Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 237 - de 10 a 16 de novembro de 2003
Leia nessa edição
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Em dez anos, equipamento
originou mais de cem artigos

RAQUEL DO CARMO SANTOS

O professor Marcos Eberlin: “O pentaquadrupolo é um laboratório completo”

Dez anos se passaram desde que o espectrômetro de massas pentaquadrupolo foi instalado no Instituto de Química (IQ) da Unicamp. E esta primeira década de atividades está sendo motivo de celebração para a equipe do Laboratório Thomson, pois o “penta” – como foi apelidado pelos usuários – já originou mais de cem publicações em revistas especializadas e já formou cerca de 30 especialistas na área, alguns, inclusive coordenando novos grupos de pesquisa. Único em funcionamento no mundo, o “penta” foi a semente do Laboratório Thomson (http://thomson.iqm.unicamp.br) que é hoje referência mundial em aplicações da técnica em áreas diversas, como em química, física, bioquímica, ciências médicas e farmacêuticas. “O casamento do ‘penta’ com químicos orgânicos foi perfeito”, comenta o coordenador do Laboratório, professor Marcos N. Eberlin.

O coordenador considera que agrupar em um laboratório especialistas em diversas áreas, mas principalmente em química orgânica, foi o fator decisivo que permitiu explorar o equipamento no seu “ponto mais forte”, e chegar à comemoração dos dez anos com sucesso. Eberlin explica que a química orgânica tenta sempre responder o porquê de seus acontecimentos químicos, precisando assim entender bem os mecanismos de suas reações e, justamente, nessa área que o equipamento é único. Segundo Eberlin, o “penta” é um laboratório completo para estudos de reações envolvendo íons, pois possui cinco quadrupolos conectados. Assim, todas as operações necessárias para a realização das reações, como a formação, purificação, seleção e reação destes íons, e ainda a separação e caracterização estrutural dos produtos, são realizadas simultaneamente em tempo real.

História – Os pesquisadores Claudemir Lúcio do Lago, Eberlin e Concetta Montanile Kascheres – uma das pioneiras no desenvolvimento da Espectrometria de Massas no Brasil – formaram a equipe do projeto temático apresentado à Fapesp que, em 1993, trouxe o equipamento para o “convívio” na Universidade. Concetta, coordenadora do projeto, lembra que foram liberados, em 1992, US$ 360 mil para a compra da máquina. “Fiquei sem dormir por várias noites, pois passávamos por uma situação difícil no Brasil com a mudança de moeda e a inflação anual de 600%”, comenta.

Demorou pouco mais de um ano para se concluir a compra e o Instituto de Química passou então a possuir o quarto, e mais completo pentaquadrupolo do mundo. Os outros estavam instalados em universidades na França, Austrália e Estados Unidos (Universidade de Purdue). Passada a euforia da chegada do equipamento – que segundo Concetta também foi bastante festejada – mais dois anos foram necessários para desenvolver os vários softwares de controle, bastante sofisticados, e assim colocar o “penta” em pleno funcionamento. Atualmente, Concetta estima que o espectrômetro deve valer em torno de US$ 1 milhão.

“Dez anos de trabalho com o software não foram ‘soft’, não”, brinca Valmir Fascio Juliano, docente do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi ele quem, no seu doutoramento sob a coordenação do professor do Departamento de Química da Universidade de São Paulo, Claudemir Lúcio Lago, desenvolveu os softwares do pentaquadrupolo. Regressando ao passado, lembra que seu “hardwork” teve início exatamente às 15h50 de 14 de novembro de 1993, quando decidiu inovar em sistemas modernos do Windows. “Há dez anos o Windows era novidade, mas apostamos nele”, frisa. O professor Claudemir destaca ainda uma qualidade única do “penta”: “O conjunto é muito versátil e gera espectros multidimensionais, pois pode-se varrer até três quadrupolos simultaneamente”.

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Campeões de publicações

Em 1992, quando fazia graduação no Instituto de Química, Fábio César Gozzo não imaginava que dez anos depois comemoraria o aniversário do “penta” e a marca de 30 artigos publicados em revistas especializadas. Hoje no pós-doutoramento no Laboratório Thomson, Gozzo é um dos campeões em publicações de estudos no penta. Ao longo de sua trajetória realizando o que chamou de “tratado de íons sinistros”, Gozzo estudou o comportamento do vários íons, como as 14 possíveis estruturas do íon CH3SO+, em 1995. Também estudou a estrutura eletrônica inédita de íons hetarinos, em 1999, e ainda descobriu o primeiro íon distônico não-clássico, em 2000.

Luiz Alberto B. Moraes, hoje docente na Universidade São Francisco e ainda um dos principais colaboradores do laboratório, publicou 26 artigos originados no “penta” e Regina Sparrapan, pesquisadora colaboradora voluntária do Instituto de Química da Unicamp já registrou 23 publicações entre os conceituados periódicos Journal of American Chemical Society, Journal of Organic Chemistry e Analitical Chemistry. Nos próximos meses, uma nova marca do sucesso estará registrada no periódico Chemical Review, que traz as principais revisões de assuntos em química e que possui raros artigos de pesquisadores brasileiros. Um artigo de revisão sobre a reação que leva o nome do professor Eberlin estará sendo apresentado à comunidade acadêmica e marcando mais um ponto na história de grande sucesso do “penta”. (R.C.S.)

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