Aos 23 anos, Marcela inovou ao pesquisar a cera de carnaúba como alternativa para melhor conservação do tomate nas prateleiras. Pelo método adotado, o tomate é preservado com qualidade por mais de 15 dias. Marcela irá receber prêmio em dinheiro e uma bolsa para desenvolver pesquisa de mestrado.
O interesse de Marcela pela agricultura surgiu ainda na infância. Incentivada pela família, a jovem sempre alimentou o sonho de trabalhar com agronomia. Nascida em Cambará (PR), aos 15 anos de idade mudou-se com a família para Mogi Mirim (SP). Cursou o magistério na escola pública e, após um ano de curso preparatório, Marcela venceu a barreira do vestibular na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), em Piracicaba e na Unicamp. Optou por cursar Engenharia Agrícola em Campinas, onde está no 4° ano.
É o primeiro prêmio nesse nível recebido por um aluno do curso de graduação em Engenharia Agrícola. “Meu pai e minha família sempre gostaram de agricultura, cresci assistindo Globo Rural, sempre gostei muito do assunto. Escolhi Engenharia Agrícola na Unicamp porque achei que o campo de trabalho era mais amplo, com mais escolhas, mais opções”, diz.
A estudante é a primeira pessoa da família a freqüentar um curso de nível superior. O pai é bancário e a mãe, dona-de-casa. Ambos possuem segundo grau. Marcela revela que seu tipo de leitura preferida é ficção. Tem um gosto especial por Harry Potter. Além disso, gosta muito de ir ao cinema e adora música instrumental.
Marcela explica que procurou o professor Marcos David Ferreira, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), com a finalidade de realizar um projeto de iniciação científica. Nem imaginava que o resultado do trabalho renderia um dos prêmios mais importantes da América Latina.
A pesquisa consistiu em estabelecer um tipo de cera que atuasse como conservante do tomate. “Começamos a investigar cinco tipos de cera. Destas, escolhemos três e finalmente decidimos pela carnaúba”, explica. O processo começa logo após a colheita. O tomate é lavado e, por aspersão ou por imersão, é feita a aplicação da cera que forma uma película. Essa película impede que haja uma perda de água. O tomate tem muita água e quanto mais tempo essa água permanecer dentro do fruto, maior será o tempo de conservação.
A pesquisa comprovou que, num período de 15 dias, com a utilização da cera, a porcentagem da produção de tomate apropriado para o consumo se eleva para 80%. Sem a utilização da cera, pelo mesmo período, apenas 30% da produção de tomate pode ser consumida. Além disso, pela perda de água, o fruto fica com uma aparência muito feia. Outro ponto importante é que, com a aplicação da cera, aumenta a resistência do fruto contra impactos. Economicamente, o projeto é viável. A pesquisa sinaliza para um custo de R$ 10 para cada tonelada de tomate encerada com carnaúba. É relativamente barato e, portanto, acessível ao pequeno produtor.
“Geralmente quando se fala em prêmio, logo se pensa em alta tecnologia. Hoje em dia estão percebendo que o importante não é ter uma tecnologia muito cara. O importante é que seja possível colocá-la em prática e ao mesmo tempo ser acessível ao pequeno produtor, ao pequeno agricultor. Esse prêmio deu essa visão”, avalia Marcela.
Os resultados da pesquisa já estão sendo aproveitados comercialmente por um produtor de Monte Alto (SP). Além disso, outros produtores manifestaram interesse em conhecer o trabalho. Marcela afirma que o interesse é que o sistema seja eficiente, com maior retorno ao produtor e uma conservação de qualidade para o consumidor. Essa pesquisa faz parte do projeto Unimac (Unidade Móvel de Auxílio à Colheita), um projeto Jovem Pesquisador financiado pela Fapesp. O projeto também ganhou menção honrosa no Congresso de Iniciação Científica da Unicamp e o trabalho foi submetido a duas revistas de circulação nacional para publicação. Também foi apresentado, no começo de agosto, no Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, realizado em São Pedro (SP).
O professor Marcos David Ferreira avalia o prêmio recebido sob dois aspectos. O primeiro, caracterizado pela excelência do curso da Feagri, que reflete diretamente na formação dos alunos. O segundo, pela parte técnica da pesquisa, que vai auxiliar a cadeia produtiva do agronegócio, visando à diminuição das perdas.
Menção honrosa Outro trabalho de iniciação científica que recebeu menção honrosa no prêmio Jovem Cientista foi o da aluna Joyce Kazuê Alves Wada, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. O desenvolvimento de uma bebida láctea tipo achocolatada, rica em proteínas vegetais, a partir de sementes de cupuaçu, teve como objetivo obter um produto com alto valor nutricional visando atender um público carente.
Joyce explica que a idéia inicial foi pesquisar um aproveitamento das sementes de cupuaçu. Atualmente, as sementes são descartadas, voltam à lavoura como adubo. Possuem um alto valor nutricional, que corresponde a aproximadamente 20% da fruta. Foram aproveitados estudos anteriores sobre a composição nutricional das sementes de cupuaçu, inclusive uma comparação realizada com a casseína (proteína padrão de altíssima qualidade) e, também, com a semente de cacau. Os resultados mostram que a semente de cupuaçu não chega a ter o valor nutricional da casseína, mas é superior à semente do cacau.
O trabalho consistiu, especialmente, no aproveitamento da proteína. De acordo com a aluna, podem ser obtidos dois produtos diferentes. O primeiro é um isolado de proteínas obtido através de tratamentos químicos. O segundo é o pó de cupuaçu, produto similar ao pó de chocolate, obtido através de processo semelhante ao do cacau.
“Trata-se de um produto que pode ter adição de água ou leite. Se houver adição de leite, conseqüentemente haverá um aumento no nível de proteínas, uma vez que será adicionada proteína animal”, explica. Dessa maneira, é possível tornar o produto comercialmente favorável, com o objetivo de atender uma população carente do ponto de vista nutricional.
O orientador de Joyce Wada, professor Nelson Horácio Pezoa Garcia, explica que o processo está pronto para ser comercializado. “No momento, a Unicamp está dando andamento ao patenteamento do trabalho, porém, trata-se de um processo que tem aplicação imediata”, afirma.
O trabalho foi apresentado no 5º Simpósio Latino-Americano de Ciência dos Alimentos, realizado em novembro de 2003, na Unicamp e também recebeu menção honrosa. “Gostei muito de fazer a pesquisa. Os ganhos são inúmeros para um aluno de iniciação científica. O contato com o orientador, com os doutorandos e mestrandos e também com os técnicos de laboratório é muito importante. Aprendemos procedimentos de laboratório, além do relacionamento humano”, finaliza.