Congresso mostra força
da iniciação científica
na Unicamp
Décima edição de evento promovido pela Universidade reúne trabalhos de 681 alunos de graduação
MANUEL ALVES FILHO
Uilson Santos da Silva Júnior, 23 anos, cursou o ensino médio em uma escola pública de Hortolândia, cidade que foi praticamente fundida à de Campinas por conta do fenômeno da conurbação. No colégio, quase não teve contato com laboratórios e nem tampouco foi formalmente apresentado ao excitante universo da pesquisa. Ainda assim, a inquietude e a curiosidade pareciam empurrá-lo para esse caminho. Nos dias 25 e 26 de setembro, o agora estudante de graduação da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp participou, juntamente com outros 680 alunos, do X Congresso Interno de Iniciação Científica, que teve lugar no Ginásio Multidisciplinar da Universidade. Uilson, assim como a maioria de seus colegas, está encontrando no ambiente acadêmico campo fértil para cultivar o gosto pela ciência.
O trabalho de Uilson, que teve bolsa do CNPq e do PIBIC, aborda o futebol brasileiro, apresentado pelo jornalismo esportivo impresso de Campinas. O aluno da FEF ouviu dez jornalistas da cidade, que falaram sobre os vários aspectos que envolvem a modalidade e a forma como se relacionam com ela. Este é o segundo projeto de iniciação científica desenvolvido por ele, que já pensa em continuar esmiuçando o tema na pós-graduação. "Na universidade, particularmente na Unicamp, os estudantes são estimulados a pesquisar. Aqui, nós temos estrutura e professores altamente qualificados, o que facilita muito a nossa missão", afirma.
Uilson considera a iniciação científica fundamental para que os alunos aprendam a transformar o conhecimento teórico em prática. "É a porta de entrada para o mestrado e o doutorado. Aliás, muitos trabalhos apresentados no Congresso tinham a mesma qualidade de uma dissertação de mestrado", destaca. Além de proporcionar a oportunidade para que os alunos de graduação mostrem suas pesquisas, diz, o evento também cria um ambiente favorável para que os estudantes entrem em contato com experimentos de outras áreas. "Isso aumenta a nossa bagagem; acrescenta muito", pontifica.
A motivação demonstrada por Uilson é uma resposta positiva ao esforço empreendido Unicamp, conforme destacou o reitor Carlos Henrique de Brito Cruz na cerimônia de abertura do X Congresso de Iniciação Científica. "A Ciência brasileira tem passado por um período de evolução, mesmo com todas as dificuldades, sobretudo de ordem financeira. Por isso a importância de um evento como este, em que se começa cedo a fazer ciência". Para Fernando Costa, titular da pró-reitoria de Pesquisa, que organizou o Congresso ao lado da pró-reitoria de Graduação, esse tipo de iniciativa é fundamental não apenas para identificar futuros cientistas, mas principalmente pelo impacto positivo que ela provoca na pós-graduação em geral.
Segundo ele, a iniciação científica diminui o tempo e melhora a qualidade dos futuros trabalhos. Costa ressaltou, ainda, o resultado altamente benéfico que o evento traz para a formação profissional do estudante. Ele destacou que em 2001 foram concedidas 929 bolsas regulares nesse segmento, sendo 286 PIBIC, 200 SAE, 323 Fapesp e 120 projetos integrados do CNPq. Dos 681 trabalhos expostos no Congresso Interno de Iniciação Científica, 226 eram da área de Tecnológicas, 160 de Biomédicas, 157 de Exatas, 114 de Humanas e 24 de Artes. O professor José Luiz Boldrini, pró-reitor de Graduação, disse que esses números comprovam que, cada vez mais, a pesquisa na graduação tem se destacado dentro da cultura da Unicamp.
Einstein em foco - Aluna do Instituto de Química (IQ), Cristiane Regina Carnelos, 22 anos, também participou do X Congresso de iniciação científica, apresentando um trabalho na área de físico-química, que contou com bolsa do SAE. Ela avaliou a alteração da cor do cabelo, a partir do tratamento térmico feito com produtos à venda no mercado. Ela teve o interesse pela ciência despertado ainda no ensino médio. Na escola particular em que estudava, em São Paulo, Cristiane tinha bons laboratórios de biologia, química e física à sua disposição. Mas foi na universidade, admite, que encontrou o incentivo definitivo para se dedicar à pesquisa.
"A iniciação científica desperta o nosso interesse, aguça a curiosidade. Sempre somos estimulados a saber o motivo de uma determinada coisa acontecer daquele jeito", diz. Admiradora da inteligência de Albert Einstein, Cristiane revela que pretende trabalhar numa indústria assim que se formar, na área de pesquisa e desenvolvimento. Também quer fazer pós-graduação. Em relação ao Congresso de Iniciação Científica, a aluna do IQ afirma que o evento propicia a troca de informações entre os estudantes. "Eu vi painéis muito interessantes. Além disso, acabei aprendendo muita coisa nova. Tomei conhecimento, por exemplo, de um esporte do qual nunca tinha ouvido falar", conta, com a satisfação natural de quem acaba de desvendar mais um mistério.
Até ingressar na Unicamp, a investigação científica nunca havia feito parte da rotina de Pedro Roberto da Silva Neto, 32 anos, aluno de Tecnologia da Construção Civil, oferecido pelo Centro Superior de Educação Tecnológica (Ceset), com campus em Limeira. Embora tenha estudado em escola técnica, que dispunha de bons laboratórios, a paixão pela pesquisa só surgiu recentemente. E de forma definitiva. O trabalho apresentado por Pedro no Congresso, envolvendo técnicas construtivas em obras históricas, foi a sua segunda experiência na iniciação científica. "E já estou trabalhando num terceiro projeto", avisa, acrescentando que pretende fazer mestrado e doutorado.
De acordo com Pedro, a iniciação científica impulsiona o aluno de graduação pelo campo da pesquisa. Ele destaca, porém, que o estímulo dado pela universidade não é suficiente para transformar alguém em cientista. O estudante, afirma, também tem que demonstrar disposição e interesse pela busca de conhecimento. Outro aspecto fundamental, na opinião dele, é que a pesquisa traga algum benefício, aponte alguma solução para um problema concreto. "Pesquisa sem uma finalidade não existe. Isso não é pesquisa, é enrolação. No mínimo, ela tem que trazer contribuição ao menos para o meio científico", pondera. A única crítica que o estudante reserva para a Unicamp refere-se à estrutura do Ceset, que na opinião dele ainda não teria atingido o mesmo grau das unidades instaladas em Campinas. "Nós temos muitos alunos dispostos a desenvolver pesquisas em Limeira, mas que carecem de mais professores doutores para orientá-los", afirma.
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Interesse é crescente
Uma etapa fundamental
Quanto mais cedo, melhor