A dor Doença de Parkinson não deve ser desprezada para o diagnóstico e tratamento da enfermidade, sugere a neurologista Grace Helena Letro, que apresentou dissertação de mestrado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Segundo a neurologista, as dores podem preceder ou acompanhar os sintomas motores, como tremor, rigidez, lentificação dos movimentos e instabilidade postural, sinais característicos da doença.
Há pacientes, segundo Grace, que apresentam sintomas de dor no ombro, por exemplo, e passam por várias especialidades médicas sem, no entanto, encontrarem as causas. “Nestes casos, seria importante que o médico também observasse outros sinais e sintomas que poderiam indicar o início do processo da doença”, aconselha.
Segundo a neurologista, a dor também pode estar relacionada a diversos fatores. “Encontramos associações com outras enfermidades ou co-morbidades, às complicações, ao próprio tratamento da doença e às síndromes sensitivas primárias, que são caracterizadas por queixas de dores vagas, mal definidas”, explica.
A Doença de Parkinson é neurodegenerativa e progressiva. Ela é ocasionada pela degeneração de neurônios na substância negra, localizada no cérebro. Produz um neurotransmissor chamado dopamina, que leva ao aparecimento dos sintomas motores. Entretanto, outros neurotransmissores estão envolvidos, produzindo sintomas não-motores como alterações olfatórias, autonômicas, sensitivas, psíquicas, cognitivas e distúrbios do sono.
Orientada pela professora Elizabeth Quagliato, Grace avaliou 50 parkinsonianos para saber se as queixas de dor tinham relação com a doença. “Idosos acima de 65 anos têm maior propensão de desenvolver a enfermidade. Portanto, é natural que as dores por outras enfermidades apareçam ao mesmo tempo”, explica a neurologista.
No trabalho, a neurologista excluiu a dor causada pelas co-morbidades e constatou que, do grupo estudado, 27 relataram dor, sendo que 22 deles apresentaram o quadro, no estágio Off, ou seja, período de tempo em que medicamento utilizado, o levodopa, perde o efeito e em que reaparecem os sintomas motores e não-motores.
Observou ainda que dos 27 pacientes com dor, 16 ou quase 60% melhoraram com o medicamento, demonstrando uma associação entre a dor e a doença. A questão, no entanto, é que tanto no diagnóstico como no tratamento da doença, a dor muitas vezes não é contemplada. “Muitos profissionais da saúde acabam associando o quadro com outras co-morbidades”, esclarece.
Grace lembra que as primeiras descrições sobre a dor na doença foram realizadas inicialmente por James Parkinson, em 1817, e, posteriormente, por Jean Martin Charcot, em 1877. Depois, outros pesquisadores estudaram a dor. Recentemente, tem se dado muita ênfase a este sintoma, pois muitas vezes ele é mais importante que as próprias queixas motoras. “Diagnosticar a causa da dor na Doença de Parkinson possibilita uma melhora das atividades de vida diária do paciente, por meio da adequação do tratamento medicamentoso”, conclui.