Participação de companheiro é estimulada
O Grupo de Parto Alternativo (GPA) foi criado em 1981 por docentes do Departamento de Tocoginecologia e profissionais da área de saúde da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
Coordenado pelo professor e obstetra José Hugo Sabatino, um dos precursores do parto de cócoras no Brasil, tem como colaboradores o anestesista Franklin Braga, a psicóloga Sílvia Cordeiro e a fisioterapeuta Cláudia Lucena, todos voluntários, a exemplo de outros profissionais da equipe multidisciplinar de atendimento formada ainda por médicos de outras especialidades, enfermeiros e nutricionistas.
“A principal característica do grupo é oferecer uma conduta diferente das tradicionalmente adotadas no atendimento à gestante, valorizando o aspecto humano, trabalhando não apenas com a mulher, mas estimulando a participação do companheiro em todas as fases da gestação, sem abandonar os conceitos teóricos e científicos característicos do atendimento em uma maternidade”, ressalta Franklin.
Segundo ele, todas as grávidas que fazem seu pré-natal no Caism têm a oportunidade de participar do GPA. A única exigência é não apresentar risco gestacional grave. A opção de ingressar no grupo é feita de maneira livre e espontânea pela gestante, e caso não se sinta segura o suficiente para o parto de cócoras, poderá optar por outro método mesmo após todos os preparativos realizados. E uma gestante que tenha todas as condições clínicas indicativas para o parto vertical poderá fazê-lo mesmo não tendo participado do grupo.
Homens grávidos O GPA desenvolve atividades teóricas e práticas a partir do terceiro mês da gestação, no período noturno, para permitir a participação do companheiro, incluindo preparo físico da mulher e preparo psíquico do casal, palestras e visitas à maternidade do Caism, entre outras.
“As palestras são realizadas por profissionais que trabalham no Caism, o que contribui para aumentar o vínculo entre os casais e as pessoas que participarão do atendimento durante a internação e o parto. As visitas à maternidade ajudam a gestante a se familiarizar com o local onde será atendida”, explica Sílvia. “Essas ações diminuem o medo das gestantes do ambiente hospitalar, e, conseqüentemente, diminui o nível de tensão do casal”, complementa a psicóloga.
O grupo também enfatiza a participação do companheiro em todas as fases da preparação, para que ele deixe de ser um acompanhante passivo e atue de maneira eficaz durante o trabalho de parto, transmitindo segurança, carinho e apoio à gestante.
Em uma das atividades simula-se a gravidez dos homens. Com uma bexiga cheia de água presa à barriga, contendo um boneco e sustentada por uma bacia plástica, eles são convidados a executar diferentes movimentos (caminhar, sentar, deitar e se olhar no espelho) e podem vivenciar sensações e dificuldades de uma gestação de cinco meses.
Endorfinas São ainda realizados exercícios físicos para desenvolver ou melhorar a musculatura perineal e grupos musculares que serão mais solicitados quando a mulher adotar a posição de cócoras no momento do parto e aumentar a produção de endorfinas (substâncias analgésicas produzidas pelo próprio organismo que se encontram aumentadas nas grávidas que realizam atividade física).
“O aumento das endorfinas permitirá que no momento do parto as contrações sejam melhor toleradas”, esclarece Franklin.
Embora o grupo realize 70% de partos normais, sem necessidade de drogas analgésicas ou anestésicas, Braga desenvolveu uma técnica que permite aplicar analgesia nas gestantes que não conseguem tolerar as contrações sem, contudo, comprometer a atividade motora das pernas para o parto de cócoras.
“Constatamos que cerca de 3% das gestantes desistiam do método por não suportar as dores das contrações. Isso era motivo de frustração para elas, mas com a técnica é possível manter a atividade, sem risco para a mãe e para a criança”, salienta o anestesista.
Além disso, observa ele, a sala de parto vertical está equipada com todos os recursos técnicos das outras salas de parto, o que permite modificar a rotina de atendimento, quando necessário.
Esse aspecto é valorizado por Cecilia, que destaca a importância de o parto alternativo ser executado dentro de um centro médico com a infraestrutura como a proporcionada pelo Caism. Mesmo que todos os procedimentos tenham sido tomados para o nascimento do bebê com o mínimo de interferência médica, há casos que possam requerer uma intervenção de urgência.
“A Marina teve uma hemorragia muito forte na passagem do bebê pelo canal vaginal e necessitou de atendimento médico após o parto. A complicação foi logo controlada e ela recuperou-se rapidamente”, lembra a mãe.
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