Integrado à paisagem
MARIA ALICE DA CRUZ
O biokreto, uma mistura de cimento com casca de arroz, bambu, sisal ou partículas de eucalipto, já faz parte do cotidiano de estudantes, professores e funcionários da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. O concreto, que substitui a brita por partículas vegetais, está em floreiras, casebres, quiosque, canal de irrigação, telhas impermeáveis e até mesmo do chão ao teto do pavimento onde funciona um campo experimental. O objetivo do projeto é estimular o reaproveitamento de resíduos naturais na construção rural. O concreto está presente também em paredes construídas com blocos de cimento.
Segundo o professor Antonio Ludovico Beraldo, responsável pelo Departamento e Construções Rurais e pelo Laboratório de Ensaios de Materiais e Estruturas da Feagri, desde 1994 alunos e professores realizam estudos para fornecer informações básicas para a fabricação do biokreto e para propor técnicas simples e eficientes que permitam obter a compatibilidade química entre a biomassa vegetal e a matriz, constituída de pasta ou argamassa de cimento Portland.
As experiências realizadas na Feagri comprovam que o biokreto apresenta algumas vantagens em comparação com o concreto comum. A primeira delas, é a questão econômica. A matéria-prima é natural, portanto, disponível. "É vantajoso, se o construtor morar próximo à fonte do recurso, mas se depender de transporte é inviável", avalia. No Brasil são produzidas 2, 2 milhões de toneladas de casca de arroz ao ano. Se o material fosse revertido para a construção de galpões ou até mesmo para auxiliar em autoconstrução geraria economia tanto a produtores quanto a trabalhadores rurais.
Por apresentar de 25% a 50% do peso do concreto comum, o biokreto pode garantir maior resistência ao fogo e servir como isolante térmico e acústico. A alcalinidade do cimento, segundo Beraldo, protege as partículas vegetais contra o ataque de fungos e insetos. Além disso, o material é fácil de ser moldado, cortado, parafusado e pregado.
O professor Beraldo auxilia um projeto de uma cooperativa do município de Valente, na Bahia, investigando a viabilidade do uso de sisal natural em produção de biokreto. "Os cooperados dedicam-se à fabricação de bolsas e tapetes e querem reaproveitar o sisal descartado após a confecção dos artigos", explica. Até o momento, ele constatou que o sisal é incompatível ao cimento e teria de ser cozido ou mergulhado por algum tempo em água com cal de pintura.
A calçada da casa do professor Beraldo também foi um experimento bem-sucedido com as partículas vegetais. Em Paulínia, um morador do bairro Monte Alegre IV revestiu o chão do quintal e construiu o muro de sua casa com o biokreto.
O professor ressalta que não há inovação em seus estudos, apenas um esforço para garantir o melhoramento do material, de acordo com a aplicação desejada.