Parceria reúne pesquisa
e sabedoria popular
Idosos desenvolvem atividades coordenadas
por cientistas
que atuam na área de plantas medicinais
ANTONIO
ROBERTO FAVA
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Integrantes do Grupo da Terceira Idade em viveiro
de mudas do CPQBA: troca de conhecimentos |
Convênio
entre o Centro de Pesquisas Químicas, Biológicas
e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp e o Centro de
Ação Comunitária da Prefeitura
de Paulínia (Caco), mostra que pode ter êxito
a fusão de conhecimentos populares com a ciência
acadêmica no desenvolvimento de atividades teóricas
e práticas em relação ao cultivo
de plantas medicinais.
Projeto com esse propósito
começou há cerca de três anos,
quando os pesquisadores decidiram contar também
com a experiência e a sabedoria popular de pessoas
que formam o Grupo da Terceira Idade e que, pelo menos
uma vez por semana, freqüentam os viveiros e
campos do CPQBA. O principal objetivo do Caco é
que os idosos aprimorem a capacidade para desenvolver
habilidades e conhecimentos sobre o cultivo de plantas
medicinais. E, para isso, não há a de
necessidade conhecimentos técnicos anteriores,
mas apenas que o interessado goste do campo e de mexer
com plantas e com a terra.
O que o CPQBA busca com esse
trabalho é apresentar as atividades de pesquisas
que desenvolve, passar aos interessados a importância
da identificação de plantas medicinais
e, com o pessoal da terceira idade, trocar informações
sobre o uso e aplicação das espécies,
diz a engenheira agrônoma Glyn Mara Figueira,
coordenadora do projeto, que divide as tarefas com
o biólogo Benício Pereira. E os resultados
obtidos até agora têm sido muito bons,
em virtude da cooperação mútua
que há entre a experiência popular com
a ciência desenvolvida dentro dos laboratórios
de pesquisas do Centro.
Informação popular
Glyn explica que já houve momentos
em que seus colaboradores deram informações
importantes sobre plantas, cujas propriedades e aplicações
iam além daquelas que a pesquisadora conhecia.
Eram informações novas, que logo
registramos em nosso banco de dados para ser investigadas
com mais acuidade, explica.
Os participantes do projeto têm
uma série de atividades no campo, onde é
feita a coleta de sementes de plantas, e no viveiro
no próprio Centro de Pesquisas
onde têm contato com as etapas de produção
de mudas. As plantas, depois de crescidas, são
levadas para o campo.
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A engenheira agrônoma Glyn Mara Figueira,
coordenadora do projeto: resultados animadores |
Para nós, isso é
muito importante porque, nesse processo todo, resgatamos
a informação popular que os mais antigos
usavam, que aprenderam com seus pais e avós
sobre a utilização de determinada planta
medicinal, e a maneira como é produzido o fitoterápico
originado dessa planta, diz Glyn. Às
pessoas que formam o grupo é mostrado também
como é desenvolvida a pesquisa, a partir da
informação popular sobre determinada
erva ou planta, para se confirmar cientificamente
se o seu uso é viável para a produção
de medicamento.
Um bom exemplo de todo esse processo
é a planta Cordia curassavica, mais conhecida
pelo nome de Erva-baleeira, Maria-milagrosa ou Maria-preta.
Trata-se de uma erva de alto poder de cura, largamente
usada no tratamento de contusões.
Pesquisas desenvolvidas aqui no Centro relacionam-se
ao cultivo e à extração do princípio
ativo. Foi confirmado que a Erva-baleeira possui também
substâncias antiinflamatórias que poderão
se transformar em fitoterápico para contusões,
reumatismo, artrite ou nevralgias, entre outros males,
explica a pesquisadora.
Outros estudos estão sendo desenvolvidos pelo
Centro de Pesquisas com plantas medicinais. O poejo,
planta medicinal da família das labiadas (Mentha
pulegium L.) e o guaco para tratamento da tosse
da família das compostas (Mikania laevigata
Sch. Bip. ex Baker), são duas das plantas usadas
nessas linhas de pesquisa do Centro.
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O legado do campo
Todas as sextas-feiras,
pelo menos por duas horas, aposentados que têm
entre 60 e 70 anos, se reúnem no viveiro do
CPQBA. Nem todos vieram do meio rural, mas todos,
pelo menos em algum momento de suas vidas, tiveram
alguma experiência com o campo. E agora querem
resgatar um pouco desse tempo que ficou para trás.
No viveiro do CPQBA, manipulam cerca de 350 espécies
de plantas.
Dona Miriam dos Santos
tem 59 anos. Diz que sempre gostou de plantas, embora
meus conhecimentos sobre as medicinais sejam um pouco
diferentes dos conhecimentos que estou adquirindo
aqui. Miriam revela que herdou certos conhecimentos
sobre plantas medicinais de sua mãe e avó.
Tempos depois, procurou transmitir aos netos e a outros
parentes próximos. É o que tento
fazer aqui, diz com um sorriso, enquanto manipula
uma mudinha num tubete para que a planta cresça
sozinha.
Natural da Bahia, Alaíde
Evangelista Figueiredo, 60 anos, não nega seu
saber sobre plantas medicinais. Um conhecimento
que adquiri nos fundos do quintal de minha casa, principalmente
as receitinhas de remédios caseiros, que servem
para uma porção de coisas, diz.
Ela manipulava uma porção de Erva- baleeira,
muito popular, e diz que hoje no Centro ficou sabendo
que seu nome científico é Cordia curassavica.
Um excelente remédio para torções
e para ser usado também como antiinflamatório.
Já Yochimitsu
Shimabukuro, 65 anos, engenheiro aposentado do ITA,
diz que as plantas são tão humanas
quanto os homens: o homem tem vida própria
e, como tal, sofre as mesmas perdas e dores de uma
planta. Isso se pode verificar quando vemos uma planta
que perdeu suas folhas, seus ramos ou que tenha secado.
O mesmo ocorre com o homem, que sente as mesmas dores,
a mesma angústia de envelhecer, quando se fere.
Ou morre.
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