Redes neurais avaliam propriedades de dutos
Pesquisa premiada contribui para
a compreensão dos processos de produção
de plásticos reforçados
MANUEL
ALVES FILHO
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A professora Liliane Lona (à esquerda)
e a autora da dissertação, Sheila
Contant: resultados similares aos obtidos pela
indústria |
Pesquisa desenvolvida para dissertação
de mestrado de Sheila Contant, defendida junto à
Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp,
trouxe novas contribuições para a compreensão
de um dos principais processos de produção
de compósitos poliméricos (plásticos
reforçados), o filament winding (em português,
enrolamento filamentar ou filamento contínuo).
O trabalho, que foi classificado em terceiro lugar
na quinta edição do Prêmio
Petrobrás de Tecnologias de Dutos, valeu-se
de redes neurais, técnica computacional inspirada
no comportamento do cérebro humano, para avaliar
as propriedades mecânicas e térmicas
do produto final (dutos), bem como o perfil de temperatura
no interior das peças durante a fabricação,
etapa denominada cura. Segundo a autora
do estudo, o método mostrou-se eficiente, apresentando
resultados similares aos obtidos experimentalmente
pela indústria.
De acordo com a professora Liliane
Lona, que orientou a pesquisa, a melhor compreensão
do processo de produção de plásticos
reforçados contribui diretamente para a redução
do tempo e do custo do seu desenvolvimento. Só
para se ter uma idéia do que isso pode representar,
basta saber que o uso dos compostos poliméricos
tem crescido significativamente nas últimas
décadas, em virtude da série de vantagens
que apresentam sobre os demais materiais, principalmente
os metais. Além de serem mais leves e resistentes
à corrosão do que os produtos convencionais,
eles também são duráveis e apresentam
excelente propriedade mecânica.
A resistência desses
materiais à corrosão, por exemplo, é
de fundamental importância para a indústria
petrolífera, que costuma enfrentar problemas
de vazamento em razão do desgaste dos dutos
metálicos, afirma a docente. A tendência,
segundo ela, é que as peças produzidas
a partir dos compósitos poliméricos
substituam gradativamente as tubulações
atuais, visto que proporcionam maior segurança.
A autora da dissertação lembra que a
literatura cita que os plásticos reforçados
podem ter cerca de 40 mil aplicações
diferentes, que vão da fabricação
de caixas dágua até cadeiras,
passando evidentemente pelas tubulações.
Sheila ainda chama a atenção
para o fato de a América do Sul representar
apenas cerca de 3% do mercado global de compósitos
poliméricos. Entretanto, o crescimento anual
desse setor na região tem sido o maior do mundo
nos últimos anos, o que demonstra que existe
um imenso mercado para esses materiais, assim como
espaço para o desenvolvimento de novos estudos
em torno deles. Como o Brasil é o líder
do mercado na América do Sul, percebe-se a
necessidade do país aumentar a sua competitividade,
sobretudo por meio de pesquisas e aprimoramento de
recursos humanos, analisa a autora da dissertação.
Redes neurais
Sheila explica que escolheu o método filament
winding para investigar, por tratar-se de um dos principais
processos de produção de compósitos.
O plástico altamente resistente nada mais é
do que uma matriz polimérica, reforçada
por uma fibra. Já a opção pelas
redes neurais deu-se por conta da vantagem que apresenta
sobre outros modelos computacionais, como o menor
tempo de processamento e a capacidade de aplicação
a processos de elevada complexidade. A autora do trabalho
analisou dois aspectos das peças produzidas
pelo sistema de enrolamento filamentar ou filamento
contínuo.
Primeiro, ela checou as propriedades
do produto final, para verificar a sua uniformidade.
Depois, promoveu o acompanhamento do comportamento
térmico das peças. Para isso, Sheila
desenvolveu programas computacionais para o treinamento
das redes neurais. A ferramenta computacional foi
abastecida por dados fornecidos por uma empresa do
setor. Ao promover a comparação dos
resultados experimentais com os obtidos pela simulação,
a pesquisadora verificou que eles ficaram muito próximos
uns dos outros. Os resultados mostraram a eficiência
da metodologia proposta em todos os casos estudados,
assegura.
Esta não é a
primeira vez que Sheila é laureada pelo Prêmio
Petrobrás de Tecnologia de Dutos. Em
1999, ela foi classificada em segundo lugar, na categoria
graduação. Ela foi a única
pessoa que recebeu duas premiações nas
cinco edições do evento, destaca
a professora Liliane, que orientou ambos os trabalhos.
Considero esse prêmio um importante incentivo
ao desenvolvimento de novas tecnologias nacionais,
afirma Sheila. No doutorado, que já está
em andamento, a estudante de pós-graduação
vai partir para um outro desafio, atuando desta feita
na área de engenharia de polimerização.