Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 235 - de 27 outubro a 2 novembro de 2003
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Pesquisador desenvolve
mistura com borracha natural

LUIZ SUGIMOTO

O pesquisador Pedro Carlos de Oliveira: tese de doutorado gerou outras duas na França

Até a década de 1950 o Brasil foi o maior produtor e exportador de borracha natural do mundo, mesmo porque a seringueira é originária da Amazônia. Problemas econômicos e fitossanitários na região, porém, impediram o desenvolvimento sustentável da atividade que era totalmente extrativista, e mudas da seringueira cruzaram o planeta para formar densas florestas na Ásia. Hoje, Tailândia, Malásia e Indonésia, que fizeram melhor uso desta fonte renovável, respondem por cerca de 75% das 5 milhões de toneladas de borracha natural produzidas anualmente.

Um pouco abaixo no mapa mundi, a Austrália aproveitou a proximidade da fonte para desenvolver pesquisas de ponta com a borracha natural e outros polímeros, atrás de novas propriedades e aplicações. Os estudos envolvem dezenas de pesquisadores no Key Centre for Polymer Colloids, da Universidade de Sydney. À frente do centro está o professor Robert G. Gilbert, um cientista ousado que divide a evolução da técnica de polimerização em emulsão em três fases: a descoberta dos polímeros em emulsão, a exploração das propriedades desses polímeros, e a terceira compreendendo o nivelamento de conhecimentos e reformulações para a criação de novos materiais.
O brasileiro Pedro Carlos de Oliveira foi convidado a elaborar novos experimentos com a borracha natural nos laboratórios do Key Centre, ganhando bolsa, passagens e estadia. Em troca, os australianos detiveram a propriedade intelectual dos resultados. “Já tinha feito mestrado na Unicamp e vinha preparando o doutorado quando recebi o convite para ir à Austrália”, relembra Oliveira. Para sua tese, ele recebeu a orientação do próprio Robert Gilbert e, no Brasil, da professora Cecília Amélia de Carvalho Zavaglia, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, e do professor Amilton Martins dos Santos, da Faculdade de Engenharia Química de Lorena.

Pedro de Oliveira explica que todo polímero é uma macromolécula e apresenta a característica de de possuir uma dupla ligação na cadeia principal, o que lhe empresta a elasticidade: o material estica e, quando retirado o esforço, recupera as dimensões originais. “No meu trabalho, a preocupação foi não alterar essa estrutura da borracha natural. Utilizamos um iniciador de reação que, segundo a literatura, preservaria a dupla ligação. Esse iniciador foi o responsável por criar na molécula um radical, ou seja, um ponto ou sítio de reação, desencadeando a modificação do material. Trata-se de uma enxertia, assim como se faz nas árvores, introduzindo uma molécula química na estrutura matriz da borracha natural”, ilustra o pesquisador.

Primeiramente, Oliveira realizou uma modificação já conhecida, usando um monômero hidrofóbico, o metacrilato de metila, que torna a borracha mais resistente, com boas propriedades em termos de tensão e deformação. Depois, introduziu outro polímero, a partir de um monômero hidrofílico, o metacrilato de dimetilaminoetila, visando dar à borracha novas características físico-químicas, como a de se tornar compatível com outros polímeros. “Viabilizamos a possibilidade de formulação de novos materiais a partir da borracha modificada”, esclarece.

Aplicações – Modificada a borracha, suas propriedades precisam agora ser confirmadas. “Minha tese de doutorado gerou duas outras, que estão sendo desenvolvidas por estudantes brasileiros, mas na França. Eles vêm testando a compatibilidade com outros materiais e avaliando que propriedades advirão desta mistura. Esses resultados serão então avaliados com o objetivo de formular blendas e indicar em que artefatos poderão ser utilizados”, adianta o engenheiro químico. O Key Centre já solicitou a patente provisória desta borracha natural modificada.
Pedro de Oliveira vê grande possibilidade de aplicações principalmente na indústria de pneumáticos. “Creio que a utilização dessa borracha modificada possa melhorar as propriedades dos componentes, a partir da mistura de materiais, emprestando mais resistência ao produto final”, prevê. Ele soube, também, da utilização do látex que tornou a borracha hidrofílica em pesquisa sobre argamassas para a construção civil. “Com pequena quantidade do látex de borracha modificada, conseguiu-se homogeneizar a mistura de cimento, areia e resíduos de pneus reciclados, sem fugir às normas impostas para a confecção de painéis de alvenaria”, informa.

Segredos – Pedro de Oliveira chegou a ser questionado sobre o porquê de não ter iniciado seu trabalho a partir da borracha sintética. Sua resposta foi de que o material sintético vem do petróleo, que vai acabar, enquanto o látex de borracha natural vem de fonte renovável. “É lamentável que o Brasil, tendo sido o maior produtor do mundo, hoje responda por apenas 1% da extração mundial, tendo que importar 60% do látex consumido internamente. Instituições com a Embrapa e o IAC estão tentando reverter essa situação, pesquisando clones de seringueiras que, ao contrário das originais, não sofram com variações de clima, ph do solo e temperaturas, mantendo as propriedades da borracha independentemente da região do país”, afirma.

Segundo Oliveira, a modificação que obteve é parte ínfima das pesquisas com polímeros financiadas pelo Key Centre, que está muito à frente do Brasil e recebe pesquisadores do mundo inteiro para somar conhecimentos. Certa vez, intrigado com o repentino interesse de grandes indústrias em incorporar a sílica ao látex de borracha natural, dois materiais totalmente incompatíveis, o brasileiro fez uma experiência utilizando seu material modificado. “Joguei um pouco de sílica na borracha, deixei meia hora em agitação e obtive uma mistura ótima, altamente homogênea. Esse material está sendo caracterizado e espero obter bons resultados”, finaliza.


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