Unicamp Hoje - O seu canal da Noticia
navegação

Unicamp Hoje. Você está aquiAssessoria de ImprensaEventosProgramação CulturalComunicadosPublicações na Unicamp

ciliostop.gif (380 bytes)
Jornal da Unicamp

Semana da Unicamp

Assine o "Semana"

Divulgue seu assunto

Divulgue seu evento

Divulgue sua Tese

Cadastro de Jornalistas


Mídias

Sinopses dos jornais diários

Envie dúvidas e sugestões

ciliosbott.gif (352 bytes)

1 2 3 45 6 7 8/9 10/11 12/13 14/15 16/17 18 19 20

Jornal da Unicamp - Outubro de 2000

Páginas 14 e 15

VESTIBULAR

Livro reúne redações
do Vestibular 2000

O espelho d’água
Fabiana Bigaton Tonin

Ao tentar apreender a origem do mundo e dos homens, filósofos gregos propuseram um enunciado simples: a água seria o cerne, literalmente a fonte de todas as coisas. Longe de ser absurdo e tomadas as devidas referências históricas, tal história pode metaforizar o papel simples, vital e cultural do elemento químico capaz de fazer florescer civilizações, ditar limites geográficos e protagonizar conflitos. Se mitologicamente, a associação da vida e da sobrevivência se fez de forma divina e fantasiosa, hoje é possível analisar essa que pode ser tida como "vulgar premonição" como premissa das mais sábias tida pelos primeiros humanos e de fundamental importância para o mundo moderno.

O planeta ironicamente chamado Terra tem a maior parte de sua superfície tomada pelas águas, as quais fluíram no decorrer dos tempos estreitando os laços biológicos cotidiana e ininterruptamente, assinalando mais que divindades, problemas sociais e políticos bem pouco poéticos. A irrigação, a importância dos recursos hídricos para a economia humana foi se reforçando como advento da tecnologia e, mais que metáfora, a composição da vida (e dos meios para esta) confirmou a compleição e a complexidade da ligação homem-água. Ao galgar gradativo do aprimoramento técnico que trouxe indústrias, não só a religião de outrora remetera ao elemento cristalino a manutenção da vida. Junto ao desenvolvimento urbano (ainda sem tocar no processo de desequilíbrio e poluição do meio ambiente), à instalação de indústrias e estabelecimento do homem em aglomerados primordiais, virão os médicos a desconfiar do papel importante da água limpa. A estes, seguir-se-ão engenheiros e arquitetos, responsáveis pela elaboração de mecanismos facilitadores da manutenção da limpeza e do escoamento de impurezas e dejetos.

Mesmo antes destes, no século XVIII, a preocupação com a purificação, com a higiene corporal marcará a vida privada de sociedades pouco habituadas a exigências de limpeza, de cuidados pessoais, atuando como precursora dos modernos métodos preventivos e profiláxicos. Será nesse tempo que se iniciará o conhecimento mais apurado e científico em relação à umidade e sua nem tão misteriosa influência na salubridade dos meios de vida. Ora, a higiene é, pois, um pequeno, mas fundamental ponto nessa saga.

Simultâneo, talvez, a isso, seja o processo que acelera o desenvolvimento econômico e faz marcar o utilitarismo. Se antes, para o Egito e a Mesopotâmia, a água já era componente cultural e econômico primordial, agora, as modernas vias dos meios de produção vão transmutá-la em ponto de discórdia. A poluição vem margear o alarde da tecnologia e da economia lastreada na produção industrial. O desequilíbrio natural vai crescendo paulatino, constante. E as chuvas ácidas, os rios poluídos ameaçam as sociedades higiênicas, estabelecidas nas margens de seus ternos ribeirões. O que remetia à recordação suave da queda cristalina d’água dá lugar à preocupação não mais latente de que não seja o dilúvio a última catástrofe.

O mesmo ser que se constitui da água, que navega descobrindo mundos, escoando ou explorando riquezas, começa a buscar sedento uma tábua de salvação. Seu mundo e sua sobrevivência estão sobre colunas vitais que podem soçobrar a qualquer momento. Mais que uma problemática geográfica, instaura-se um conflito sócio-econômico em que se disputa não só as vias fluviais e pluviais, mas a própria água, que, dada a destruição, torna-se rara, preciosa. É o homem semelhante ao místico que agradecia as cheias do Nilo que se conscientiza aos poucos de que, talvez, mais do que sangue, lhe seja vital o elemento primordial, a água que encantou gregos, que fez Hieráclito pensar que tudo fluía, mas que também arrasou a terra e fez Noé construir a arca. Bem como benção, ela é castigo se o "predador" assim pedir, mesmo quando gentil lhe faz poemas ou odes.

Elemento vivo, ela pulsa, reflete a existência e atenta para o fato de que talvez a tragédia final não seja abarcável por uma arca, tampouco plausível de filosofia.


Exemplo de texto narrativo
Gabriela Abreu Guedes

Sexta-feira, 1 de outubro de 1999
A mancha tomava conta do rio pouco a pouco. O rapaz observando tudo, afrouxou a gravata, deu um último trago no cigarro e, embora nesse momento já estivesse sozinho, falou alto – talvez para ver se assim se convenceria – que estava apenas cumprindo ordens. Fora dura a jornada até ali. Pessoas como ele não têm opção: se lutam contra o sistema se marginalizam. Ele não seria mais um. O avô havia sido um idealista, o pai, um conformista, e o que conseguiram? Respaldado pela impotência de sua imagem: terno e gravata impecáveis e um quê de altivez no olhar, procurava se convencer de que a Moral existe para subjugar os fracos: a pobreza é nobre; a humildade, dignificante; sofre-se na Terra para ganhar-se o reino dos céus; vive-se em condições sub-humanas para se chegar até Deus. Fracos. Após gerações, ele era o primeiro a ter coragem de dizer não e enxergar a própria realidade, sem pseudo-moralismos. Ele não seria um fraco. Procurava não dar muita vazão ao sentimento que teimava em invadir-lhe a mente quando pensava no pai. "Fraco!", dessa vez quase gritou. Agora cumpria ordens; amanhã mandaria, era só uma questão de tempo.

Sábado, 2 de outubro de 1999
Na redação, o calor era tórrido. O "foca", ainda desacostumado à rotina acelerada de uma redação de jornal, já pensava no próximo feriado. Os colegas achavam graça, "será que você escolheu a profissão certa?", perguntavam. Um jornalista não tem fim de semana, nem feriado, mas não era isso o que mais incomodava o foca. A essa altura, tinha realmente dúvidas se havia escolhido a profissão certa, mas menos devido à suposta superatividade que por ver frustrada a imagem que, em seus sonhos juvenis, fazia da profissão: cobriria uma guerra no Golfo Pérsico ou nas balcãs; anunciaria, em primeira mão, notícia envolvendo um ministro ou chefe de Estado; vaticinaria, com autoridade, sobre um possível naufrágio econômico no país. Sua mente trabalhava em ritmo mais acelerado que sua rotina suportava. Talvez se desse bem como ficcionista. Enquanto isso, ia alimentando uma ou duas histórias na cabeça. Quando o editor pediu que ele fosse conferir a "tal mancha" no rio, ele foi com a mesma solicitude indiferente de sempre...

Domingo, 03 de outubro de 1999
No dia anterior havia feito inúmeras entrevistas: engenheiros, técnicos, autoridades... Havia a possibilidade de a poluição ter sido intencional, mas tal hipótese, geralmente sussurrada ou dita de modo sorrateiro, parecia causar incômodo. Apenas o "foca" se interessou pela teoria. "Intencional? Mais de cem pessoas estão sem água, que, misturada a óleo, compõe um conjunto extremamente tóxico. Mas que espécie de intenção é essa?" O bip chamava: deveria ir a Paulínia, pois havia uma nova mancha por lá.

Segunda-feira, 4 de outubro de 1999
Mal o editor deixara a sala, vieram os colegas felicitá-lo pela reportagem: a matéria seria manchete de primeira página. Indiferente à repercussão, o "foca" sentia uma sensação ruim, uma espécie de mau presságio. Lembrara da conversa com os técnicos da Cetesb, da dúvida em colocar ou não a hipótese criminosa na reportagem. Os técnicos falavam com certa reserva, mas bastante convicção. Temiam represálias, mas sabiam o que estavam dizendo. Ao perceberem o interesse do jornalista, todos emudeceram, unânimes. Ao sair, recebeu sinal para subir. Falando com o engenheiro-chefe, entendeu que nunca se deve dizer tudo o que se sabe. É sensato saber calar. O jornal sairia na manhã seguinte e ele, arrasado, sentia-se vencido. O telefone tocou.

Terça-feira, 5 de outubro de 1999
O "foca" chegava ao lugar marcado com quinze minutos de antecedência. Pelo telefone, a pessoa apenas informou a hora e o local em que deveriam se encontrar. Não se identificou e não disse como estaria. Aparentemente um boteco, como qualquer outro; adentrou o local, relutante entre a curiosidade e a cautela. Sabia que ter insinuado a hipótese criminosa em sua matéria havia irritado imensamente as autoridades locais, que temiam que a população imaginasse que pudesse estar havendo perda de controle. Quem mais ele teria irritado? Ao sentar-se à mesa recebeu um bilhete que o mandava subir. Obedeceu, cauteloso. No andar superior, conversou com uma pessoa que, por sua vez, conduziu-o a outra sala. Estava começando a assustar-se. A sala estava escura, e ele não podia ver quem lá estava. Apenas ouvia uma voz que o advertia a não fazer perguntas. A voz o informou de que um grupo, politicamente oposto ao governo vigente, tentava sabotá-lo poluindo criminosamente o rio, o que, além de indispor a simpatia da população contra as autoridades, traria um grande prejuízo econômico à cidade. Falou mais, e o jornalista ouvia, eufórico, entendendo a dimensão do que ouvia. Ao sair do prédio, uma bala atingiu-o pelas costas. Seu corpo, por ali mesmo, desapareceu.

Quarta-feira, 6 de outubro de 1999
O rapaz afrouxava a gravata. Apenas cumprira ordens. O "tal jornalista" bem que havia provocado. É assim. Hoje se obedece; amanhã se manda. Cada um em seu lugar.


Carta ao deputado
Tiago dos Santos Andrade

São Paulo, 28 de novembro de 1999

Caro deputado Inocêncio de Oliveira,

ecidi escrever esta carta para o senhor após ler algumas declarações suas contrárias à criação da Agência Nacional da Água (ANA), idéia que, defendida pelos inúmeros grupos de proteção dos recursos hídricos e do meio ambiente, faz parte de um movimento mundial para melhor gerenciamento das fontes de água doce e seu aproveitamento racional. A oposição movida no Congresso Nacional pelo senhor e por inúmeros de seus colegas parlamentares a um projeto que está conseguindo agregar grande parcela da opinião pública parece advir de uma aliança entre interesses próprios e falta de noção do valor que sempre representa e que, especialmente no próximo século, representará a posse de água.

Um primeiro aspecto que move a oposição à criação da agência é a perda das vantagens que a posse da água sempre lhes garantiu. Em seu caso, por exemplo, a posse da água em sua cidade de origem, em meio ao sertão pernambucano, sempre possibilitou que a divulgação de idéias demagógicas de combate à seca garantisse os votos de sua região e sua cadeira no Congresso Nacional. Outros congressistas, por outro lado, aproveitam-se da falta de controle sobre mananciais de rios para criar projetos de ocupação irregulares, com baixos custos, possibilitando fraudes. Enfim, dentro de uma perspectiva de pequeno alcance, a oposição da qual o senhor faz parte permanece presa à manutenção de antigos privilégios, sem atender a um projeto mundial, algo além da sua visão.

A perspectiva de que se reveste o projeto é mais global, faz parte de uma idéia que valoriza a importância histórica da água e seu poder num mundo em que as reservas de água diminuem constantemente. A posse da água moveu civilizações inteiras no decorrer dos séculos, sempre agregou valores; não só econômicos quanto culturais. Faz parte da cultura egípcia, por exemplo, agradecer aos deuses a posse do Nilo. Trata-se de uma dimensão que seus valores ideológicos podem não perceber, mas que já está movendo uma discussão mundial sobre o gerenciamento dos recursos hídricos. A Agência Nacional da Água (ANA) viria a corroborar essa tendência mundial. Representaria um meio de controlar o uso da água no Brasil, assegurando a punição de indústrias e setores responsáveis pela poluição de rios e pela ocupação indevida de mananciais; a cobrança de taxas sobre grandes usuários de água; uma política de uso racional dos rios na produção de energia elétrica. Além disso, a agência deve zelar pela distribuição eqüitativa da água, tanto em cidades, quanto no meio rural, promovendo até a perfuração de poços artesianos na sua cidade natal, acabando com a falta de água. Não há, também, como esquecer-se de uma campanha de conscientização pública do adequado uso da água. Atrelado ao poder público, a ANA deveria promover, também um panorama de nossos recursos hídricos, para que toda uma política possa se realizar em sua plenitude.

O senhor, portanto, atento à importância da água no mundo de hoje, deve pensar mais cuidadosamente sobre o projeto, algo que nos prepararia melhor para o próximo milênio, um período que reserva, para países que agem, com uma mentalidade como a sua, uma realidade onde a posse da água terá maior valor que a posse do dinheiro, quando as guerras serão promovidas pela posse de rios e mananciais. Espero não estar nesses países. E nem o senhor.

Atenciosamente TSA


Livro reúne redações do Vestibular 2000

A Unicamp acaba de lançar um livro com 30 redações selecionadas entre as melhores do Vestibular 2000, quando o eixo temático foi "água". O objetivo é oferecer uma ferramenta de estudos para os próximos vestibulandos, que assim poderão se familiarizar com a expectativa da banca examinadora quanto ao desenvolvimento dos temas.

Os três textos publicados aqui, nas páginas 14 e 15, estão entre os selecionados para o livro. É uma reprodução fiel das redações originais, incluindo eventuais erros de gramática. Os três textos são também utilizados como exemplos de redação no Caderno de Questões do Vestibular 2001, acompanhados de comentários dos examinadores.

"O espelho d’água" é uma dissertação de Fabiana Bigaton Tonin, de Piracicaba (SP), candidata a uma vaga no curso de letras, que veio de escola particular. O exemplo de texto narrativo é de autoria de Gabriela Abreu Guedes, aluna de escola pública de Campinas, que concorreu a lingüística. E a carta ao deputado, um texto argu-mentativo persuasivo, foi escrita por Tiago dos Santos Andrade, de Indaiatuba (SP), estudante de escola particular que tentou medicina.

O livro está sendo distribuído para as principais livrarias do País e custa R$ 4,00.

Para adquirir o livro

(19) 788-1094 e 788-1097
E-mail
vendas@editora.unicamp.br
Site
www.editora.unicamp.br


© 1994-2000 Universidade Estadual de Campinas
Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP
E-mail:
webmaster@unicamp.br