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Universidade foi a instituição que inscreveu maior número de trabalhos com mérito científico
Unicamp traz prêmio ‘Jovem Cientista’
por mérito institucional
RAQUEL DO CARMO SANTOS
A Unicamp foi a vencedora na categoria Mérito Institucional do 21º Prêmio Jovem Cientista, um dos prêmios brasileiros mais importantes de incentivo à pesquisa científica no país. O anúncio foi feito hoje pela manhã, em Brasília, na sede do CNPq, pelo diretor da entidade Manoel Barral Netto. O reitor José Tadeu Jorge estava presente. A Unicamp foi a instituição com maior número de pesquisas com mérito científico inscritas no concurso. Participou com 24 trabalhos de um total de 181 pesquisas que versavam sobre o tema “Sangue: Fluido da vida”. A entrega do prêmio será feita pelo presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva e por autoridades governamentais da área de Ciência e Tecnologia ainda este mês.
Outros dois prêmios foram concedidos para pesquisas realizadas nos laboratórios da Universidade. Na categoria Graduado, o segundo lugar ficou para a doutoranda da Faculdade de Ciências Médicas Adriana da Silva Santos Duarte, com um estudo que demonstrou os primeiros resultados de pesquisas com o gene PP2500 presente nos pacientes com o câncer mieloma múltiplo. O aluno do quinto ano de Medicina, Samuel de Souza Medina, também foi contemplado. Obteve a segunda colocação na categoria Estudante de Ensino Superior. Medina estudou a expressão da proteína Formina leucocitária humana nas células normais e tumorais.
Os dois trabalhos compõem uma série de estudos do projeto financiado pela Fapesp e pelo CNPq, denominado Clonagem de novos genes relacionados ao câncer, coordenado pela professora Sara Teresinha Olalla Saad, do Centro de Hematologia e Hemoterapia. Cada contemplado irá receber R$ 15 mil e R$ 8,5 mil respectivamente. A primeira colocação da categoria graduado ficou para Ana Beatriz Gorini da Veiga, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, na categoria estudante de ensino superior, o primeiro lugar foi para Amanda Meskauskas, Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (SP). O Prêmio Jovem Cientista, uma iniciativa do CNPq, do Grupo Gerdau, da Petrobras/Procel e da Fundação Roberto Marinho, foi criado em 1981.
Para o reitor José Tadeu Jorge, “a constância com que, ao longo dos anos, a Unicamp tem sido contemplada com o Prêmio Jovem Cientista, seja institucionalmente ou através da participação individual de seus estudantes e graduados, é uma prova da alta qualidade de seu ensino e da indissociabilidade deste com a pesquisa”. Demonstra também, segundo o reitor, “a qualidade intelectual dos estudantes da Unicamp, seu grau de interesse pela ciência e sua capacidade, desde já, de formular propostas para as demandas da sociedade”.
Mieloma múltiplo É grande a incidência do mieloma múltiplo entre os vários tipos de câncer no sangue. Em geral, acomete idosos e os procedimentos quimioterápicos são agressivos. Outra alternativa de tratamento é o transplante de medula. Mas, nestes casos já se sabe que a média de vida após a intervenção é de cinco anos. Por isso, ao obter os primeiros resultados da expressão do gene PP2500, presente significativamente nas células tumorais, a jovem pesquisadora Adriana da Silva Santos Duarte abriu um leque de possibilidades para chegar a novas terapêuticas da doença.
Adriana bem sabe que ainda tem um longo caminho pela frente. O fato de “conhecer” o gene ainda não significa que o trabalho esteja pronto. “Estes foram apenas os primeiros resultados e tenho dois anos para estudar outros aspectos do gene”, explica. O próximo passo será analisar as implicações das expressões do gene nas células cancerígenas. “A idéia é tentar impedir a proliferação das células tumorais a partir do gene. Isso poderia melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, esclarece.
Há doze anos envolvida em pesquisas no Hemocentro, a doutoranda guarda a esperança de poder contribuir muito mais com a cura do câncer. Pretende, a partir dos estudos com o gene PP2500, avaliar a sua presença em outros tipos de tumores e anemias. Adriana se sente privilegiada pelo incentivo da orientadora e pela equipe do Laboratório de Biologia Molecular e Terapia Gênica do Hemocentro. “A premiação foi recebida com festa, pois se trata de um reconhecimento do nosso trabalho que tem como objetivo a qualidade devida do ser humano”, comemora.
Formina leococitária Vencer os desafios para a cura do câncer foi algo que ocupou a mente de Samuel de Souza Medina desde a época em que precisava se decidir por uma carreira profissional. Aliás, Samuel prestou Medicina justamente para poder se dedicar à pesquisa nesta área. No percurso, no entanto, se apaixonou pela clínica. “Hoje não abriria mão de trabalhar com pacientes”, destaca. Mas o estudante acredita conseguir conciliar as duas funções e não perder de vista a expectativa de buscar novas terapêuticas para a leucemia.
No segundo ano do curso, Samuel se embrenhou num projeto de iniciação científica com a formina leococitária humana, uma proteína recém-descoberta que se acreditava ter relação direta com a leucemia. Durante três anos se empenhou em analisar a expressão da proteína, tanto nas células normais como nas tumorais. “A conclusão foi que essa proteína tinha muito baixa expressão nas células normais, enquanto apresentava um aumento significativo nas tumorais”, explica. Isto significa que ela pode estar diretamente envolvida no processo de lesões das células. “Se conseguir suprimir ou interferir na via de sinalização em que está envolvida, podemos melhorar o curso da doença ou a resposta dos pacientes ao tratamento”, esclarece o aluno.
Samuel evidencia que a pauta dos pesquisadores do Hemocentro é a busca de novos alvos moleculares para a terapêutica. “É um grande avanço, pois um dos principais problemas da quimioterapia é que os medicamentos utilizados eliminam não só as células tumorais como também as normais. Descobrir alvos específicos que possam ser atacados constitui uma grande contribuição”.