FEC pesquisa uso de lodo
de esgoto como fertilizante
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As pesquisadoras Marta Guilherme Pires e Patrícia
Mazzante do Nascimento: lodo melhora a atividade
biológica do solo |
O lodo gerado
pelo processo de tratamento de esgoto doméstico
é rico em nutrientes e matéria orgânica
e está sendo considerado, cada vez mais, uma
alternativa viável para a agricultura. A utilização
desse material, com uma série de vantagens,
reduz a utilização dos fertilizantes
químicos largamente vendidos no mercado
como provam três trabalhos de pesquisas,
desenvolvidas na Faculdade de Engenharia Civil (FEC)
da Unicamp.
Rico em micro
e macronutrientes, como nitrogênio e fósforo,
o lodo melhora a atividade biológica do solo.
No entanto, o lodo de esgoto pode conter contaminantes
e sua aplicação exige cuidados especiais
para que sejam evitados danos à saúde
da população e ao meio ambiente, alertam
os pesquisadores da Unicamp.
O lodo utilizado
na pesquisa foi coletado na Estação
de Tratamento de Esgotos no Riacho Grande, localizada
no município de São Bernardo do Campo,
na Grande São Paulo. Os dejetos tratados é
que acabam gerando o lodo de esgoto, uma massa biológica
composta de microorganismos que se alimentam da matéria
orgânica existente nos detritos. Para não
se tornar um problema ambiental, pesquisadores da
Unicamp passaram a trabalhar em pesquisas e descobriram
que o lodo de esgoto é um fertilizante eficiente,
barato e menos poluente que os adubos químicos.
Monitoramento Marta
Guilherme Pires, autora da tese Avaliação
da presença de patógenos no lodo líquido
estabilizado de ETE (processo aeróbio) quando
aplicado ao solo arenoso siltoso, diz que os
três trabalhos têm o principal propósito
de monitorar a aplicação do lodo do
esgoto no solo, com o objetivo de se verificar se
a reutilização desse tipo de material
pode ou não ser feita e quais os problemas
de possíveis contaminações.
A aplicação
de lodo de esgoto no solo pode ser feita, sem deixar
de considerar que o lodo pode conter elementos que
eventualmente possam causar uma contaminação
do solo, como patógenos ou nitrogênio
que vão acabar se transformando em nitrato,
e podem ser prejudiciais à saúde do
indivíduo, explica a pesquisadora. No
caso dos patógenos, as principais contaminações
são as provocadas pelos ovos de Ascaris, amebas
e Giardia.
Quanto à contaminação
do lençol freático com nitrato, composto
que pode causar a metahemoglobinimia (doença
que afeta o transporte do oxigênio pelas hemácias)
em crianças recém-nascidas que consumirem
da água contaminada.
A Organização Mundial de Saúde
(OMS) recomenda valores até 10 mg de nitrato
por litro de água, diz Patrícia
Mazzante do Nascimento, autora da dissertação
de mestrado Avaliação da contaminação
da água subterrânea por nitrato e fósforo
após aplicações de lodo líquido
de esgoto doméstico no solo. Patrícia
explica ainda que uma estação de tratamento
de esgoto pelo processo aeróbio produz grandes
quantidades de lodo que necessitam ser dispostos de
uma maneira adequada.
Buscamos avaliar parâmetros
sanitários visando a utilização
do lodo na agricultura e também na correção
de solos degradados. O lodo possui nutrientes que
ajudam a melhorar as condições desse
solo que, possivelmente, poderá ser usado para
novos plantios, reduzindo a necessidade do uso de
fertilizantes químicos, diz. Atualmente
o lodo de esgoto tem sido testado em culturas de café
e milho.
Não é recomendável
a utilização do lodo em culturas como
as hortaliças, por exemplo, uma vez que pode
haver contaminação pela ingestão
de patógenos devido ao consumo do produto ser
direto.
A outra dissertação
de mestrado, Aplicação de lodo líquido
de esgoto sanitário no solo: determinação
de coliformes fecais e totais, de Andréia Ferraz
de Campos, pesquisou a incidência de coliformes
totais e fecais no solo superficial e líquido
infiltrado.
Como resultado final das três
pesquisas, foi concluído que a taxa de aplicação
de lodo de esgoto líquido de 22,5 TS/ha por
ano mostrou ser a mais adequada quanto aos parâmetros
avaliados, no que diz respeito à contaminação
do lençol freático e solo superficial.
Todas as pesquisas foram orientadas pelo professor
Bruno Coraucci Filho, da Faculdade de Engenharia Civil
(FEC). (A.R.F.)