Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 272 - de 25 a 31 de outubro de 2004
Leia nessa edição
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Vlado e o fim da ditadura
Parto de cócoras
Prêmio Jovem Cientista
Ciência & Cotidiano
Comunicação para todos
Oswald de Andrade
Diário da Cátedra
Um arranhão de gato
Painel da semana
Teses da semana
Unicamp na mídia
Morte com naturalidade
Ciência + Paraolimpíadas
 

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Professores da Faculdade de Educação Física
da Unicamp
tiveram papel importante na preparação de atletas

Ciência + Paraolimpíadas = recordes



JEVERSON BARBIERI


Integrantes da delegação brasileira paraolímpica: número de medalhas mostra resultado de parceria (Foto: Divulgação)O resultado histórico obtido pelo Brasil nas Paraolimpíadas de Atenas – o País terminou na 14ª posição no quadro geral de medalhas, conquistando 14 de ouro, 12 de prata e 7 bronze —, não foi uma surpresa. Pelo menos para os professores da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp que integraram a comissão técnica e estiveram diretamente envolvidos na preparação dos atletas. Segundo eles, o trabalho científico envolvido no processo foi fundamental na obtenção dos resultados.

Segundo o professor José Júlio Gavião de Almeida, diretor associado da FEF e membro da equipe que esteve nas Paraolimpíadas de Sidney-2000 e Atenas-2004, o trabalho de aproximação entre universidades e centros de pesquisa com o esporte adaptado de alto rendimento, iniciado em 1982 durante as Paraolimpíadas de Barcelona, foi importante para esse significativo salto de qualidade. “Nossa principal preocupação sempre foi a de trabalhar com a troca de conhecimentos e a formação de recursos humanos”, afirma. “A formação de atletas de alto nível foi uma conseqüência do nosso trabalho”, completa.

Os resultados demonstram um aumento de 50% em relação ao quadro de medalhas de Sydney, quando o país garantiu 22 no total, sendo seis de ouro, dez de prata e seis de bronze. As conquistas de ouro do Brasil mostram o aumento na qualidade das medalhas conquistadas. Os 14 ouros do Brasil representam um aumento de 133% em relação aos conquistados em 2000. Destaque para as equipes de “futebol de 7” (paralisados cerebrais) e “futebol de 5” (para cegos), que conquistaram a prata e o ouro, respectivamente, além do alto rendimento das modalidades judô, atletismo e natação.

De acordo com o professor, a FEF procura se envolver muito mais no programa de pós-graduação, com pessoas que possam oferecer troca de informações levando e trazendo conhecimento adquirido. Um exemplo é o chefe da delegação da equipe paraolímpica brasileira, Alberto Martins da Costa, professor da Universidade Federal de Uberlândia, que fez o doutorado na FEF. “Na área de esporte de alto rendimento, certamente ele trouxe para a universidade um conhecimento de ponta sobre o esporte”, enfatiza.

Outro exemplo é o aluno do programa de doutoramento da FEF, Ciro Winckler, queO professor José Júlio Gavião de Almeida: troca de conhecimentos (Foto: Antoninho Perri) conheceu o esporte adaptado durante o curso de graduação. Ele é considerado um dos maiores especialistas brasileiros sobre esporte para pessoas portadoras de deficiências. Atualmente é o técnico da equipe paraolímpica de atletismo.

Gavião cita também o técnico da seleção de esgrima, Válber Lázaro Nazareth, que foi aluno de mestrado; o técnico da equipe de judô, Leonardo Mataruna, aluno do doutorado; e o coordenador de natação, Gustavo Maciel Abrantes, aluno do curso de especialização. Trabalhando no Comitê Paraolímpico e na Associação Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC) estão Tatiane Miranda e Jonas Freire, ex-alunos de graduação e que ainda mantém uma relação de intercâmbio com a FEF, além dos árbitros de goalball, Wagner Xavier de Camargo, ex-aluno do curso de Sociologia da Unicamp, com mestrado na Educação Física, e Diego Collete, ex-aluno do curso de graduação.

O mais importante é que, independente de levarem o conhecimento adquirido na Unicamp, são pessoas que trouxeram e ainda trazem um conhecimento atual e vitorioso para a universidade, fator importante que não se encontra em nenhum livro”, observa Gavião. Segundo ele, uma das virtudes desse trabalho, que nem sempre é observada, é a pesquisa. “Os resultados não acontecem a curto prazo, são planejados e envolvem um grande grupo e, portanto, é possível imaginar toda uma geração beneficiando-se do trabalho executado”.

No Brasil e na América do Sul, a FEF é a única instituição a possuir um departamento próprio de Educação Física Adaptada, criado no final da década de 1980, pelos professores Edison Duarte, Paulo Ferreira de Araújo, José Luiz Rodrigues, Ana Isabel Figueiredo Ferreira e Maria da Consolação G. Tavares.

Intercâmbio – O intercâmbio com outras unidades da Unicamp também é fundamental para a progressão dos estudos. No caso da deficiência visual, a FEFO técnico de atletismo Ciro Winckler de Oliveira Filho: inclusão social do portador de deficiência  (Foto: Divulgação) trabalha com um grupo de crianças que chegam através do Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação “Dr. Gabriel Porto” (Cepre). Além disso, adultos portadores de deficiência visual são encaminhados pelo setor de oftalmologia do Hospital das Clínicas (HC), coordenado pela médica Keila Carvalho, que também tem contribuído para esse intercâmbio. “Seria praticamente impossível atingir nossos objetivos sem o respaldo dessas unidades”, avalia Gavião.

Outro destaque é o médico residente Hesojy Glay, que trabalha no setor de ortopedia do HC. Ele é orientando do professor Alberto Cliquet que, além de médico do Comitê Paraolímpico, é considerado um dos mais importantes pesquisadores de projetos voltados para o desenvolvimento de próteses e equipamentos para paraplégicos e tetraplégicos. Glay tem planos de levar para a FEF indivíduos com lesões medulares para trabalhar especificamente esgrima.

Por ter se destacado também em projetos voltados para deficientes visuais, o Departamento de Educação Física Adaptada da Unicamp acabou estabelecendo um importante vínculo com a Associação Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC), considerada por muitos profissionais como a instituição mais ousada e organizada dentro do Comitê Paraolímpico. “A ABDC considerou muito saudável e importante a relação entre as associações esportivas e a universidade”, diz Gavião. Segundo ele, a parceria superou as expectativas. “Os resultados foram extremamente positivos, abrindo espaço para outros trabalhos com outras universidades”.

Na opinião de Benedito Franco Leal Filho, vice-presidente da ABDC e também ex-aluno do curso de graduação em história da Unicamp e do curso de Especialização em Educação Física Adaptada da FEF, o papel de aproximação da universidade com o desporto adaptado é fundamental para o desempenho e para a evolução, na medida em que os critérios estabelecidos possuem um formato profissional. Segundo Benedito, as associações nacionais e o Comitê Paraolímpico têm dado uma ênfase muito grande nesse laço de proximidade com o trabalho científico.

Divulgação – A maior medalha conquistada pelo Brasil em Atenas, na opinião do professor, foi a divulgação. “A falta de conhecimento gera muito preconceito e isso é uma questão cultural”, avalia. “A partir do envolvimento da mídia, deve haver um crescimento na divulgação do esporte paraolímpico, uma vez que os resultados foram bastante expressivos e saudáveis em termos de desenvolvimento”, completa.

Apesar do feito inédito alcançado pelos atletas brasileiros, Gavião ressalta que os resultados poderão ser melhorados a partir de um planejamento mais adequado, um envolvimento maior de todas as esferas governamentais e, também, de um número maior de pesquisas mostrando a ciência como propulsora desses eventos. No momento, o técnico da equipe de atletismo, Ciro Winckler de Oliveira Filho, aluno de doutorado da FEF, desenvolve no momento um trabalho de análise dos últimos quatro anos, sobre o desenvolvimento e resultados dos atletas, com o objetivo de publicação.

Oliveira Filho avalia que houve um salto qualitativo do atletismo paraolímpico brasileiro. Segundo ele, basta fazer uma média entre o número de medalhas conquistadas em Atenas e o número de atletas inscritos para a competição. O resultado é de uma medalha para cada competidor da equipe nacional.

O pesquisador acredita que muito em breve a barreira do preconceito diminuirá e a sociedade enxergará apenas o atleta, tendo como uma de suas características físicas a deficiência. “Isso é muito diferente de uma pessoa deficiente que pratica o esporte”, observa. Outro ponto bastante destacado pelo técnico é a influência da mídia, como fator de inclusão social do portador de deficiência no esporte. “Agora já existe um certo conhecimento, uma informação mais completa a respeito do assunto”, finaliza.


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