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1 2 3 45 6 7 8/9 10/11 12/13 14/15 16/17 18 19 20 Jornal da Unicamp - Outubro de 2000 CONFERÊNCIA Frente antiglobalização Em aula
na Unicamp, diretor do Le Monde afirma A globalização espalha pobreza e é preciso combatê-la criando alternativas que priorizem o desenvolvimento humano e o fim da dominação por parte dos mercados financeiros. A afirmação é de Bernard Cassen, presidente na França do movimento Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos (Attac) e diretor-geral do jornal Le Monde Diplomatique. Ele veio ao Brasil para divulgar o Fórum Social Mundial-2001 (FSM), que ocorrerá em janeiro do próximo ano, em Porto Alegre. Cassen visitou a Unicamp no último dia 20, dando a aula inaugural do segundo semestre para os alunos de Economia, no auditório do IE. "O balanço da mundialização é catastrófico", avaliou o jornalista e professor da Universidade de Paris VIII. "Os atores da globalização são os bancos, os fundos de pensão e as grandes empresas multinacionais. Seja na França ou aqui no Brasil, os mercados financeiros governam e decidem", acusou. Bernard Cassem afirmou que o FSM se constitui em um novo espaço internacional de reflexão e organização para quem se contrapõe às políticas neoliberais e aos efeitos nocivos da globalização. O encontro será realizado anualmente, a partir de 2001, sendo o Brasil escolhido para sediar o primeiro Fórum. Em sua aula na Unicamp, o jornalista francês apresentou dados que apontam a existência de 3 bilhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza no mundo, 1 bilhão de sem-teto e mais 1 bilhão sem acesso a água. "Os brasileiros sabem o quanto a pobreza está progredindo", observou. Segundo ele, entre os efeitos nocivos da globalização estão a concentração de riqueza em vários países e o aumento das desigualdades sociais dentro e entre nações. "Na França e nos Estados Unidos existe um aumento da riqueza, mas também da pobreza", comentou. No Reino Unido, um dos berços do liberalismo, o número de pobres duplicou. "Lá são três milhões de crianças trabalhando, embora isso seja proibido", disse. O professor atentou para o conseqüente crescimento da violência, informando que os Estados Unidos possuem 2 milhões de pessoas nas prisões. "O número de detentos é um indicador expressivo, pois mostra o nível de civilização do país. Esses são os resultados da mundialização. Queremos isso?", questionou. Constelação que sustenta o poder Cassen defende um olhar mais humanista para os problemas mundiais. Em meio à "constelação de organizações" que sustentam a globalização, ele citou o bloco dos países mais ricos (G-7), o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). O diretor do Le Monde ressalta que, para essa constelação, acima da democracia estão os mercados financeiros. "Isto significa que a sociedade tem um Estado sem poder. As decisões centrais são tomadas nos grandes centros financeiros e não mais por representantes eleitos. Explica-se dessa forma a perda de legitimidade dos governos", afirmou. Irônico, Cassen disse que somente agora o Banco Mundial descobriu que o modelo vigente, adotado pelas grandes organizações financeiras, produz pobreza. "Só nos últimos meses começaram a aparecer declarações de um mea culpa. Mas é uma confissão que não caiu do céu. É resultado de uma nova etapa de lutas no processo de mundialização", ressalvou. Nesta nova etapa de luta, conforme Cassen, é preciso mais do que dizer não. "Precisamos produzir alternativas que resultem, necessariamente, em conversações entre os países. Não se pode fatiar. Por enquanto ainda somos fatias e não formamos um todo. E este é o grande desafio". Multiplicando contatos Dentro deste contexto, o professor está certo de que o Fórum Social Mundial contribuirá para multiplicar os contatos entre os países e estimular o debate sobre a globalização e a criação de alternativas frente ao modelo vigente. Em sua passagem pelo Brasil na semana passada, ele tinha agendada a participação em eventos em São Paulo e no Rio para difundir as propostas do FSM. O Fórum acontece de 25 a 30 de janeiro do próximo ano. O jornalista e presidente da Attac no Brasil, Antônio Martins, informou que simultaneamente estará ocorrendo em Cavos, na Suíça, o Fórum Econômico Mundial, cujo papel estratégico, desde 1971, vem sendo o de formular o pensamento neoliberal em todo o mundo. O FSM visa se contrapor a este encontro, cuja base organizacional é uma fundação suíça que funciona como consultora da Organização das Nações Unidas (ONU) e é financiada por mais de mil empresas multinacionais. A proposta de criar o Fórum Social Mundial é fruto de mobilizações na Europa contra o Acordo Multilateral de Investimentos (AMI) em 1998, das grandes manifestações de Seattle, durante o encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC) em novembro de 1999, e dos recentes protestos em Washington contra as políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Ataques à política econômica brasileira A passagem de Bernard Cassen pela Unicamp foi marcada por críticas à política econômica executada pelo governo brasileiro. Céptico em relação ao modelo da globalização, o professor francês se diz animado com as reações contra a mundialização da economia, vendo o neoliberalismo começando a entrar em agonia. Na mesma linha de Cassen, o professor do Instituto de Econômia da Unicamp (IE) e debatedor na conferência ocorrida no dia 20, Luiz Gonzaga Belluzzo, fez duros ataques ao governo. Disse que no período da ditadura militar havia maior autonomia para executar a política econômica do que hoje. "Nossa situação estrutural é de muito mais dependência de organismos financeiros como o FMI e o Banco Mundial, em comparação aos países europeus ricos", apontou. De acordo com Belluzzo, os dirigentes atuais restringem a política econômica à administração das taxas de juros e câmbio. "Neste cenário o crescimento será determinado entre o câmbio e os juros", afirmou. O professor disse ainda que no neoliberalismo a censura é mais sutil e privada. "É possível falar sobre tudo, mas a sociedade não é informada de nada", comentou, tecendo críticas ao papel que a imprensa vem exercendo no País, apresentando as turbulências econômicas como inevitáveis. "Não é isso o que ocorre. O que estamos sentindo é que as promessas feitas por esse modelo não estão sendo cumpridas". A iniciativa de trazer Bernard Cassen para a Unicamp partiu do Instituto de Economia (IE). "A visita é muito importante porque mostra aos alunos os contrastes da globalização", disse do diretor do IE, Geraldo Di Giovanni. Na sua avaliação, a globalização provocou o agravamento de grandes problemas como o desemprego e uma pior distribuição de renda, aprofundando os abismos sociais. "A presença de Cassen na Universidade possibilitou disseminar uma visão mais ampliada da economia, que não se restringe aos mercados financeiros, mas a fatores como o trabalho, a agricultura e as fábricas", afirmou Giovanni. Quando e onde
ocorre o Fórum Social Mundial 2001 Como se
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