, um Trem Azul bossanovista. Vem dele também a confissão de que era um ouvinte passivo, antes de tentar seus próprios dedilhados. A obra do artista mineiro permitiu o estudo cuidadoso de um vocabulário extremamente musical, sem que a pesquisadora se perdesse em meio às letras, mesmo porque 90% delas foram escritas pelos parceiros Márcio Borges, Fernando Brant e Ronaldo Bastos. Segundo Thais, que foi orientada pelo professor Antônio Carvalho dos Santos, o compositor "traduz em canção a visão de mundo de um povo, de um lugar, de uma época e de uma geração". Mais que aprender, fazer Grande parte dos estudiosos, ao ingressar numa universidade, traz na mente um sonho: o de realizar, mudar e melhorar. Não poderia ser diferente na Unicamp, onde já na graduação o que "rola" na cabeça dessas pessoas, muitas saindo da adolescência para a juventude, pode ser colocado em prática. Por meio de recursos fornecidos por agências de fomento como CNPq, Fapesp, Pibic ou pelo Serviço de Apoio ao Estudante, muitos sonhos, como o de Thais Alvim e de outros 500 alunos, se materializam em projetos de iniciação científica. Mais do que culturais, eles colaboram com o desenvolvimento e, em alguns casos, com a organização social. "Meu trabalho apresenta ao público a história de um artista brasileiro, por isso acho que ele tem benefício cultural", diz Thais. Os cinco trabalhos premiados respondem a uma das propostas universitárias que é disseminar conhecimentos e servir à sociedade. "A idéia é estimular a prática do fazer, para que o aluno não se restrinja à prática do aprender", salienta o pró-reitor de Graduação Angelo Cortelazzo. Como reconhecimento e estímulo, a Unicamp entrega aos autores dos cinco trabalhos mais votados certificados de honra ao mérito em cerimônia no próximo dia 9 de novembro. Alguns trabalhos, mesmo não estando relacionados, deverão fazer parte de publicações internacionais; outros já estão com seus resultados disponíveis para consulta pública na Internet. Outros escolhidos Tradição Nagô O público foi realmente atraído pela música, que nesse caso serviu de base para um trabalho de expressão corporal. Os elementos simbólicos do canto Nagô inspiraram a criação coreográfica do estudante de artes corporais Kleber Damaso Bueno. O tema "Tradição Nagô e dança contemporânea: uma elaboração do mito" foi o segundo mais votado pelos visitantes do Congresso. Identidade social "Eu sabia que meu trabalho seria eleito porque minha dedicação grande", festeja Mônica Maria Barbosa Leiva de Lucca, terceira colocada na opinião do público. O painel "A construção da identidade social da comunidade do Assentamento 12 de Outubro do Horto Vergel, em Mogi-Mirim, segundo Mônica, chamou a atenção por conseguir trazer os sujeitos do assentamento para a comunidade universitária, por meio de fotos e registros. Produção de frangos Pesquisa desenvolvida pelo estudante de matemática Marcos Rogério Sanches, visando um modelo para indicar a melhor época de comercialização de animais, foi a quarta mais votada entre os painéis. Para executar o projeto "Modelo para lucro na produção de frangos", Sanches utilizou dados obtidos junto ao próprio comércio de corte. |
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