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ECONOMIA
Efeito
dominó
Pode estar chegando a maior recessão
sincronizada do planeta,alerta Beluzzos
WANDA
JORGE
A
primeira recessão sincronizada no planeta aconteceu em
1974/75 e a segunda em 1982. Provavelmente a maior delas está
a caminho, com a desaceleração econômica
em países da Europa, no Japão e nos Estados Unidos,
e da qual dificilmente o Brasil escapará. A previsão
é do professor Luiz Gonzaga de Mello Beluzzo, do Instituto
de Economia (IE) da Unicamp, que relembrou de forma didática
a história econômica mundial, durante a Cientec
2001 Mostra de Ciência de Tecnologia para o Desenvolvimento,
sediada pela Universidade entre 24 de agosto e 2 de setembro.
De
acordo com o economista, as economias devem crescer para poderem
exportar mais e não o inverso, como o governo brasileiro
sugeriu recentemente. Trata-se de uma falácia de
composição, acusa.
Esta
situação de crise contagiante evidencia a interdependência
dos países e explica o impacto maior nas economias mais
frágeis. Com a primeira grande crise dos anos 70, os
Estados Unidos impuseram o dólar como moeda de referência
para financiamento e reserva de valor e, com a Guerra do Vietnã,
se colocaram no papel de gendarme internacional. No final da
década, a degradação do dólar como
moeda de reserva estável provocou alta das taxas de inflação
nos países da periferia. Em 82, quebrou o México
e, em seguida, o Brasil. Na década de 90 o mundo observou
a supervalorização do dólar e o crescimento
acelerado da economia norte-americana.
Hoje,
Beluzzo identifica uma polarização ainda maior
do papel dos Estados Unidos, que respondem por 30% da demanda
mundial. É como se existisse um sistema americano
de comércio; sua posição de economia dominante
reflete-se diretamente nos países periféricos.
Economias como as da Coréia, Taiwan e Singapura dependem
das exportações para os EUA, que participam com
mais de 25% de suas receitas. Embora o Brasil tenha uma dependência
menor em seu comércio externo com os americanos, se a
economia desacelera lá, afeta outros países que
compram produtos brasileiros.
Origens
da dependência O período clássico
de integração da economia mundial, sob o comando
da Inglaterra e do padrão ouro, foi de 1870 a 1914, quando
os países tinham um comércio mais globalizante
do que hoje. O sistema bancário inglês financiava
o mundo, a Alemanha acelerava seu desenvolvimento industrial
e os Estados Unidos cresciam sua participação
com uma economia agrícola importante e indústrias
em expansão. A inserção do Brasil deu-se
com o café. Luiz Gonzaga Beluzzo lembra que é
nesta fase que se estabelece a concepção de centro
e periferia.
Para
o professor da Unicamp, esses períodos foram marcados
por um comércio dinâmico e ciclos de atividades
bem acentuados. Tais movimentos já afetavam a periferia,
que amortizava o impacto para os países centrais, sofrendo
com a queda dos produtos primários, desemprego e redução
de salários. A Primeira Guerra põe fim a
esta fase e, na reconstrução das posições
anteriores, os países em desenvolvimento não conseguem
recuperar suas colocações antes demarcadas.
Os
anos de 1918 a 1939 podem ser considerados de desajustamento,
com a queda no comércio mundial e recuo na expansão
dos países. Esse período entre guerras provocou
a assimetria nos processos de crescimento, com a Inglaterra
sem expandir, a Alemanha buscando se ajustar e os Estados Unidos
em condição mais favorável. A crise de
29 provocou a paralisação do comércio mundial,
por conta das desvalorizações competitivas que
os países passaram a praticar para proteger suas economias:
o café caiu quase 70%, o que significou um desastre para
o Brasil; e a carne e o trigo, principais produtos exportados
pela Argentina, caíram mais de 40%.
Credores
do mundo Os Estados Unidos saí-ram da Segunda
Guerra como credores do mundo, o que iniciou um ciclo de financiamento
de economias da América Latina, entre outras. Os vencedores
trataram de criar uma nova ordem mundial, agora planejada a
partir das experiências negativas. O acordo de Breton
Woods resulta da crítica das duas décadas anteriores.
Beluzzo ressalta que era preciso evitar o que aconteceu depois
da Primeira Guerra, com a falta de hegemonia e organização
global. Em 44, Inglaterra e EUA saem de Breton Woods dispostos
a exercer o papel de reguladores da economia mundial.
Tratava-se,
então, de recompor as relações comerciais
com pré-condições como taxas fixas de câmbio,
ainda que ajustáveis, e criar organismos que resolvessem
problemas de liquidez de curto prazo para que o país
em crise pudesse rapidamente corrigir suas distorções.
É o momento em que surge o FMI. A expectativa era de
que a estabilidade de câmbio e a maior previsibilidade
impediriam ajustes recessivos nos países. A desvalorização
só seria permitida quando os países apresentassem
problema estrutural. O professor acrescenta que, ao coibir
o movimento de curto prazo dos capitais, a tendência foi
de se agravar a assimetria entre credores e devedores, com a
fuga do risco.
As
indicações de Breton Woods não foram levadas
a cabo em sua totalidade e o FMI, nos últimos anos, fez
ao contrário. A chamada era keynesiana, cuja principal
característica era a política de intervenção
do estado na economia, é considerada por Beluzzo como
um período de maior integração internacional
e comercial, equilíbrio do gasto interno e expansão
do estado de bem-estar que significava, na prática,
distribuição de renda e suporte para evitar a
queda da demanda interna. Até os anos 80, os países
tinham controle da saída de capitais, seja de forma física
ou jurídica. O que vivemos, hoje, é uma situação
de descontrole, e o efeito sobre economias dependentes, como
a brasileira, pode ser perverso, conclui.
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