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Cidade invisível" de V-8 sai do baú
Imagens antigas de Campinas guardadas
por fotógrafo começam a ser estudadas
ROBERTO COSTA
O fotógrafo campineiro Aristides Pedro da Silva, o V-8, nunca manuseou uma câmera digital. Nunca pisou nos extensos corredores do Shopping Dom Pedro, inaugurado em março e que ainda ostenta grandes fotos que ele "achou" em porões e lixos e que vendeu por 42 mil reais, no início do ano, ao Centro de Memória da Unicamp (CMU). Camila, Eduardo, Vanessa, Alessandra e Francine, todos na faixa dos 20 anos e alunos de graduação da Unicamp, poderiam ser bisnetos do fotógrafo que completa 81 anos neste mês. Aristides se emocionou no final do mês passado ao perceber o interesse de cada um deles pelas 4.870 imagens antigas de Campinas já registradas pelo CMU. A pesquisa sobre as fotografias da "Coleção V-8" começa a ser feita a partir de cinco trabalhos de iniciação científica, financiados pelo Pibic/CNPq.
Vanessa Aparecida Teixeira Proença está no quarto ano de história. Pretende, a partir das fotografias da demolição da Igreja do Rosário, detectar vestígios da construção original e das intervenções realizadas ao longo dos anos na Igreja, e como isso se deu dentro do plano de melhoramentos do urbanista Prestes Maia. Para isso conta com a orientação do professor Marcos Tognon, do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Eduardo Costa, da primeira turma do curso de Arquitetura da Unicamp, pretende identificar nas imagens alguns momentos de rupturas ocorridos no processo de urbanização de Campinas. Para isso conta com a orientação da professora Cristina Meneguello, coordenadora de graduação do curso de História.
Alessandra de Falco cursa Letras na Unicamp e Jornalismo na PUC-Campinas. A junção disso a levou a recuperar, a partir das fotografias do Mercado Municipal de Campinas, o espaço de vivências do estabelecimento. Conta com a orientação da professora Olga von Simson, diretora do CMU e do jornalista Amarildo Carnicel, seu professor na PUC e pesquisador do Centro. Outra demolição que ainda está na memória dos campineiros, a do Teatro Municipal "Carlos Gomes", ocorrida em 1965, inspirou Francine Trevisan, outra futura arquiteta. Relacionar a fotografia com a arquitetura e pesquisar a história do teatro estão entre seus objetivos, com a orientação do professor André Argollo, da Faculdade de Engenharia Civil.
Por fim, Camila Antonino Pinto, do quarto ano de Ciências Sociais, pretende ver nas fotos de V-8 a noção de coleção e antigo. Para isso conta com o apoio da professora Iara Lis, especialista em imagem e cultura, professora do Departamento de Multimeios do Instituto de Artes.
Olga von Simson, que trabalhou pela vinda do acervo de V-8 para a Unicamp, assim como outros professores que orientam as pesquisas, acredita que muitos dos trabalhos de graduação podem se transformar em dissertações de mestrado em breve. A catalogação e indexação da coleção pode ainda demorar, de acordo com Cássia Denise Gonçalves, responsável pela área de documentação iconográfica do CMU. Denise tem se debruçado sobre as quase cinco mil fotos e cuida de cada detalhe para que os alunos da Unicamp façam suas pesquisas. É ela quem faz os contatos com V-8. O trabalho precisa ser rápido. O fotógrafo já não tem a mesma agilidade e memória dos tempos em que ficava horas na frente de uma demolição à cata de um ângulo diferente ou nos campos de futebol em que Pelé era sempre seu foco. Aristides não tem uma digital mas guarda com carinho a velha Pentax 6x7...