Certificação coloca Hospital de
Sumaré entre os melhores do país
Hospital
administrado pela Unicamp e mantido pelo governo do
Estado vira referência no atendimento
RAQUEL
DO CARMO SANTOS
|
O médico Lair Zambon, diretor do Hospital
Estadual Sumaré: O hospital vem cumprindo
o seu papel na regionalização da
assistência hospitalar
|
A que faz com que um hospital público
universitário dê certo num momento em
que uma crise financeira atinge quase a totalidade
das instituições do gênero no
país? Não dá para destacar
apenas um fator, são diversos os motivos que
podemos enumerar, responde Lair Zambon, diretor
do Hospital Estadual Sumaré (HES) que, recentemente,
alcançou o certificado de Acreditação
Plena nível 2, instituído pela Organização
Nacional de Acreditação (ONA), entidade
credenciada pelo Ministério da Saúde.
Esta certificação
coloca a instituição em um padrão
de excelência no atendimento entre os melhores
do país, pois foi o primeiro hospital público
a conseguir este nível de qualidade. No final
do ano passado, o HES, mantido pela Secretaria de
Estado da Saúde e administrado pela Unicamp,
conquistou a certificação de nível
1. A expectativa, no momento, é conseguir a
certificação nível 3. Segundo
Zambon, perto de 50% das áreas já estão
dentro dos critérios estabelecidos para alcançar
a nova marca.
O melhor dos prêmios, porém,
é a influência positiva na área
de saúde da região em que está
localizado, afirma a gerente de qualidade, June Barreiras
Freire. O hospital serve a uma região com pouco
mais de 600 mil pessoas e presta assistência
em nível secundário e terciário.
Realiza em média, mensalmente, perto de 1.200
internações, quase mil cirurgias, aproximadamente
seis mil consultas especializadas e 300 partos. Temos
indicativos apontados pela diretora da Vigilância
Epidemiológica de Sumaré, da redução
do índice de mortalidade infantil, em 2002,
que baixou de 13 para 10, após a instalação
do HES, ressalta June.
Nos municípios de Santa Bárbara,
Monte Mor e Nova Odessa outro indicativo do bom funcionamento
do hospital é que a fila de espera nestas cidades,
para cirurgias em diversas especialidades, foi zerada.
Todos esses indicadores nos trazem entusiasmo,
pois significa que o hospital vem cumprindo o seu
papel na regionalização da assistência
hospitalar, destaca Zambon.
O diretor revela que em primeiro
lugar a condição de estar vinculado
à Unicamp já é um quesito fundamental
para justificar o padrão de assistência.
O ensino ganhou muito com a instalação
do HES e também o perfil de funcionários
se consolidou com um quadro muito bom, comemora.
Ele acredita que hoje a estrutura do hospital é
importante para a Faculdade de Ciências Médicas,
que mantinha uma lacuna no ensino de casos secundário
pleno e parte do terciário. O modelo de contrato
de gestão que apresenta um funcionamento diferenciado
merece destaque.
Outro aspecto importante e que tem
reflexo direto na qualidade da assistência prestada
pela instituição, foi o canal de interlocução
criado com as secretarias de saúde dos municípios
vizinhos. De acordo com June, são realizadas
reuniões mensais com os secretários
municipais de saúde, diretor da Diretoria Regional
de Saúde (DIR XII) e direção
do HES em que são decididos, por exemplo, o
número de consultas, cirurgias e de outros
procedimentos que cada cidade poderá utilizar,
o estabelecimento dos protocolos de encaminhamento
e a relação dos principais problemas.
Isto permite que os municípios se organizem
melhor para prestar assistência médica
local e atendam às normas da regionalização
da assistência hospitalar.
Lógica de gestão
Caminhando pelos corredores largos com iluminação
natural do HES, percebe-se o ambiente harmonioso.
Na UTI Neonatal, por exemplo, as incubadoras com equipamentos
ligados revela a razão de a unidade ser considerada
uma das cinco melhores do país. Esses detalhes
fazem parte de uma lógica inovadora de gestão
do ponto de vista hospitalar. Aqui cada funcionário
sabe bem desempenhar suas funções e
existe uma motivação para se enfrentar
desafios.
Esta filosofia acompanha o
HES desde o seu nascimento, em 2000. Ele é
gerido por contrato que pré-determina o número
de procedimentos entre internações,
cirurgias e outros, que serão feitos mensalmente.
Se o hospital cumpre as metas direcionadas para as
reais necessidades das demandas regionais, recebe
a verba estimada para a sua manutenção.
Zambon explica que a administração tem
conseguido superar a meta em 25% do previsto. A verba,
no entanto, não é alterada. Só
recebe valor menor, o hospital que não cumpre
o mínimo estimado. Dentro deste modelo de gestão,
implantado somente no Estado de São Paulo,
existem outros 14 hospitais.
A lógica de contratos de gestão foi
idealizada nos moldes do projeto existente na
Catalunha, Espanha. A verba
alocada se divide em dois componentes. A primeira
representa 90% do valor total e está relacionada
com a produtividade. Os outros 10% são relacionados
com indicadores de qualidade de assistência
à saúde, entre eles, o índice
de satisfação do usuário, as
baixas taxas de infecção hospitalar,
redução de cesáreas, agilização
do atendimento e outros. Para gerenciar um hospital
do tamanho do porte do HES são liberados recursos
da ordem de R$ 3,3 milhões. No ano de 2003,
o orçamento foi de pouco mais de R$ 39,7 milhões.
Embora celebre todos os certificados
e a capacidade de inserção na região,
Zambon não esconde a difícil tarefa
que é administrar um hospital do porte do HES.
Segundo ele, este cenário vai contra
a situação caótica da saúde
em que se encontra o país. O diretor
do hospital acentua que há um limite estreito
para manter a qualidade.