Sistema de previsões climáticas
orienta agricultor
Modelo desenvolvido em parceria firmada entre Embrapa e Unicamp reúne dados de mais de duas mil estações
RAQUEL DO CARMO SANTOS
Milhões de dados de chuva, reunidos em mais de 2.300 estações pluviométricas e mensurados desde o início do século 20, estão armazenados em um banco de dados que permite ao produtor rural analisar o período adequado para o plantio da safra agrícola. Trata-se do módulo do sistema Agritempo, desenvolvido pela equipe da Embrapa Informática Agropecuária em parceria com o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), com a colaboração do Instituto de Computação da Unicamp. O sistema gera mapas de previsão e monitoramento, em tempo real, possibilita a redução de perdas na safra e está disponível na internet (www.agritempo.gov.br/). Também consiste em um importante instrumento para otimizar a liberação de crédito e de seguro rural ao agricultor.
O Agritempo começou a ser idealizado em janeiro de 2002. Até então, conta o coordenador do projeto na Embrapa, Eduardo Delgado Assad, existia um grande volume de informações completamente desorganizadas. "Buscamos parceria com a Universidade e num curto espaço de tempo o programa se consolidou". De acordo com Assad, a experiência mostra que é possível fazer inovação com competência e a baixo custo, quando se tem parceria estratégica.
Sistema computacional Para reunir todas as informações de forma ordenada, a equipe Embrapa Informática contou com a colaboração de João Guilherme de Souza Lima, aluno de pós-graduação da Unicamp. Seu trabalho de criar a arquitetura de um sistema computacional que permitisse criticar, analisar e organizar os dados históricos de precipitação pluviométrica, resultou na dissertação de mestrado "Gerenciamento de dados climatológicos heterogêneos para aplicações em Agricultura", apresentada no Instituto de Computação. Orientado pela professora Cláudia Maria Bauzer Medeiros, Lima explica que recorreu a inúmeros trabalhos da literatura, mas não encontrou nenhum tipo de solução específica para o problema voltado para a agricultura. Por isso, teve que adaptar alguns modelos e experimentar outros até chegar a uma solução viável.
Segundo Cláudia, o programa também possibilita a avaliação da qualidade dos dados. As instituições enviam os dados diariamente e de equipamentos diferentes, sublinha a orientadora. Isto muitas vezes dificultava a interpretação, pois não estavam padronizados. Através do sistema desenvolvido no Instituto de Computação, os dados pluviométricos foram padronizados e ainda pode-se fazer uma estimativa das informações faltantes. "Em algumas estações os dados são coletados manualmente. O coletor recebe os dados e os passa por telefone, depois são digitados e só então são repassados pela estação". Cláudia esclarece que neste circuito é bem possível que haja erros de transcrição e isto no sistema é detectado. No caso da falta de dados, o sistema estima medidas através das informações da região e baseado no histórico do local.
Facilidades para o agricultor Antes do Agritempo estar disponível ao produtor rural, para saber, por exemplo, a melhor época de plantio de milho, era necessário ter um especialista em informática para orientações dos dados informatizados. Também seria imprescindível a presença de um agricomatologista que iria interpretar os dados e ainda, precisaria do sistema operacional. "Uma previsão especializada, muitas vezes, era inviável para o pequeno agricultor", lamenta Assad. Com o Agritempo, os benefícios são grandes, pode-se saber o que plantar, onde e como.
O coordenador do projeto estima que entre 85 a 90% dos problemas enfrentados na safra agrícola estão relacionados à chuva ou deficiência hídrica, daí a grande importância do trabalho do Instituto de Computação. "Se o agricultor quiser saber quanto chove em média em sua região nos primeiros dez dias ou durante o mês todo para programar melhor a sua safra, isto é perfeitamente possível. São 90 funcionalidades que podem ser praticadas".
O Agritempo também estima a melhor temperatura. O banco de dados, neste caso, armazena 850 estações meteorológicas que contém informações de chuva e temperatura. Os boletins indicam previsão de temperatura de 120 horas e de chuva com 72 horas de antecedência.