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335 trabalhos foram inscritos em 9 categorias, que representam as áreas de atividade da empresa
Prêmio Petrobras de Tecnologia contempla 3 alunos da Unicamp
JEVERSON BARBIERI
Manoel Orlando Alvarez Méndez, Rômulo Albuquerque Pereira e Sérgio Henrique Frasson Scafi são os alunos da Unicamp contemplados na primeira edição do Prêmio Petrobras de Tecnologia, entregue no último dia 5 de outubro, durante cerimônia realizada no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro. O prêmio, organizado em 9 categorias, teve 335 trabalhos inscritos de 18 estados do Brasil. Os três melhores trabalhos foram selecionados em cada categoria, totalizando 27 pesquisadores premiados. Os premiados receberam uma quantia em dinheiro, além de bolsas de estudo para o desenvolvimento de teses de mestrado e doutorado. As nove categorias (Energia, Exploração, Gás, Produção, Produtos, Recuperação de Petróleo, Refino e Petroquímica, Segurança Operacional e Preservação Ambiental, Transporte de Petróleo e Derivados) representam os Programas Tecnológicos da Petrobras e as áreas de atividade da empresa.
Para Manoel Orlando Alvarez Méndez, da Faculdade de Engenharia Química (FEQ), o primeiro lugar na categoria Produtos foi a coroação de seu trabalho de mestrado sobre o tema Síntese de materiais carbonosos ativados a partir do coque de petróleo. Ele explica que o produto originado da pesquisa surgiu a partir de dois dados bastante conhecidos pelos pesquisadores. O primeiro é o conhecimento de que a indústria do petróleo gera, em larga escala, um resíduo chamado coque de petróleo, que ainda não possui uma utilização direta e, portanto, é queimado. O segundo é o conhecimento que os orientadores e o pesquisador possuem sobre a área de produção de materiais carbonosos e carvão ativado. Utilizando esse coque como matéria-prima, surgiu o coque de petróleo ativado, com características adequadas para diversos processos de adsorção, entre eles a purificação de água ou de gases.
Manoel ressaltou que no caso do projeto apresentado à Petrobras, o objetivo se voltou para a produção de um material com características adequadas para armazenamento de gás natural. Esse projeto foi desenvolvido em parceria entre a Unicamp e a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Além disso, a parte experimental foi executada no laboratório da empresa Multivácuo Tecnologia em Sistemas de Vácuo, em Campinas (SP). A empresa foi parceira no projeto e colaborou com o preparo de amostras e com recursos financeiros”, observou o pesquisador. O fator motivador dessa parceria é que, segundo Manoel, a empresa tem um projeto com a Petrobras, na área de viabilização de gás natural. “Meu projeto resultou numa interface
entre as instituições”, comentou.
No caso do gás natural, o objetivo é
a produção de um material altamente
poroso, porém com poros de dimensões
muito pequenas, da ordem de 2 nanômetros, para
que fiquem com as mesmas dimensões das moléculas
de gás natural. Quando o gás é
colocado em contato com esse material, ele é
adsorvido na superfície do material. “Nesse
processo a densidade aumenta. É como se fosse
uma liquefação do gás na superfície
do sólido. Com isso o volume adsorvido é
muito maior”, explica Manoel. Dessa maneira,
é possível trabalhar com pressões
de armazenamento muito menores e com uma boa quantidade
de gás. Porém, lembra o pesquisador,
ainda não é possível atingir
os limites atuais de armazenamento como os de gás
natural comprimido.
A idéia, segundo ele, é rechear um tanque
com esse coque de petróleo ativado e preencher
o espaço livre com gás natural a uma
pressão bem menor que a pressão normal
de trabalho de um cilindro, verificando a real capacidade
de armazenamento. Com a redução da pressão
de armazenamento é possível construir
um tanque mais leve, de parede mais fina. Isso diminui
muito o custo do processo de fabricação
desses tanques, que é dispendioso. Outro ponto
observado pelo pesquisador é que, com a diminuição
da pressão de armazenamento, conseqüentemente
haverá um aumento na segurança do trabalho.
A orientação do trabalho ficou a cargo
do professor Antonio Carlos Luz Lisboa, da Faculdade
de Engenharia Química, e do professor Aparecido
dos Reis Coutinho, da Unimep.
Aluno do programa de doutorado do Instituto de Química
(IQ), Sérgio Henrique Scafi teve seu projeto “Sistema de monitoração de destilação
de petróleo e derivados de petróleo
em tempo real por meio de espectroscopia no infravermelho
próximo” classificado em terceiro lugar
na categoria Refino e Petroquímica. Ele explica
que o projeto surgiu a partir do trabalho de doutoramento,
que é o acompanhamento de destilação
de gasolinas e petróleos, visando identificar
a provável composição química
desses produtos. A tecnologia utilizada nesse processo,
de acordo com Sérgio, é a de espectroscopia
de infravermelho próximo, cujo objetivo é
verificar as regiões de absorção
para que seja possível determinar qual é
a composição química provável
que está sendo destilada naquele momento.
Segundo o pesquisador, esse fracionamento da gasolina
e do petróleo tem alguns objetivos. O primeiro
é identificar a origem da amostra e usar essas
informações na análise dos parâmetros
de qualidade, tanto da gasolina como do petróleo.
O segundo é fazer uma previsão do tipo
de amostra com a qual se está trabalhando para
poder adequar as condições de processamento.
Sérgio explica que esse processo pode também
ser utilizado para análise da gasolina comercializada
nos postos, visando flagrar possíveis adulterações
na sua composição.
Para a refinaria, de acordo com o pesquisador, esse
processo possui algumas vantagens. Uma delas é
saber antecipadamente qual o produto que será
trabalhado, com vistas à adequação
das condições da refinaria. Além
disso, é possível, durante o processo,
adequar as condições da coluna de destilação,
uma vez que, conhecendo a fração que
está saindo do processo, é possível
melhorar as condições de processamento
para os diversos produtos. “Os testes atuais
são muito caros, atingem o valor de R$ 8 mil
para cada análise”, explica. O objetivo
é viabilizar uma nova metodologia, mais simples
e rápida, o que significa diminuir custos.
De acordo com Sérgio Henrique, um equipamento
completo de espectroscopia tem, atualmente, um custo
aproximado de US$ 60 mil. Bastam, segundo ele, poucas
análises para que o investimento seja amortizado.
Outro ponto importante é que o equipamento
pode, dentro da refinaria, ser usado para outros fins,
potencializando o benefício.
Sérgio revelou que receber esse prêmio
foi uma grata surpresa. “Foi bastante importante.
Como o nosso trabalho estava relacionado com uma das
categorias, eu e meu orientador, professor Célio
Pasquini, resolvemos submeter o trabalho. Foi uma
satisfação saber que estávamos
entre os três selecionados. Como estou chegando
na fase final de defesa de tese, o prêmio trouxe
uma motivação ainda maior e valorizou
o trabalho efetuado. Fechamos com chave de ouro”,
finalizou.
Rômulo Albuquerque Pereira, aluno do Instituto
de Computação (IC), conquistou o terceiro
lugar na categoria Produção, com o trabalho
Uma estratégia Grasp para escalonar
atividades de desenvolvimento de poços de petróleo
no mar”. Antes que locais promissores de bacias
petrolíferas sejam efetivamente transformados
em poços produtores de petróleo, é
necessário realizar diversas atividades de
perfuração e de interligação
nesses locais. O escalonamento dessas atividades deve
satisfazer várias restrições
e maximizar a produção petrolífera
em um determinado espaço de tempo.
Orientado pelos professores Arnaldo Vieira Moura e
Cid Carvalho de Souza, o trabalho de Rômulo
mostra que é possível maximizar um escalonamento
dessas atividades, utilizando algoritmos do tipo Grasp
(Greedy Randomized Adaptive Search Procedure). Isso
reduz esse processo de dois dias para um minuto. Conseqüentemente,
libera mão-de-obra especializada para lidar
com outros processos. Além disso, segundo Rômulo,
otimiza o escalonamento gerando ganhos de cerca de
um milhão de barris de petróleo por
escalonamento, quando comparada a uma ferramenta já
superior ao processo manual. Com o barril de petróleo
cotado a US$ 63, os ganhos são de cerca de
US$ 63 milhões por escalonamento. “A Petrobras realiza essa atividade 2 ou 3 vezes por ano”, finalizou.