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1 2 3 45 6/7 8/9 10/11 12/13/14/15 16 17 18 19 20 Jornal da Unicamp - Novembro de 2000 O japão colorido à mão Cartões postais expostos na Unicamp revelam um país em transição As mensagens escritas no verso de 63 cartões postais expostos na mostra Vistas Antigas do Japão (1890/1930) são saudosas, singelas e respeitosas. Estão lá as declarações de amor, indagações sobre a saúde do destinatário, comentários fortuitos, pequenas confidências, recados para os filhos, breves relatos do cotidiano, bobagens de fim e de começo de século...Telegráficos, por força da limitação espacial, os escritos servem de pano de fundo para imagens que opõem o feudal e o cosmopolita, o campo e a metrópole, o artesanal e o mecânico, o onírico e o real. Estão lá o litoral recortado, os artistas de rua, o singrar dos juncos, os bondes de Tóquio. Estão lá o tear, o poço, os montes, os rochedos, o riquixá, o santuário, a jovem com sombrinha, a jovem com quimono, a casa de chá, a plantação de chá, cenas de batalha, o porto, a cascata. Está lá o país que emerge como potência. Um fio condutor imperceptível alinhava, na exposição, componentes históricos e artísticos. A ruptura do isolacionismo milenar, causada pela chegada, em 1853, de uma frota de guerra americana que impõe a abertura dos portos, acarreta mudanças significativas nos hábitos e nos costumes japoneses. Com a arte não poderia ser diferente, como retratam os cartões doados pelo professor Luiz Dantas, diretor do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), ao acervo do Centro de Documentção Cultural "Alexandre Eulalio" (Cedae), local da exposição. As fotografias em preto e branco revelam como os japoneses não só mimetizaram a arte do enquadramento, da luz e das paisagens, como imprimiram uma espécie de olhar próprio a partir de uma tecnologia que chegou com os "invasores". Mais: com o declínio da xilogravura, os artistas deixaram os ateliês e migraram para o ofício de colorir as fotos à mão. Segundo Dantas, os trabalhadores da estampa japoneses, fontes inspiradoras da grande revolução da pintura européia que foi o impressionismo, surpreendem ao subverter o sentido da composição na arte de colorir as fotografias. "Não é um colorido uniforme, realista. O que se vê ali é um pouco da escolha particular, há uma forma estilizada de tratar a cor, que é particular ao japonês e seu sofisticado sistema de convenções estéticas". Nada escapa aos coloristas, sobretudo no que diz respeito aos temas consagrados à natureza, cuja veneração por parte dos japoneses remonta à religiosidade. "Existe no Japão uma tradição de contemplação da natureza compatível com o budismo zen e com o xíntoísmo", explica Dantas. O professor adquiriu boa parte dos cartões expostos na França, onde defendeu tese sobre a visão que o escritor Aluisio Azevedo tinha do Japão da virada do século. O romancista, que serviu como diplomata em Yokohama, foi um dos primeiros brasileiros a escrever sobre as transformações que ocorriam no país. "O olhar de Azevedo era, no fundo, muito nostálgico. O tempo todo ele se maravilhava com aquilo que achava exótico, diferente. Ao mesmo tempo, há uma impressão um pouco melancólica de uma transformação inexorável, uma espécie de fatalidade do sistema colonialista", avalia Dantas, para quem a visão do escritor era ingênua por não perceber que o Japão já havia se colocado voluntariamente na atualidade, competindo em pé de igualdade com as grandes potências ocidentais. A mostra desnuda essa superposição. Estão lá os flagrantes da guerra entre Japão e Rússia, em Port Arthur, na China. Estão lá as cerejeiras em flor. Está lá a poesia. Imagens
Antigas do Japão (1890-1930) |
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