199 - ANO XVII - 18 a 24 de novembro de 2002
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Projeto Aquisição de Linguagem faz 25 anos

Seminário discute trajetória de grupo pioneiro
que se dedicou ao estudo da fala da criança

ANTONIO ROBERTO FAVA


A professora Maria Fausta Pereira de Castro: "Contribuição da professora Cláudia foi extremamente valiosa"
Há 25 anos um pequeno grupo de professores foi responsável pela criação na Unicamp daquela que seria uma das mais importantes unidades de ensino e pesquisa da Universidade: o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Por coincidência, também em 1977, era fundado no IEL o Projeto Aquisição de Linguagem, formado por pesquisadores dedicados ao estudo da fala da criança. O projeto conta hoje com filiações teóricas internacionais.

Foi para discutir e avaliar a sua história e abrangência que o IEL realizou recentemente o Seminário Comemorativo dos 25 anos do Projeto Aquisição de Linguagem em homenagem à professora Cláudia Lemos, que idealizou e coordenou o referido projeto.

Um dos temas apresentados durante o seminário foi O projeto de Aquisição da Linguagem: os caminhos de seus membros fundadores, do qual participaram as docentes responsáveis pela criação do projeto: as professoras Maria Fausta Pereira de Castro, Maria Cecília Perroni, Rosa Attiée Figueira e Ester Miriam Scarpa.

"Na época de sua criação, o financiamento, obtido na Fapesp para o período 1977-1979, foi o primeiro do gênero para as ciências humanas. Foi comemorado como prova de reconhecimento do IEL como instituição", diz a professora Maria Fausta Pereira de Castro, do Departamento de Lingüística.

A aquisição da linguagem corresponde a uma área de investigação da lingüística. Mas a lingüística, enquanto ciência, não pode ser meramente aplicada à descrição e explicação da fala da criança. É preciso procurar um instrumental de aproximação peculiar. "Nesse sentido, podemos dizer que a reflexão teórico-metológica da professora Cláudia deu uma contribuição extremamente valiosa para o reconhecimento da resistência que a fala da criança oferece ao investigador", explica Fausta.

Na época de sua fundação o Projeto tinha como objetivo traçar relações entre "desenvolvimento cognitivo e desenvolvimento lingüístico". Este título testemunha, ao mesmo tempo, o alcance dos fenômenos abordados e a amplitude de seus corpora (conjunto de dados), constituídos por três grupos: o primeiro, de quatro crianças, gravadas semanalmente com idade entre 1 a 5 anos; o segundo, constituído de outras três entre 2,6 a 5 anos e, finalmente, um terceiro grupo composto por crianças que já haviam sido gravadas e cujos dados já estavam transcritos.

Os integrantes do Projeto enfrentaram a árdua tarefa de gravar e de transcrever as sessões de gravação, mas pode-se medir o resultado de todo o esforço não só pela produção acadêmica gerada como também pelo acervo que tem sido a base de dados para diversos estudos em aquisição de linguagem realizados em todo o Brasil. O acervo está hoje no Centro de Documentação Alexandre Eulálio (Cedae) do IEL e é composto de centenas de fitas gravadas e 505 sessões já transcritas.

"A idéia central do projeto foi estudar as particularidades da fala da criança na sua relação com a língua", diz Fausta. É importante considerar que desde o início o projeto se propunha a tomar a fala da criança como uma empiria possível. "Ou seja, um lugar de onde se pudesse interrogar a teoria lingüística", observa a professora da Unicamp. E mais: outro aspecto importante nesse processo é que o Projeto de Aquisição de Linguagem já nasceu tecendo considerações a respeito das dificuldades teóricas de se relacionarem os modelos da psicologia do desenvolvimento aos modelos lingüísticos em estudos sobre a aquisição da linguagem.

Hoje o projeto idealizado pela professora Claudia Lemos tem filiações espalhadas por diversas cidades brasileiras como São Paulo - onde há um grupo coordenado pela professora Maria Francisco De Vito, "Aquisição e Patologia da Linguagem" - Rio de Janeiro, Goiânia, Maceió, Recife, João Pessoas e Rosário e Buenos Aires, na Argentina.

Um legado de excelência

Idealizadora do projeto, a professora Cláudia Lemos foi homenageada pelos participantes do encontroDeixar de trabalhar? Essa é uma idéia que parece jamais ter passado pela cabeça da professora Cláudia Lemos, personagem central das homenagens no seminário dos 25 anos do Projeto de Aquisição da Linguagem. Foi uma homenagem até que simples a Cláudia Lemos pelo seu intenso trabalho de pesquisa na área. Muitos foram os pesquisadores diretamente orientados por ela ou que, motivados pela sua reflexão, souberam reconhecer a abrangência e a pertinência de suas hipóteses sobre a fala da criança.

Aos 67 anos, Cláudia Lemos, que é também psicanalista, raramente trabalha menos que dez horas por dia. Ela diz que só vai parar de trabalhar "quando não tiver mesmo outro jeito, quando minhas pernas já não me obedecerem e minha cabeça começar a dar sinais de fragilidade". Trabalhou na Unicamp até 1996 quando então se aposentou. Pesquisadora colaboradora da Unicamp e contratada pela USP, atualmente trabalha no CNPq, atuando no Comitê Assessor de Letras e Lingüística. É membro da Escola de Psicologia de Campinas.

Para Cláudia, o trabalho que implantou na Unicamp há 25 anos e que, com o tempo, passou a ser aplicado também em universidades e instituições de pesquisa, não apenas brasileiras, "se filia à minha linha teórica a partir dos questionamentos sobre a fala da criança e a linguagem de um modo geral". A contribuição dessas instituições tem sido decisiva para a difusão para o trabalho de Cláudia Lemos. "Não apenas como meras reprodutoras e nem aplicadoras. Mas sim participando decisivamente desse processo de reflexão", explica a professora.

O Projeto de Aquisição de Linguagem, nos termos em que funcionou durante vários anos, não existe mais. Hoje há o "Grupo de Pesquisa em Aquisição de Linguagem", coordenado pela professora Fausta, e que conta com a presença de dois outros membros fundadores do Projeto – as professoras Rosa Atiée Figueira e Maria Cecília Perroni – além de jovens doutores e estudantes de mestrado e doutorado. A professora Ester Miriam Scarpa coordena um outro grupo: "Prosódia: aquisição e patologia da linguagem".