Agronegócio tem sua lição de casa
Especialistas pregam fortalecimento do setor, que foi responsável por 27% do PIB em 2001
MANUEL ALVES FILHO
A abertura dos mercados agrícolas por parte dos países desenvolvidos, condição indispensável ao enfrentamento do caos social mundial, deverá concretizar, enfim, a profecia segundo a qual o Brasil se transformará no celeiro do mundo. Mas para que isso aconteça, o país terá que trabalhar para fortalecer o agronegócio, setor que em 2001 respondeu por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) e apresentou um superávit da ordem de US$ 19 bilhões na balança comercial. A opinião é de Roberto Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Agrobusiness (Abag), que participou do I Seminário A Universidade e o Agronegócio, realizado no último dia 23 de setembro, no Centro de Convenções da Unicamp. O evento foi promovido pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) e Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori).
De acordo com Rodrigues, a despeito de apresentar uma série de fatores favoráveis, como a disponibilidade de água e de 90 milhões de hectares livres de áreas agricultáveis, o país ainda não fez a lição de casa. "A nossa preparação para esse cenário de abertura comercial, que eu acredito esteja preste a acontecer, não tem sido a ideal", afirma. Conforme o presidente da Abag, o Brasil sofreu um processo de transição marcante. De uma nação fechada, com alto índice de inflação e com um governo intervencionista, assumiu a condição de uma nação "arrombada", com inflação domada e um governo não-intervencionista. Além disso, nos últimos 20 anos, a área plantada praticamente não cresceu. Ainda assim, a produtividade aumentou 60%, graças ao emprego da tecnologia.
O resultado dessa equação, conforme Rodrigues, foi a geração de 2 milhões de desempregados e a quebradeira de 200 mil produtores rurais. A reversão desse quadro dramático, na opinião do presidente da Abag, depende de três condições. A primeira refere-se à definição de políticas públicas, que vão além da criação de linhas de créditos específicas para o segmento. "Nós precisamos de uma política macroeconômica, o que contempla, por exemplo, a execução da reforma tributária", explica. A segunda exigência está na esfera da organização privada. Para o especialista, as entidades representativas do agronegócio precisam superar as divergências e vaidades em favor do objetivo comum, que é transformar o setor em elemento estratégico para o desenvolvimento do país.
A terceira e última condição é a negociação internacional, que deve se dar em bases mais justas que as atuais. "Se os países desenvolvidos querem adotar o protecionismo, que adotem. O que eles não podem fazer é usar o excedente da produção para praticar dumping contra os concorrentes", pondera. Para o vice-reitor e coordenador geral da Unicamp, professor José Tadeu Jorge, as universidades têm papel fundamental no crescimento do agronegócio brasileiro, oferecendo aporte nas áreas da pesquisa, tecnologia e inovação. Ele lembra que a produção nacional de grãos passou, nos últimos 12 anos, de 57 milhões para 100 milhões de toneladas, contra uma expansão de apenas 3% da área plantada.
Isso se deve ao uso da tecnologia, gerada em parte nos laboratórios das universidades. Mas o desafio de assegurar alimento para todas as pessoas ainda não foi vencido. Segundo projeções da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em 2025 o mundo terá 8,3 bilhões de habitantes, que necessitarão de 4 bilhões de toneladas de comida para sobreviver. "Isso mostra que o conhecimento precisará gerar novas soluções que garantam esse volume de alimentos. As universidades têm a missão de ajudar a resolver esse problema. A Unicamp, em particular, está preparada para dar sua parcela de contribuição, pois tem tradição no ensino e na pesquisa de temas relacionados ao agronegócio", afirma Tadeu Jorge.
Segundo ele, diversas unidades de ensino e pesquisa da Universidade, como os Institutos de Economia e Biologia, as Faculdades de Engenharia de Alimentos e de Engenharia Agrícola e os Centros de Biologia Molecular e Engenharia Genética e de Ensino e Pesquisa em Agricultura desenvolvem estudos e experimentos que podem ser úteis ao fortalecimento do agronegócio, iniciativa indispensável para a elevação dos indicadores econômicos e sociais do país. Para se ter uma idéia da importância do setor, basta saber que para cada R$ 1 milhão investido no agronegócio, são gerados 202 empregos diretos. Na construção civil, o mesmo recurso abriria apenas 111 vagas de trabalho.