Cerca de seis mil profissionais que atuam na rede estadual de Educação de São Paulo, entre diretores, coordenadores, supervisores e dirigentes regionais de ensino, voltarão a ser estudantes a partir do próximo dia 21 de novembro. Durante um ano, eles farão o Curso de pós-graduação lato sensu em Gestão Educacional da Unicamp, criado especialmente para esses educadores. O objetivo da iniciativa, solicitada pela Secretaria de Estado da Educação, é fornecer subsídios teóricos e metodológicos que contribuam com os gestores na reflexão sobre seu trabalho e, conseqüentemente, sobre o ensino público. Cerca de 300 professores, mestrandos e doutorandos da Universidade estarão envolvidos no projeto, que contará com um investimento de aproximadamente R$ 10 milhões por parte do governo do Estado.
A criação do curso nasceu do interesse da Secretaria da Educação, que procurou a ajuda da Unicamp. Em seguida, o Grupo Gestor de Projetos Educacionais (GGPE), ligado à Reitoria, propôs à Faculdade de Educação que elaborasse um projeto nesse sentido. Assim que ficou pronta, a proposta foi discutida com os representantes da Secretaria até que se chegasse ao formato final. De acordo com a professora Agueda Bernardete Bittencourt, uma das coordenadoras executivas do curso, as disciplinas (dez, ao todo), a bibliografia e as diversas atividades que comporão as aulas foram pensadas de modo a estimular o gestor escolar a tornar-se o sujeito do processo educacional. “A Faculdade tem tradição nessa área, uma vez que é responsável pela formação dos diretores e supervisores educacionais, em seus cursos regulares. Trabalhamos também na formação dos dirigentes de escolas em exercício, desde 1980”, afirma.
Conforme Agueda, a intenção é que o curso se constitua num espaço para a troca de idéias e experiências entre os profissionais do sistema estadual de ensino e os professores e pesquisadores da Unicamp. Ela lembra que os dirigentes da rede pública têm boa qualificação e trazem consigo uma longa experiência. “Vamos colocar nossas pesquisas e conhecimentos à disposição deles, mas também vamos nos valer da compreensão que esses futuros alunos têm da realidade educacional do Estado. Penso que a Universidade estabelecerá um canal privilegiado para chegar às escolas que compõem o sistema público de ensino”, analisa. Para Wenceslao Machado de Oliveira, outro coordenador executivo, o curso terá uma abrangência que extrapolará a questão técnica. “Queremos ir além dessa formação, sem desconhecê-la”, diz.
Assim, o curso tratará também de temas ligados à história da escola e da educação, à filosofia, entre outros. “Queremos, ainda, olhar para dentro da escola e para a cultura que ela gera. Essa cultura pode ser entendida, por exemplo, a partir das práticas educativas ou das atividades do cotidiano, como as relações de poder, de violência etc”, explica Wenceslao. Outros dois pontos que serão discutidos, acrescenta Agueda, são os que tratam da relação de trabalho, tanto no interior da escola quanto fora dela, e das tecnologias atuais, vinculadas principalmente às áreas de informação e comunicação. “Estaremos trabalhando com dirigentes de escolas que ensinam desde crianças até adultos, daí a importância desses diferentes componentes curriculares”.
O corpo docente do curso, de acordo com os coordenadores executivos, será formado por professores que integram os diversos grupos de pesquisa da FE inscritos no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Eventualmente, docentes de outras unidades de ensino da Unicamp também se integrarão ao projeto. “Trata-se, portanto, de uma ação institucional. O intuito é marcar uma posição política e fazer com que os eventuais dividendos sejam revertidos para a Faculdade”, assegura a professora Agueda.
Segundo ela, metade do curso será ministrada em atividades presenciais e a outra metade será a distância, com o suporte do TelEduc, ferramenta desenvolvida por pesquisadores da própria Unicamp e que se transformou num dos principais ambientes do gênero em todo o mundo. As aulas presenciais serão ministradas aos sábados, em Campinas e São Paulo, de modo a facilitar o acesso dos alunos, que virão de inúmeros municípios do Estado. Cerca de 60% dos 6 mil gestores educacionais do Estado (3,6 mil pessoas) assistirão às aulas no campus de Barão Geraldo. Para receber esse contingente, foi preciso realizar um amplo trabalho de logística. Algo em torno de 70 salas de aulas foram reservadas para projeto.
O professor Wenceslao destaca que os estudantes contarão com dois tipos de material pedagógico: CDs contendo vídeoaulas e três livros com o conteúdo completo das dez disciplinas a serem ministradas. De acordo com ele, ao final do curso os alunos apresentarão um trabalho de conclusão que trate ou seja destinado a uma escola específica. “Esse trabalho final será construído ao longo do próprio curso, já que o estudante terá que produzir um relatório ao final de cada disciplina, que terá entre 30 e 60 horas”, informa. As videoconferências servirão para orientar o trabalho de conclusão. O curso todo será desenvolvido em 390 horas.