| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 381 - 26 de novembro a 2 de dezembro de 2007
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Expressão poética do rap
brasileiro é tema de estudo

MANUEL ALVES FILHO

A aluna Marília Gessa (à esquerda), autora do trabalho, e a professora Anna Christina Bentes da Silva, orientadora: sonoridade, idéia e imagem  (Foto: Érica Guimarães)Em inglês, rap é a sigla de rhythm and poetry (ritmo e poesia). Ou seja, o gênero musical que nasceu na Jamaica nos anos 60 e se fortaleceu nos Estados Unidos uma década depois, mais precisamente nos bairros periféricos de Nova York, tem sua gênese fundada na expressão poética. Mas e o rap brasileiro, ele reúne recursos formais que podem caracterizá-lo como uma manifestação da poesia oral contemporânea? Para a estudante de Letras da Unicamp Marília Gessa, a resposta é afirmativa. De acordo com ela, que pesquisou o tema em trabalho de iniciação científica, o rap apresenta os três elementos fundamentais do texto poético: sonoridade, idéia e imagem.

Teoria de Pound fundamenta trabalhos

Orientada pela professora Anna Christina Bentes da Silva, Marília se aprofundou no universo do rap, pesquisando a produção musical dos principais grupos e rappers brasileiros. Para sustentar sua análise, a estudante foi buscar amparo na teoria do poeta norte-americano Ezra Pound. De acordo com ele, para que possa ser classificado como poético, o texto precisa reunir ao menos dois de três elementos essenciais: sonoridade, idéia e imagem. “O rap apresenta essas três características, além da rima, que também faz parte da poesia. As letras são normalmente autobiográficas. Com freqüência, elas falam da história de uma pessoa, cuja trajetória está associada à realidade de toda a comunidade onde ela vive. Os rappers fazem uso da rima para condensar o texto e de imagens para reforçar as mensagens carregadas de ideologia. Os temas mais explorados são exclusão, preconceito racial, violência policial e a carência de infra-estrutura social e urbana das periferias”, afirma.

Antigamente, conforme a professora Anna Bentes, a maioria dos rappers enxergava a sua música apenas como um recurso para protestar contra a desigualdade e a exploração. Atualmente, vários deles já reconhecem a expressão poética presente em suas letras e entendem que um aspecto não exclui o outro. Conforme Marília, Mano Brown, líder do grupo paulistano Racionais MCs, um dos mais importantes do movimento rap brasileiro, tem caminhado nesse sentido. “Num debate do qual participei com ele, Brown admitiu que, no início da carreira, não aceitava ser chamado de poeta. Para ele, o rap era uma arma para lutar contra a opressão. Atualmente, após reconhecer que amadureceu e construiu outros olhares, ele afirma que já consegue se aceitar como poeta, sem que isso acarrete na valorização da forma em detrimento da mensagem e, muito menos, na mudança de conteúdo de suas letras”, conta.

A professora Anna Bentes considera que, ao construir sonoramente imagens visuais, o rap contribuiu para o surgimento de um novo tipo de arte no século 20, baseado numa estética igualmente inovadora. Ao ser indagada se o gênero musical terá vida longa, ela responde que sim. Por uma razão muito clara, conforme a docente. “O rap é um modo de comunicação, do qual qualquer um pode se apropriar. Uma das regras do rap é a seguinte: ninguém diz nada por você. Nesse sentido, ele tem um compromisso muito mais profundo com a mensagem do que com a estética. Por conta dessas características, penso que ele permanecerá por muito tempo”.

Hip-hop – O rap chegou ao Brasil no período compreendido entre o final da década de 70 e o começo da de 80. O gênero musical encontrou campo fértil nas periferias das grandes cidades, principalmente São Paulo. De acordo com Marília Gessa, o rap tem forte ligação com o modo de vida urbano, mais precisamente das favelas e comunidades carentes, onde a presença do negro é marcante. Assim como no restante do mundo, o arcabouço ideológico do rap brasileiro é a cultura hip-hop, que congrega duas outras formas de manifestação artística: o break (dança) e o grafite (arte gráfica). De maneira geral, os rappers nacionais são bastante unidos, rejeitam a violência e não admitem traição aos princípios do movimento. Artistas que passam a fazer sucesso e se transformam em estrelas midiáticas, por exemplo, são automaticamente desprezados pelos seus pares e pelo público. Não por outra razão, cantores norte-americanos como Eminem, Snoop Dog e 50 Cent, apenas para ficar em três exemplos, são desconsiderados pelos integrantes do movimento no Brasil.

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