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Jornal da Unicamp - Outubro de 2000

Páginas 16 e 17

Bill Souza

CENSO

Enigmas decifrados

Pesquisadores do Nepo aguardam números de censo para aprofundar diagnóstico sobre fluxo populacional, deficientes físicos e fecundidade da mulher brasileira

Pesquisadores da Unicamp esperam desatar os nós que emperram um estudo sistemático do movimento interno da população em Campinas. Também acreditam que será possível quantificar o fluxo diário de pessoas nos 19 municípios da recém-criada Região Metropolitana de Campinas (RMC). A esperança dos pesquisadores do Núcleo de Estudos da População (Nepo) está depositada nos resultados do Censo 2000. O levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) começou em agosto e, apesar dos problemas encontrados - como a falta de recenseadores -, deve ser concluído até o final de outubro. Os primeiros dados serão divulgados em dezembro.

Mas não é só isso que anima os estudiosos do Nepo, que têm assento na Comissão Censitária Municipal de Campinas e desempenharam papel fundamental na elaboração do Censo 2000. Novidades incluídas no atual levantamento, o maior da história brasileira, permitirão um diagnóstico aprofundado da condição da pessoa portadora de deficiência no País e da fecundidade da mulher brasileira.

"Pela primeira vez, saberemos quantos são e quais os tipos de deficiência mais comuns no Brasil", diz Daniel Hogan, coordenador do Nepo. "Até agora, tínhamos informações sobre a fecundidade a partir dos 15 anos, o que está fora da nossa realidade. No novo censo, essa pergunta será feita a meninas a partir dos dez anos de idade", fala a pesquisadora Rosana Baeninger, do Nepo. Todas as informações coletadas vão auxiliar na elaboração de políticas sociais que venham a ser adotadas pelos municípios.

Os pesquisadores também fazem um alerta: muito provavelmente, ainda não será desta vez que Campinas atingirá a marca de um milhão de habitantes, para desespero de boa parte da classe política.

Mobilidade pendular – Um dos dados mais esperados pelos pesquisadores é o da mobilidade pendular. Este é o nome técnico dado a um fenômeno conhecido até pelos leigos no assunto: pessoas que moram em uma cidade e trabalham em outra. Todos são capazes de citar pelo menos um exemplo de um amigo ou parente que se encaixa nesta condição. "Campinas recebe diariamente moradores de Sumaré e Hortolândia que trabalham nas empresas aqui instaladas", cita o coordenador associado, José Marcos Pinto da Cunha.

"Sabemos que esse movimento existe, mas não temos como quantificar o fluxo diário de pessoas entre as cidades. Tudo porque foram excluídas do Censo de 91 questões como onde mora e onde trabalha cada cidadão brasileiro. Estas questões faziam parte do Censo de 80", observa Rosana Baeninger. Ela lembra que a mobilidade pendular é um fenômeno típico de regiões metropolitanas, como a de Campinas, e de áreas de fronteira, como a do Paraguai - que também serão estudadas.

Já a redistribuição interna da população permitirá conhecer o perfil das pessoas que engrossam as ocupações de Campinas, como nas áreas do Parque Oziel e do Jardim Monte Cristo. Ou seja: permitirá saber quantos sem-teto são de Campinas e quantos vieram de outras cidades. Também ajudará a detectar as pessoas que se fecham nos condomínios para fugir da violência ou que buscam uma melhor qualidade de vida. "São informações que se complementam", explica a pesquisadora Suzana Cavenaghi, também do Nepo.

Planejamento – Em outras palavras, os pesquisadores resumem o que o Censo 2000 poderá registrar na Região Metropolitana. Campinas provavelmente não atingirá a marca de um milhão de pessoas porque uma parcela considerável da população vai para a periferia da cidade ou busca morar em cidades onde o preço do aluguel é mais barato. Há também aqueles que optam pela "segurança" dos condomínios fechados ou a "tranqüilidade" das pequenas cidades da região, como Valinhos e Vinhedo.

Os dados do IBGE, mais os cruzamentos das informações que serão pesquisados, podem ajudar os agentes públicos a implantar as políticas públicas para cada um dos municípios e para a Região Metropolitana. "Questões como transporte, habitação e saúde devem ser planejadas de forma regional", diz Rosana Baeninger.

De olho no primeiro milhão

O Censo 2000 tira o sono de muitos políticos de Campinas. Eles querem que a cidade supere a marca de um milhão de habitantes. É o dispositivo constitucional que permitirá aumentar de 21 para 33 as cadeiras na Câmara Municipal. Em outras palavras, 12 candidatos que ficaram como suplentes na eleição do último dia 1º terão, em tese, o direito de lutar na Justiça para assumir o cargo a partir de janeiro do próximo ano.

Na verdade, esta é uma briga antiga. Ela começou em 1991, quando foi realizado o último censo no País, e continuou em 96, data da Contagem Populacional realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Na época, dois suplentes de vereador - Biléo Soares (PSDB) e Arly de Lara Romêo (PMDB) - foram à Justiça contestar o resultado final da contagem. Foi tempo perdido. Mas o assunto voltou à tona este ano, a ponto de o presidente da Câmara, Tadeu Marcos Ferreira (PMDB), prometer a transferência do Legislativo "para um prédio mais apropriado" até dezembro.

Mas, possivelmente, não será desta vez que Campinas vai atingir a marca de um milhão de habitantes. A previsão é feita pelos pesquisadores do Nepo (Núcleo de Estudos da População) da Unicamp. Eles tomam como base o crescimento médio da população entre1991 e 1996, que ficou em 1,43%.

"Se a tendência registrada nos cinco primeiros anos da década passada se repetir no quinquênio seguinte, a população da cidade ficará próxima de 963 mil pessoas", diz a pesquisadora Rosana Baeninger. "O movimento pendular explica porque diminuiu o ritmo de crescimento populacional de Campinas ao mesmo tempo em que houve um aumento significativo da população na região", completa. Ela conta que, enquanto Campinas cresceu 1,4% ao ano naquele período, Hortolândia registrou crescimento de 6%.

Um levantamento mais preciso

Uma novidade adotada pelo IBGE no Censo 2000 permitirá mais agilidade e um índice menor de erros na apuração dos dados coletados pelos recenseadores contratados pelo instituto. É que, pela primeira vez, os dados sairão dos dois tipos de formulários usados no levantamento diretamente para os 400 computadores do Centro de Captura de Campinas. Aliás, o centro será responsável pela captura de dados dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Nos censos anteriores, as informações eram digitadas, o que atrasava a conclusão do trabalho, além de aumentar a possibilidade de erros.

Apesar dos problemas na contratação de recenseadores, o IBGE esperava concluir as visitas domiciliares até o final de outubro. A falta de pessoas para trabalhar em campo começou logo no início do Censo 2000. Apenas 20 dos 1.183 recenseadores começaram as visitas domiciliares em 1º de agosto.

Duas semanas depois, o IBGE ainda enfrentava dificuldades para preencher 200 vagas restantes. Os problemas foram sanados no final de agosto. Em todo o País, serão 180 mil recenseadores, que deverão percorrer 42,5 milhões de residências.


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