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Os frutos da autonomia
Estudo revela que decreto de 1988 contribuiu para a expansão das universidades estaduais paulistas
ROBERTO COSTA
A
autonomia
das universidades estaduais paulistas foi importante para garantir
que não se repetisse aqui o que aconteceu nas federais,
que têm sofrido um processo de sucateamento desde meados
da década passada". A avaliação é
do economista Leonardo Velasco Rondon em sua dissertação
de mestrado defendida junto ao Instituto de Economia da Unicamp.
Rondon se debruçou nos últimos dois anos sobre
anuários das universidades paulistas e indicadores do
Ministério da Educação para conhecer como
ocorre o financiamento do ensino superior no Brasil, tendo como
base a experiência da Unicamp. O economista constatou,
por exemplo, que entre 1995 e 1998, o orçamento da Unicamp
cresceu 35%, enquanto nas federais o aumento foi de apenas 7,7%.
Desempenho semelhante se deu na USP e na Universidade Estadual Paulista (Unesp), que a partir de 1989 passaram a ter seu orçamento baseado na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do Estado, por meio da autonomia universitária. Nas universidades federais, ao contrário, aconteceu um achatamento, já que a dotação se baseia em verba definida pelo orçamento da União, cada vez mais escassa.
A tarefa de Velasco foi em parte facilitada por algumas situações temporais. Uma delas o fato de seu orientador, o professor Mário Ferreira Presser, do Instituto de Economia, ter sido o responsável pela área de planejamento da Unicamp até abril deste ano. Na banca de dissertação estava ainda o professor Hélio Nogueira da Cruz, atual vice-reitor da Universidade de São Paulo (USP), que coordenou o planejamento estratégico na gestão anterior.
A concessão de bolsas para a pós-graduação por parte das agências de fomento federais, de acordo com o levantamento, foi o setor mais afetado. Como as universidades federais possuem nesta fonte um de seus principais recursos, a diminuição das verbas da Capes, Finep e CNPq acabou prejudicando o setor. Na Unicamp, a Capes reduziu de R$ 19 milhões para R$ 14 milhões seus financiamentos entre 1997 e 1999. No CNPq eles caíram de R$ 29 milhões para R$ 19 milhões em igual período. Já no caso das estaduais paulistas, a diminuição de bolsas foi recompensada pelo aumento significativo recebido da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Só na Unicamp a financiadora paulista investiu R$ 34 milhões em 1997, R$ 46 milhões em 1998 e R$ 77 milhões em 1999. Embora parte desse dinheiro tenha sido destinada ao pagamento de bolsas, no montante há parcela significativa que se destinou à infra-estrutura do ensino, como construção e reequipamento de laboratórios e aquisição de livros para bibliotecas, entre outros itens.
Extra-orçamentário - Além de ter sua cota fixa no orçamento do Estado, a Unicamp cresceu seu ativo, a ponto de em 1999 os recursos extra-orçamentários alcançarem o equivalente a 51,4% da verba do ICMS. Certamente isso contribuiu para que aumentassem as vagas na graduação e na pós e para que houvesse melhora nas condições de seus laboratórios de pesquisa e ensino.
De acordo com Leonardo, os estudantes de doutorado da Unicamp representavam, em 1997, 38,6% do contingente de alunos do conjunto das universidades federais. Percebe-se, portanto, que a dedicação ao doutorado nas estaduais é bem maior que nas federais, fator estimulado pelos incentivos financeiros.
Há outros indicativos do crescimento das estaduais paulistas com a fixação do orçamento. O número de alunos matriculados na graduação da Unicamp cresceu 55,1% entre 1989 (ano da autonomia universitária) e 1999. Os diplomados representaram acréscimo de 61,6%, as matrículas na pós-graduação 74,1% e as dissertações de mestrado e teses de doutorado subiram 165,3%. Também a produção científica mensurada por artigos indexados no Science Citation Index (SCI) cresceu 179,9% entre 1993 e 2000. A USP, que usa os dados do Institute of Scientific Information (ISI), teve aumento de 157,3% no mesmo período.
Gastos Comprometem atividade-fim
Se os números de investimentos são crescentes, há problemas que podem inviabilizar o financiamento do ensino, sua atividade-fim. O grande comprometimento com pagamento de pessoal, gastos com inativos, sustentação de hospitais universitários e pagamento de precatórios estão na lista das preocupações. Na Unicamp o comprometimento com a folha de pessoal, que já foi de 64,4% em 1989, chegou a 91,8% em 1998. Já os gastos com aposentados, que representavam 3,3% da folha de pagamento em 1989, consumiram 17,8% dos recursos em 1999.
Conforme levantamento de Leonardo, o comprometimento com inativos nas federais é maior, mas a tendência é que cresça mais nas estaduais, como é o caso da Unicamp. Da mesma forma a Unicamp dispendia 12,83% de seu orçamento com a manutenção e funcionamento da Área Hospitalar em 1988. Em 1992, esse patamar subiu para 20,4%, permanecendo estável desde então. Apesar de ser um problema menor, o pagamento dos precatórios também não pode ser descartado.
A controvérsia sobre o custo-aluno
A velha história do custo-aluno vem à tona quando se pensa no financiamento do ensino. De acordo com o Banco Mundial, em 1997 o custo médio de um aluno de graduação nas universidades federais, levantado a partir de informações obtidas junto ao Ministério da Educação, era de R$ 15 mil. O organismo internacional, contudo, não leva em conta que há outras despesas incluídas nesse total, como o funcionamento de um hospital universitário. Simplesmente divide o orçamento pelo número de alunos matriculados.
No caso da Unicamp, se fosse obedecida esta regra e levando em conta dados de 1998, cada aluno de graduação custaria R$ 43 mil. Mas não é essa a realidade, conforme Leonardo. Se retiradas as despesas com hospitais, aposentadorias e precatórios, o custo já cairia para R$ 29.500. Mais: seria de R$ 16.108, caso fosse incluído o contingente de alunos da pós-graduação. Por fim, a estimativa de custo de um estudante da Unicamp chegaria a R$ 11.077, se fosse atribuído peso dois aos alunos da pós-graduação, conforme sugerido na literatura internacional. Para reforçar este número, Leonardo Rondon constatou, a partir de um documento do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), que a abertura de uma nova vaga na USP, Unicamp ou Unesp custaria aproximadamente R$ 7.200.
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