Historiadora investiga relação entre montanhas e memória
O que se imagina quando se pronuncia a palavra montanha? Em geral, pensa-se em um lugar bonito que transmite paz. Mas, ao longo da história, este tipo de sensação ou sentimento não era encarado como algo positivo. “Houve uma época, na cultura ocidental, em que a montanha estava associada a aspectos religiosos e ao desconhecido, chegando a ser vista como algo nada agradável. Mais tarde eram apenas os locais que se almejava chegar para explorações científicas. Mas ao trilhar esses caminhos para os cumes, as pessoas descobriram que estar em tais ambientes poderia ser algo fascinante, um movimento que mexia com músculos, mente e espírito”, exemplifica a historiadora Alessandra Izabel de Carvalho.
Ela pesquisou a fundo a construção histórica das montanhas para concluir seu trabalho de doutoramento “Montanhas e memórias - Uma identificação cultural no Marumbi”, orientado pelo professor Edgard Salvadori De Decca, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Alessandra partiu das visões de um grupo de pessoas alojada aos pés da porção paranaense da Serra do Mar, denominada Marumbi, para embasar sua teoria de que, atualmente, se reconhecem as montanhas como algo belo e sublime porque a nossa cultura assim nos informa. “Colhi depoimentos dos marumbinistas e fiz um levantamento bibliográfico para entender como surgiram os sentimentos modernos com relação às montanhas”, esclarece.
Hoje o Marumbi é um parque estadual. Mas o marumbinismo, tema do estudo da pesquisadora, foi uma manifestação específica da prática do montanhismo desenvolvida naquele local que se delineou entre as décadas de 1940 e 1960. As montanhas do Marumbi figuram entre as primeiras a ser escaladas esportivamente no Brasil, e isso ainda no século XIX. Mas foi pela proximidade física e por freqüentar a região há 15 anos que Alessandra as tomou como o ponto de partida para sua tese que, em resumo, é uma investigação sobre o surgimento de nova sensibilidade o prazer de escalar montanhas.
Pesquisadora utiliza gás etileno
para amadurecimento do tomate
Nos Estados Unidos e Europa é comum realizar o processo de amadurecimento do tomate de mesa com gás etileno hormônio natural produzido por plantas e que não causa nenhum efeito deletério no organismo humano. Nestes locais, são inúmeras as cultivares em que se adota o processo, já que os efeitos e conseqüências da aplicação do gás etileno são bastante conhecidos. Com isso, é possível obter uma qualidade aceitável do produto nestes países. No Brasil, no entanto, pouco se sabe a respeito. Uma pesquisa feita nos laboratórios da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp promete pôr fim ao desconhecimento da técnica. A engenheira Caroline Andreuccetti testou o tratamento em duas cultivares do tomate brasileiro: Débora e Andréa.
Nos experimentos a pesquisadora aplicou, em fluxo contínuo por 48 horas, o gás no tomate ainda verde e, na seqüência, armazenou em câmeras de refrigeração a 20oC. Após o tratamento, Caroline já observou alteração na coloração. O gás em contato com os frutos produziu o amadurecimento de forma homogênea. “A técnica permitiu acelerar o processo em até dois dias. Para a comparação, procedemos o resfriamento de parte dos tomates sem a aplicação do gás”, explica. Depois de terminado o processo, a pesquisadora realizou análise das modificações químicas e físicas para comparar com os padrões preconizados para a qualidade do produto.
A dissertação de mestrado de Caroline, denominada “Avaliação da qualidade do tomate de mesa tratado com gás etileno”, orientada pelo professor Marcos David Ferreira, foi apresentada em outubro, na Feagri e faz parte de um projeto para melhoria na eficiência no sistema de colheita e beneficiamento, o Projeto Unimac. No trabalho, ela detalha que na cultivar Andréa não houve nenhum tipo de modificação. “Somente constatamos o amadurecimento de maneira uniforme”, destaca. Já no caso da cultivar Débora, além da uniformidade no amadurecimento, houve menor perda de massa no lote em que o gás etileno foi aplicado. Também se observou maior teor de açúcar. “Isto indica que há potencial para que se realize o tratamento com a cultivar Débora e não para a cultivar Andréa”, esclarece.
A pesquisa realizada por Caroline traz inúmeras informações sobre a resposta das cultivares com a aplicação do etileno no país, onde só é utilizada a técnica para o amadurecimento da banana. Por isso, as novas descobertas irão possibilitar ao produtor maior referência na hora de realizar o processo para o controle das demandas de mercado.
Bióloga faz manejo de espécies
pioneiras em clareiras de mata
A Mata Santa Genebra, em Barão Geraldo, distrito de Campinas, esconde espécies pioneiras em seu interior. Um estudo mais apurado realizado pela bióloga Sandy Lia dos Santos identificou 49 espécies arbóreas, arbustivas, herbáceas e trepadeiras nativas e exóticas de 23 famílias. Algumas delas de beleza e procedência raras. O trabalho da bióloga, porém, não parou na identificação. Ela observou que em ambiente com muita luz, denominado clareira, crescem as espécies pioneiras e junto com elas as trepadeiras ou lianas que, muitas vezes, impedem o desenvolvimento das espécies pioneiras. Durante dois anos, Sandy fez o manejo das sementes para que as mesmas pudessem germinar e colonizar as clareiras. “As sementes podem cair ou soltar-se das árvores com o vento ou mesmo podem ser trazidas por animais. Era necessário que se fizesse um trabalho de afastamento para a borda e, assim, permitir que as sementes e plântulas crescessem”, explica. Com isso, ela criou uma proposta para limpar e afastar as lianas para dar liberdade de crescimento às espécies.
A existência das lianas em clareiras nas áreas verdes indica que se deveria estar mais atento ao fenômeno, explica Sandy, pois elas têm papel importante no equilíbrio ecológico e sua presença nas clareiras também é fundamental para a sobrevivência das espécies animais que habitam na mata. Desta forma, um plano de manejo seria um dos assuntos emergentes para a preservação da área verde de Campinas. As espécies pioneiras muitas vezes são raras e necessitam de mecanismos que auxiliem a sua proliferação ou recrutamento, como dizem os biólogos.
O esforço realizado pela bióloga rendeu sua tese de doutorado “Dinâmica de clareiras: Comportamento de espécies pioneiras e fatores que afetam sua colonização”, orientada pelo professor do Instituto de Biologia Ivany Válio e financiada pela Fapesp. No estudo, Sandy quis registrar e analisar fatores que pudessem limitar a presença das espécies pioneiras nas clareiras. Ela se ateve ao foco de três tamanhos de clareiras: de 82, 186 e 660 metros quadrados. Das 49 espécies identificadas, 21 estiveram presentes no estudo do recrutamento, 35 no estudo sobre banco de sementes e 36 sobre chuva de sementes. As famílias mais representativas foram Asteraceae e Poaceae.
Cinema para jovens: leia o livro,
compre o disco e veja o filme
A
indústria do cinema dirigido
ao público juvenil não
se sustenta por si só. Os filmes
conseguem bilheterias milionárias
devido a uma combinação
de várias indústrias que
induzem ao consumo. Em geral, quando
um filme é lançado, ao
mesmo tempo são realizadas campanhas
publicitárias utilizando discos,
livros, camisetas e diversos outros
artigos. Não é caracterizado
pela arte, mas sim como um produto de
consumo. A constatação
é da socióloga Zuleika
de Paula Bueno ao pesquisar a produção
cinematográfica juvenil na década
de 80 que em sua opinião
foi o período em que se consolida
a juvenilização da produção
brasileira.
Para embasar melhor sua tese de doutorado “Leia o livro, veja o filme, compre o disco: a produção cinematográfica juvenil brasileira na década de 1980”, orientada pelo professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e colaborador no Instituto de Artes José Mário Ortiz Ramos, Zuelika fez análise dos principais sucessos brasileiros: “Feliz Ano Velho”, “Menino do Rio”, “Garota Dourada” e “Bete Balanço”. “Todos esses filmes, embora alcançando bilheterias substanciais, enfrentam a concorrência estrangeira”, destaca a socióloga.
Em “Feliz Ano Velho”, a produção seguiu na direção do sucesso da indústria editorial que lançou a obra de Marcelo Rubens Paiva. Não é uma adaptação exata do livro, mas consegue se projetar no circuito de consumo mais amplo. Já no filme “Menino do Rio”, a presença da indústria fonográfica é bastante forte. Zuleika explica que a composição de Caetano Veloso, que leva o título do filme, ficou em primeiro lugar nas paradas durante muito tempo, criando, inclusive um estereótipo do garoto queimado de sol e surfista. “A produção teve continuidade e atingiu a sua proposta”, afirma. O filme de maior bilheteria de todos os citados foi “Bete Balanço”. Com uma música forte e enredo que projetou a atriz Débora Bloch no cenário artístico, o filme até hoje é cotado entre as mais importantes produções brasileiras.